62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
Laboratório de alfabetização: O PROCESSO DE PRODUÇÃO TEXTUAL POR APRENDIZES DA ESCRITA E AS INTERFERÊNCIAS DOS BILHETES ORIENTADORES DOS PROFESSORES NA CONSTRUÇÃO DO SENTIDO
Suzana Lima Vargas 2
Aida do Amaral Antunes 1
Andreza de Souza Fernandes 1
Heloana Cardoso 1
Josiane Silveira Coimbra 1
1. Depto. de Educação, Fac. de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Educação - UFJF
INTRODUÇÃO:

O Projeto Laboratório de Alfabetização, em desenvolvimento no NUPEL (Núcleo de Pesquisa e Ensino em Linguagem), da Faculdade de Educação da UFJF, visa ao aprendizado da leitura e da escrita, de alunos de escolas públicas com histórico de fracasso escolar, a partir do ensino dos gêneros textuais (MARCUSCHI, 2005; ROJO, 2000).

Os atendimentos pedagógicos do Laboratório de Alfabetização (LABOALFA) são organizados em torno de sequências didáticas (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004), ou seja, um conjunto de atividades pedagógicas sistematizadas, tendo como finalidade o domínio do gênero pelo aluno e o desenvolvimento de suas capacidades de linguagem.

 Nessa interface entre o ensino, a pesquisa e a extensão, situa-se a investigação "Processos de escrita, revisão e reescrita de textos por alunos do ensino fundamental", cujo objetivo é investigar as operações linguísticas e epilinguísticas realizadas nos diferentes momentos da produção textual. 

Os objetivos do pôster são:

- discutir os processos de planejamento, escrita, revisão e reescrita construídos durante a produção de textos narrativos elaborados por alunos do quinto ano do ensino fundamental;

- analisar o papel dos bilhetes orientadores das professoras no processo de revisão textual.

METODOLOGIA:

O corpus da pesquisa foi constituído por 31 horas de gravações em vídeo, 05 diários das professoras-bolsistas e 145 produções textuais elaboradas pelos alunos nos atendimentos pedagógicos do LABOALFA, realizados em dois encontros semanais, de 90 min cada.

Para a presente análise, optou-se por um conjunto de oito produções textuais, elaboradas no 2° semestre de 2009, por 04 crianças na faixa etária de 10 a 12 anos, matriculadas no 5° ano do ensino fundamental de uma escola municipal situada no entorno da UFJF.

A perspectiva metodológica da pesquisa está relacionada tanto ao paradigma indiciário (GinzburG, 1989), quanto aos procedimentos da crítica genética (SALLES, 2000; GRÉSILLON, 1994).

 O paradigma indiciário é um modelo epistemológico fundado no detalhe, no episódico, em que a atenção do investigador deve voltar-se para a observação do idiossincrático, do singular, de tal maneira que formule hipóteses explicativas interessantes a respeito de uma realidade complexa, não experienciável diretamente.

 A crítica genética, segundo GRÉSILLON (1994), constrói hipóteses sobre a gênese de uma escritura com a identificação de rasuras, acréscimos e elaborações de conjecturas sobre as operações mentais subjacentes à produção textual.

RESULTADOS:

 

A análise indiciária dos traços deixados pelos alunos nas produções textuais revelou que eles preocupavam-se em realizar substituições e inclusões de elementos que contribuíssem para a resolução de problemas ortográficos ou morfossintáticos, com menos reflexão semântica.

Os bilhetes orientadores das professoras, elaborados após suas leituras e análises textuais, mostram-se excelentes instrumentos para promover a reflexão crítica das crianças em torno de seus próprios escritos, proporcionando, assim, a construção de novos conhecimentos sobre as regras de organização interna da escrita.

Os processos interlocutivos entre as professoras e os alunos a respeito dos pontos mais nebulosos do texto foram decisivos na atividade de reescrita, já que, como alertava Bakhtin (2000), a interação verbal constitui realidade fundamental na língua. Segundo o autor, a experiência verbal do sujeito evolui sob o efeito da interação contínua e permanente com os enunciados alheios, acontecimento demonstrado na análise das produções escritas das crianças.

CONCLUSÃO:

O rascunho e as versões de um texto trazem marcas de reelaboração que se constituem em espaço privilegiado para a observação do modo como as crianças manipulavam a linguagem, com vários motivos, em diferentes momentos (no planejamento, durante a escrita, após a releitura e a reescrita). Essa concepção de reescrita é fundamental nas situações de ensino porque permite modificar as representações dos sujeitos sobre a escrita e, com reflexões pontuais, definir o que precisa ser melhorado nos textos. Possibilita ainda que as professoras analisem os processos individuais e compreendam as crianças em suas trajetórias de aprendizagem.

Os alunos atendidos no LABOALFA não apenas escutaram e "acataram" os comentários e os bilhetes das professoras, mas compreenderam a necessidade de reavaliarem suas produções escritas, refletindo sobre elas para realizar as mudanças necessárias. Recuperamos, novamente, a teoria bakhtiniana, quando esta explicita que todo autor responde a algo, retoma enunciados, concorda com algo ou refuta enunciados anteriores.

Defendemos a construção de modelos didáticos que possibilitem a manifestação da criança, para que deixe de ser aquele que só ouve em silêncio, e se torne um sujeito que age, que também ouve, e recria-se pela incorporação dos outros, polifonicamente.

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais -FAPEMIG - Processo: SHA APQ 00320/08
Palavras-chave: Escola pública, Produção textual, Bilhete do professor.