62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
AS CONSEQUÊNCIAS SÓCIO-AMBIENTAIS DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO NO QUADRADO MÁGICO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ)
Felipe Medeiros Alvarenga 1
Marcos Antonio Pedlowski 2
1. Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico - CCH - UENF
2. Prof. Dr./Orientador - Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico - CCH - UENF
INTRODUÇÃO:
Apesar de sua grande complexidade, o espaço urbano ainda apresenta peculiaridades e especificidades que instigam pesquisadores e profissionais em busca da melhor compreensão de sua dinâmica. O urbano, ao mesmo tempo fragmentado e articulado (Correa, 1995), pode ser caracterizado como a principal forma de expressão do modo de produção capitalista e de sua sociedade de classes. Em função desta natureza reflexiva, o espaço urbano é formado a partir de diferentes mecanismos e múltiplos agentes formadores, os quais possuem interesses muitas vezes conflitantes. O processo de verticalização insere-se em tal contexto de produção social do espaço, onde ocorrem fortes impactos e prejuízos para os segmentos mais pobres da população e para os sistemas naturais. A área escolhida para o presente estudo, a região central da cidade de Campos, o "Quadrado Mágico", tem sido o foco de um crescente processo de verticalização, iniciado no começo da década 80 do Século XX, que acabou implicando num forte adensamento populacional. Em função disto, essa área se tornou ponto de atração de recursos privados e estatais. Assim, o objetivo principal deste estudo foi analisar os impactos da concentração de investimentos na área do Quadrado Mágico, e os possíveis efeitos sobre as áreas periféricas da cidade.
METODOLOGIA:
Na coleta de dados foram utilizados formulários visando obter dados sobre variáveis sociais e ambientais. Entre as variáveis incluídas no levantamento para aferir a qualidade ambiental da região do Quadrado Mágico estavam: o número de árvores em espaços públicos, área disponível para o crescimento arbóreo, tamanho e porte das árvores. Além dos dados sobre arborização pública, também foram coletadas informações em todas as ruas que compõem o Quadrado Mágico, para determinar os tipos de usos do solo, o número de edifícios, o número de andares e a aparência de suas entradas principais. Além disso, foi identificado o número de edifícios ainda em construção e o número de pavimentos destinados a alojar novas unidades domiciliares. Finalmente, uma série de moradores pré-processo de verticalização foi entrevistada, de modo a obter uma narrativa histórica acerca dos impactos do processo de verticalização sobre a qualidade de vida dentro do Quadrado Mágico.
RESULTADOS:
Os resultados deste estudo confirmam que a região do Quadrado Mágico passou por um profundo processo de adensamento populacional nos últimos 30 anos, mas que se acelerou a partir do início da presente década. Numa relação causa-consequência, a oferta de serviços naquela área cresceu significativamente não apenas como reflexo do aumento do número de moradores, mas também por causa do alto nível de renda dos novos habitantes do Quadrado Mágico. Na contramão deste processo, os resultados mostram que o crescimento da região do Quadrado Mágico não levou em consideração a questão da qualidade ambiental, visto que inexistem áreas verdes e as árvores existentes se encontram em número reduzido e sob grande estresse, devido principalmente às práticas de poda drásticas e inexistência de área de crescimento. Além disso, o trabalho de campo forneceu evidências de que existem sérios problemas de infra-estrutura, principalmente no que se refere ao escoamento da água das chuvas, aumento do calor e diminuição da circulação de ar pela concentração de altos edifícios, e ainda com altos níveis de poluição e ruído em função do alto nível de trafego de veículos.
CONCLUSÃO:
Os resultados obtidos por este estudo demonstram que o processo de verticalização na cidade de Campos não foi acompanhado por medidas que garantissem sua sustentabilidade socioambiental. Apesar deste processo de verticalização estar sendo garantido pelos segmentos mais ricos da população, a falta de planejamento urbano implicou na ausência de medidas de mitigação que pudessem suavizar os problemas associados ao adensamento populacional. Finalmente, este modelo de crescimento urbano também implicou na concentração de recursos públicos numa área habitada pelas classes mais abastadas, o que terminou aumentando o processo de segregação sócio-espacial, visto que o acesso àquela região tornou-se bastante difícil para os segmentos da população que possuem menor renda e vivem em áreas distantes, as quais são normalmente desprovidas de infra-estrutura e oferta de serviços.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPQ / Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBC / UENF
Palavras-chave: Verticalização, Arborização, Campos dos Goytacazes.