62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
O FILÉ COMO PRÁTICA CULTURAL: AS PERSPECTIVAS DE PRODUTORES E TURISTAS
Miguel Pereira Barros 1
Henrique Jorge Simões Bezerra 1
1. Universidade Federal de Alagoas
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa faz uma análise referente às práticas culturais desenvolvidas dentro da região do Pontal da Barra, situada na cidade de Maceió, no estado de Alagoas, relacionados aos artefatos produzidos a partir do artesanato de renda, destacando o filé. Filé, renda originalmente portuguesa, caracteriza-se na região por possui um aspecto intergeracional, sendo uma tradição passada de mãe para filha, e um aspecto cultural, na medida em que foi constituída como tradição a partir de uma divisão de atividades, já que o homem ia pescar, enquanto a mulher ficava em casa buscando uma atividade, iniciando assim o cultivo do filé. Esta atividade ganhou importância, na medida em que começou a gerar renda, deixando de ser somente uma ocupação e se transformando em um meio de trabalho. Focando nestes aspectos, buscamos analisar as perspectivas das pessoas que estão neste meio, produtores e turistas, e saber o que pensam e como agem diante destes artefatos.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada durante o final do mês de novembro e o começo de dezembro. Contou com a participação de cinco pessoas, sendo três produtores e dois turistas. A metodologia utilizada foi a da pesquisa participante, tendo como instrumento para a construção de dados: entrevistas semi-estruturadas e observações participantes, utilizando como registro a elaboração de diários de campo. Primeiramente foi feito um contato com o líder local representado pelo diretor da associação dos artesãos do bairro do Pontal para explicar como seria feita a pesquisa. Em seguida solicitamos indicações de produtores dispostos a colaborar com a pesquisa. A partir disto, começamos a fazer observações participativas acompanhando a rotina durante 3 dias da semana, no período de 14h30m às 18h, quando acontecia a maior movimentação na região, conforme havia dito o diretor, pelo período de 3 semanas. Nesta etapa buscamos conhecer a rotina do comércio na região, seus protagonistas, produtores e turistas, e como funcionava a dinâmica entre eles durante esta época. Na segunda etapa, já familiarizados com os produtores e com o ambiente local, realizamos entrevistas com produtores e turistas. Foram feitas cinco entrevistas semi-estruturadas, sendo três com produtores e duas com turistas.
RESULTADOS:
Os resultados apresentados foram divididos em dois tipos diferentes de análises: sentidos e significados. Nas categorias relacionadas aos sentidos constituímos as sensações que as pessoas tinham ao conviver com o filé, ver e adquirir tal material. Aos produtores, os sentidos foram: alegria, amadurecimento e frustração. Aos turistas: felicidade, curiosidade, admiração e propagação. Já no correspondente à análise dos significados fizemos o uso da construção de categorias tendo como norteadores temas que emergiam no meio pesquisado. Que foram: produção-comércio, analisando as relações que são estabelecidas entre produtores no ambiente de venda, quais estratégias utilizam, e dos turistas na compra dos produtos; artefatos/ tempo/ comércio - fazendo uma leitura das transformações que o filé teve ao longo do tempo e como isso afetou os seus produtores; artesãos/ associados/ produtores - estudando as estruturas e os papéis que as pessoas que vivem neste meio podem assumir, e quais as diferenças entre eles; por fim, arte/artesanato/trabalho- trazendo as diferentes definições que o filé adquire, quais os seus efeitos e como é refletido na realidade em que se encontra.
CONCLUSÃO:
Concluímos que o filé encontra-se num meio caracterizado por conflitos constantes entre os seus criadores, causados principalmente por competições entre si e pela desconfiança entre eles. Isso acaba refletido no isolamento e fragilidade que permitem a manipulação e influência de pessoas fora da sua realidade, como guias e taxistas, que se utilizam disso para gerarem lucros para si próprios. Sugerimos como alternativas a fugir desta realidade, a mobilização e conscientização dos produtores a agir como membros pertencentes à uma comunidade, começando a fazer reuniões que venham a trazer propostas e discussões de mudanças, permitindo assim a participação de todos e a emergência de chances de transformar o ambiente ao seu redor.
Palavras-chave: Artesanato, Prática cultural, Produção de sentido.