62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
SITES DE RELACIONAMENTO COMO ESPAÇO DE INVESTIGAÇÃO DE RELAÇÕES ENSINO-APRENDIZAGEM NA QUÍMICA ESCOLAR. PARTE II: COTEJAMENTO COM OUTRAS DISCIPLINAS DE CIÊNCIAS.
João Augusto de Mello Gouveia-Matos 1
Luiz Claudio dos Santos Ribeiro 2, 4
Florence Moellmann Cordeiro de Farias 3
1. Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, UFRJ
2. Departamento Didática, Faculdade de Educação, UFRJ
3. Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, UFF
4. Prof. Dr. / Orientador
INTRODUÇÃO:

Fóruns de discussão das comunidades virtuais do ORKUT revelam-se um rico material de pesquisa no campo da Educação Científica, dadas as suas características de espontaneidade e à capacidade de reproduzirem elementos de redes sociais reais ( SILVA, Cláudia R. Imagem e Identidade no ciberespaço. A significação dos perfis do Orkut. Tese de Mestrado, PUCSP, 2008; RICUERO, R. Redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009). Dando continuidade à pesquisa iniciada em 2009 (Parte I: 32ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Fortaleza, 2009), a atual pretende cotejar os resultados obtidos originalmente para a Química com os de outras disciplinas científicas escolares, visando a identificar se, e como se revelam, nessas disciplinas, dentre outros, as mesmas impressões negativas dos alunos sobre inutilidade da ciência que lhes é ensinada na escola e o desgaste nas relações professor-aluno (na maior comunidade sobre a Química, o mais numeroso fórum de discussão tratava de "qnt vcs tiraram na ultima prova?"). O segundo objetivo foi apontar elementos que permitissem ou não estabelecer características específicas da disciplina Química escolar, a partir do cotejamento com a Física e a Biologia, na perspectiva da análise das redes sociais mediadas por computador.

METODOLOGIA:

A pesquisa e análises baseiam-se no conceito de metáfora das redes sociais (RICUERO, 2009) e nos pressupostos do trabalho anterior (Parte I): das possibilidades de representação real em espaços virtuais (SILVA, 2008) e engajamentos contestatórios (RHEINGOLD, 1993, apud: SILVA, 2008). Foi feita uma análise qualitativa dos fóruns de comunidades do ORKUT (número e tipo) que respondem às palavras-chaves "Odeio Física/Biologia", e "Amo Física/Biologia". Cotejaram-se os resultados com os encontrados para a Química escolar, de igual natureza. Um índice médio de engajamento (f), definido pela expressão (Total de respostas dos fóruns/Total de membros inscritos comunidades) x 100, foi o parâmetro utilizado como indicador da participação efetiva dos membros nos fóruns de discussão (alto valor de f indicaria, além da participação mais engajada, um maior capital social, enquanto um baixo valor de f seria indicativo de uma participação mais frágil, isto é, permitiria uma inferência sobre um mero pertencimento a um grupo, a demandar, no futuro, outros refinamentos metodológicos de verificação).

RESULTADOS:

Resultados (respectivamente Biologia/Física): Comunidades: "Odeio" - 44/291; "Amo" - 149/321; fs: "Odeio" - 3,7/11,3, "Amo" -10,8/49,4. Química (trabalho anterior): Comunidades: 142; fs: "Odeio" - 25,4; "Amo" - 25,6. As utilizações do índice de engajamento médio dos membros nas discussões dos fóruns (f), já definido anteriormente, bem como a análise dos tipos dos fóruns, mostram ser parâmetros importantes, a partir dos quais, com os novos subsídios teóricos incorporados, inferiu-se sobre: a) a constituição e o sentido da crítica elaborada pelos alunos; b) parâmetros de pertencimento e capital social (RICUERO, 2009); c) as características peculiares de cada ciência no campo da cultura escolar, o que desloca o eixo de investigação para a Sociologia do Conhecimento e da Cultura. Nas comunidades do Orkut com foco positivo ("Amo") chega-se a valores altos de f ("Amo a Física", por exemplo, em torno de 50). Em sentido oposto, valores de f mais baixos se obtém em comunidades com foco negativo. É possível inferir que, em comunidades que apresentam alto índice de interação entre os membros (f altos), há maior capital social agregado em disputa, predominando, nas baixas interações, apenas o senso de pertencimento a um grupo social definido.

CONCLUSÃO:

1) A extensão do trabalho aos sítios de relacionamento que focam outras disciplinas escolares científicas, e a incorporação de novos referencias teóricos de análise revelam, um tipo de resistência peculiar ao aprendizado da Química (razão f"Odeio"/f"Amo" indica participação igualitária em termos de capital social envolvido) indicando o acerto do viés da investigação sociológica mas que deve incorporar novos referenciais no campo cultura escolar e científica. 2) A interação entre indivíduos como condição de existência das redes sociais define novos sentidos para a o conceito de crítica, parte insubstituível do capital social em jogo nessas redes, quer as reais, quer as mediadas por computador. Assim, numa primeira análise os membros das comunidades "Odeio" de Biologia e Física, ao supostamente mobilizarem baixo capital social devido ao engajamento menor (f baixo), em contraste com a ampla participação verificada nas "Amo", parecem realizar um mero exercício de pertencimento a um grupo, confundindo-se com personagens acríticos, quando, de nossa perspectiva, produzem, sim, uma outra e melancólica forma de crítica: a "não-crítica", aquela que se rende à lógica perversa da economia da alienação, em cuja superação é mister a escola empenhar-se com esmero.

Palavras-chave: Sites de relacionamento e o ensino de Ci, Avaliação processo ensino-aprendizagem C, Química Escolar.