62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 3. Recursos Pesqueiros de Águas Interiores
ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO DE PESCADOR DE VÁRZEA NO ESTADO DO PARÁ
Oriana Almeida 1
Sérgio Rivero 2
Natan Vogt 3
Luiz Augusto Mascarenhas Leite 4
1. NAEA-UFPA
2. Departamento de Economia - CEPEC-UFPA
3. Indiana University
4. Departamento de Matemática - UFPE
INTRODUÇÃO:
Os empregos gerados no setor da pesca especialmente associados à região de várzea e a população tradicional na Amazônia, regra geral, estão pouco representados dentro dos setores formais ou das estatísticas formais do governo ficando numa zona invisível aos olhos das análises setoriais. Em geral estimativas de população de pescador tem sido feita com base em estudos pontuais sobre densidade de pescadores (Almeida et al. 2006; Almeida et al. 2003; Bayley e Petrere, 1989). No estudo de Almeida et al. (2008) a estimativa de população para o estado do Pará foi feita com base na população do setor censitário do IBGE de 2000 associado a um mapa georreferenciado e um mapa de solos de várzea do estado. Como os setores censitários não correspondem totalmente à área de várzea foram considerados como área de várzea os setores censitários que possuíssem pelo menos 10% de área de várzea não considerando as áreas urbanas. O objetivo desse trabalho é estimar a população de pescadores do Baixo Tocantins utilizando a base de dados dos setores censitários em formato digital de 2000 e o mapa da região de várzea.
METODOLOGIA:
Foram analisados mapas digitais da várzea e censos demográficos com maior resolução disponível no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A extensão da várzea do Pará foi definida a partir de um mapa geológico de 2003, numa escala de 1:250.000. Os dados correspondentes do censo foram obtidos a partir do censo demográfico do IBGE 2000 para os setores censitários, ou seja, para a menor unidade administrativa disponível.Três classes da litologia Holocênica derivadas do mapa geológico foram escolhidas para delinear a várzea paraense com populações ribeirinhas. As classes litológicas do IBGE usadas nesse estudo, e reconhecidamente ocupadas por populações ribeirinhas, são: Aluviões Holocênicos (QHa), Aluviões Fluviolacustres Holocênicos (QHfl) e Terraços Holocênicos (QHt). Ferramentas do Sistema de Informação Geográfica (SIG) foram usadas para extrair os setores do censo demográfico de 2000 que correspondem às áreas de várzea para o Pará o que extraiu todos os setores que têm várzea dentro de seus limites (entre 1 e 100). Pela observação visual e comparação dos mapas, todos os setores com 10% ou mais de várzea dentro de seus limites foram escolhidos pois parecem ser os que conseguem capturar toda a população ribeirinha da várzea paraense.
RESULTADOS:
A população da região da várzea da região do Pará foi estimada de 139.742 pessoas o que representa mais que 23.000 famílias para o ano 2000. O município que apresenta o maior número de famílias e população de várzea é o município de Cametá com 43 mil pessoas e um total de 6.716 famílias seguido do município de Abaetetuba, Igarapé-Miri e Limoeiro do Ajuru com população de várzea variando entre 38 mil e 20 mil. Caso seja estimado um pescador por família estima-se que haja 23 mil pescadores nessa região. Essa base de dados da população dos setores censitários também permite saber a renda da população comparando a renda da várzea (baseada principalmente no extrativismo) com a renda do resto do Estado. A renda dessa população dos municípios é, em média, de R$2.199 por ano por família (para ano 2000). Os municípios da região apresentam uma renda similar variando entre R$1.816 a R$2.831. Barcarena, Abaetetuba e Cametá possuem renda significativamente maior para o estado do que para a região de várzea. Os municípios Mocajuba, Cametá e Abaetetuba apresentam a menor renda média da região.
CONCLUSÃO:
Esta análise forneceu os primeiros dados consistentes de estimativa de população de várzea. Baseado em uma estimativa conservadora de 1 pescador por família existem, portanto, possivelmente mais de 23 mil pescadores na região, para uma população total (somados todos os municípios) de 140 mil pessoas. Em média essa população de várzea representa 25% da população total, mas alguns municípios como Limoeiro do Ajuru e Cametá apresentam uma proporção bem maior (81% e 44%, respectivamente). Inúmeras tentativas de estimativa de pescadores e de população da várzea haviam sido feitas, mas com métodos que podem gerar erros bastante grande. Estimativas mais populares do passado (Bayley e Petrere 1989) foram feitas com base no número de pescadores por km2 a partir de uma região do Peru e expandida para toda a Amazônia. Almeida (2006) utilizou duas densidades de pescadores, um para o estado do Amazonas e outro para o estado do Pará, e com essas duas densidades estimou número de pescadores para a calha amazonas Solimões. Utilizando-se dados do IBGE agora disponíveis em meio digital e com formas alternativas de estimar área de várzea, há como se chegar numa estimativa mais robusta metodologicamente que as versões anteriores.
Instituição de Fomento: SEPAQ, FAPESPA, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico-CNPQ
Palavras-chave: População, Várzea, Pesca na Amazônia.