62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À SAÚDE DA CRIANÇA DE ZERO A UM ANO: APREENSÕES E REPERCUSSÕES DE UM MODELO DE ATENÇÃO LOCO-REGIONAL.
Ana Carolina Lima Cirino 1
1. Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul/ESP-RS
INTRODUÇÃO:
Dentre vários aspectos de saúde da criança, a alimentação e a nutrição adequadas são requisitos essenciais ao crescimento e desenvolvimento ótimos, especialmente nos primeiros anos de vida. Mais do que isso, são direitos humanos fundamentais, pois representam a base da própria vida (Del Ciampo e Saunder, 2000; Brasil, 2002). Práticas Adequadas de Alimentação Infantil fornecem quantidade e qualidade adequada de alimentos, protegem vias aéreas contra aspiração de substâncias estranhas e não excedem a capacidade funcional gastrintestinal e renal das crianças. Compreendem, ainda, a prática do aleitamento materno e a introdução, em tempo oportuno, de alimentos apropriados que o complementam (OMS, 1998). Tais práticas envolvem complexos fatores sócio-econômicos e culturais, interferem no estado nutricional e podem gerar distúrbios nutricionais e hábitos alimentares distorcidos que se perpetuarão na fase adulta (Simon e Souza, 2003). O acompanhamento das práticas de alimentação infantil, objetivo deste estudo, orientará o planejamento e a avaliação das ações de incentivo à alimentação saudável na UBS (Unidade Básica de Saúde) VI, integrante de um conjunto de pólos de formação para o programa de pós-graduação Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul.
METODOLOGIA:
Para avaliar a inserção do nutricionista em um modelo tecnoassistencial local de atenção primária à saúde, entre junho e dezembro de 2009, os dados obtidos, por meio de anamnese, antropometria e aplicação de planilha durante as consultas, foram duplamente digitados para meio eletrônico e submetidos a uma análise estatística descritiva através do software "Excel 2007". O modelo, adaptado pela equipe, engloba o dispositivo da interconsulta e da discussão de caso para operacionalização do "Prá-nenê" - Programa Municipal de Vigilância da Saúde das Crianças no Primeiro Ano de Vida - na assistência à vila São Miguel (Porto Alegre-RS), com 11.491 habitantes (IBGE, 2000). A partir de um fluxograma, cada área profissional responde por um número mínimo de consultas de rotina, obedecendo à seguinte seqüência: até 15 dias de vida, Enfermagem; 1o e 2o mês, Medicina; 3o, Nutrição; 4o, Medicina; 5o, Nutrição; 6o, Medicina; 7o, Odontologia; 8o, Medicina; 9o, Nutrição; 10o e 11o, Medicina; 12o, Enfermagem. Esta conformação foi norteada pelo Protocolo de Atenção à Saúde da Criança de 0 a 5 anos (Ministério da Saúde/Brasil, 2004), pela publicação "Prá-saber: informações de interesse à saúde" (Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, 2001) e pela carga horária dos profissionais envolvidos.
RESULTADOS:
Foram analisadas informações provenientes de 52 crianças, as quais 38,5% eram do sexo feminino e 61,5%, do sexo masculino. Em média, as crianças apresentavam 5 meses de idade na primeira consulta e foram atendidas pelo nutricionista 1,4 vezes ao longo das 73 consultas realizadas, com mediana (med) = 1 consulta e desvio padrão (dp) = 0,7. As medidas antropométricas ao nascer: peso = 3203,8 g (n=49; med=3120g; dp=382,4g); comprimento = 48 cm (n=49; med=48cm; dp=1,9cm); e perímetro cefálico=34,2cm (n= 37; med=34cm; dp=1,5cm), quando comparadas à idade gestacional = 38,9 semanas (n=35; med=38 semanas; dp=1,9 semanas), indicavam estado de eutrofia infantil para uma gestação a termo (Brasil, 2005). Segundo classificação da Organização Mundial de Saúde (2007), verificou-se que 18,4% das crianças estavam em Aleitamento Materno (AM) exclusivo; 13,3%, em AM predominante; 11,7%, em AM complementado; 38,3%, AM misto/parcial; e 18,3% recebiam outro tipo de leite. Dos 37 itens sobre alimentação complementar investigados junto às mães/cuidadores, constatou-se que a água era o item introduzido com maior prevalência, seguido de fruta amassada/raspada, chá, verduras/legumes, suco de fruta natural, iogurte, caldo de grãos/leguminosas, farináceos simples, farináceos enriquecidos e sopa.
CONCLUSÃO:
Se, em parte, os resultados encontram concordância com o apontamento das pesquisas atuais sobre amamentação e alimentação complementar, em parte também revelam um cenário distinto no padrão alimentar das crianças aqui acompanhadas, na medida em que se observa, entre as mães e cuidadores, uma preferencial oferta de alimentos naturais às crianças, ainda que em idades inoportunas. Outrossim, possivelmente os resultados são decorrentes da postura consensual sobre o papel decisivo das práticas de alimentação na saúde da criança e do processo de trabalho transdisciplinar desenvolvido na UBS. No entanto, é sabido que os "Dez Passos da Alimentação Saudável para Crianças Menores de Dois Anos" está em fase inicial de implantação e que as equipes de saúde sentem dificuldade em transpô-los, de forma culturalmente aceitável, para as mães, os cuidadores e a comunidade. Assim, os resultados evidenciam a necessidade de articular o apoio matricial do nutricionista e a implantação da "Estratégia Nacional de Promoção da Alimentação Saudável" na rede de atenção primária, de forma a facilitar e apoiar as ações de alimentação e nutrição frente às necessidades do público infantil.
Palavras-chave: saúde da criança, alimentação complementar, atenção primária à saúde.