62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia
MENSURAÇÃO DO TRANSPORTE MUCOCILIAR EM TRAQUÉIAS DE COBAIAS TIREOIDECTOMIZADAS QUIMICAMENTE SENSIBILIZADAS E DESAFIADAS A OVOALBUMINA
Thiago Brasileiro de Vasconcelos 1
Klévia Ribeiro de Andrade 1
Cássio Fortes de Castro 2
Cristiano Teles de Sousa 1
Teresa Maria da Silva Câmara 1
Vasco Pinheiro Diógenes Bastos 1
1. Faculdade Integrada do Ceará
2. Laboratório Pasteur Fortaleza/CE
INTRODUÇÃO:

Os pulmões constituem uma grande superfície epitelial que está em contato direto com o ar ambiente. Por isso, sempre correm o risco de estar exposto a patógenos ou a substâncias potencialmente danosas. Várias doenças e/ou a exposição a poluentes estão relacionadas ao mal funcionamento do transporte mucociliar, a saber: asma, fibrose cística, doença pulmonar obstrutiva crônica, discinesia ciliar primaria e algumas síndromes. A hiperatividade da tireóide, clinicamente denominada hipertireoidismo, tem sido correlacionada com uma exacerbação do quadro de asma. Esse fato provavelmente deve estar ligado a uma superprodução de imunoglobulina E (IgE) ou de ânion superóxido nos macrófagos e neutrófilos. O objetivo do presente estudo é mensurar o transporte mucociliar em traquéias de cobaias tireoidectomizadas sensibilizadas e desafiadas a ovoalbumina, detectar eventuais alterações in-vitro em traquéias isoladas de cobaias tireoidectomizadas quimicamente e sensibilizadas/desafiadas a ovoalbumina, bem como correlacionar as alterações no transporte mucociliar de traquéias de cobaias e comparar as prováveis alterações no transporte mucociliar dos animais sensibilizados/desafiados submetidos a tireoidectomia química com o grupo de animais apenas sensibilizados e desafiados a ovoalbumina.

METODOLOGIA:

Foram utilizados cobaias machos tireoidectomizados quimicamente por meio da administração de propiltiouracil (0,05%) na água bebida por 6 semanas. Os animais foram sensibilizados ativamente por meio de injeções intraperitoneais de ovoalbumina, sendo utilizados 21 a 50 dias após a sensibilização. No grupo desafiado aconteceram duas sessões seqüências de inalação de ovoalbumina de 15 minutos cada (1 e 5 mg/ml) 24 horas antes dos experimentos. Para tal, os cobaias foram colocados em uma caixa de acrílico. Nas porções laterais existiam dois orifícios: um para acoplar o nebulizador e o outro para evitar a reinalação do ar expirado. Os animais controle foram submetidos ao mesmo protocolo de sensibilização e desafio tendo apenas solução salina (NaCl 0,9%) como substância. Os animais foram anestesiados com hidrato de cloral a 40% (1ml/kg) para o início do experimento (24 horas) após o processo de sensibilização/desafio antigênico. Após a anestesia os animais foram fixados em decúbito dorsal, injetados 2µl de uma solução gelatinosa a 0,3g/ml contendo 0,5% do corante azul de Evans na traquéia do animal e após 2 minutos, a traquéia foi aberta e medido o transporte mucociliar com um paquímetro. Probabilidades menores que 0,05 serão aceitas como indicativas de significância estatística.

RESULTADOS:

Na análise dos valores de T3 e T4, hormônios tireoideanos, foi verificado inicialmente que esses valores eram de: T3 = 1,16 ± 0,07 nmol/l e de T4 = 28,40 ± 3,24 nmol/l, e após o processo de tireoidectomia química, esses hormônios apresentaram os seguintes valores: T3 = 0,93 ± 0,04 nmol/l e T4 = 18,69 ± 1,11 nmol/l, ocorreu uma redução significativa (p < 0,05; teste t de Student) nos valores de T4 confirmando o estado hipotireóideo. No grupo controle os cobaias naive obtiveram um transporte mucociliar de 0,68 ± 0,07 cm, sensibilizado de 0,72 ± 0,12 cm e desafiado de 0,26 ± 0,06 cm. No grupo tireoidectomizado os cobaias naive obtiveram um transporte mucociliar de 1,31 ± 0,15 cm, sensibilizado de 0,33 ± 0,03 cm e desafiado de 0,21 ± 0,03 cm. Ao ser analisado o transporte mucociliar no grupo de animais submetidos ao desafio e ao hipotireoidismo foi detectado uma ausência de significância (p > 0,05; teste t de Student) para o grupo apenas desafiado. Todavia ocorreu uma redução significativa (p < 0,05; teste t de Student) no transporte dos animais apenas sensibilizados com relação aos sensibilizados tireoidectomizados.

CONCLUSÃO:

O método de sensibilização e desafio foram efetivos, pois os animais sensibilizados e sensibilizados/desafiados demonstraram alteração no transporte mucociliar quando comparado ao grupo naive. Este estudo evidenciou que os animais sensibilizados/desafiados com quadro de hipotireoidismo não apresentaram uma melhora no transporte mucociliar, possivelmente pelo fato da administração de propiltiouracil induzir a hiperplasia da tireóide. Essa alteração associada ao dano epitelial no processo de sensibilização sejam fatores sinérgicos para esta redução. O processo de sensibilização, desafio antigênico e a tireoidectomia química foram capazes de causar danos ao epitélio traqueal, destruindo células ciliadas e comprometendo o transporte mucociliar. Concluímos que a tireoidectomia química não exerce alteração significativa sobre a melhora no transporte mucociliar dos grupos de animais desafiados, os quais mimetizam um quadro de asma.

Palavras-chave: Transporte mucociliar, Asma, Tireoidectomia.