O estado nutricional infantil reflete a interação entre uma alimentação adequada e as condições de saúde, sendo assim, constitui um importante parâmetro que determina, dentre outros fatores, as condições sociais e econômicas que permeiam a vida da criança. Como resultado, a desnutrição torna as pessoas mais susceptíveis às infecções, aumentando a incidência, a severidade e a duração de doenças comuns na infância como a diarréia, as infecções respiratórias agudas e o sarampo, por afetar negativamente a integridade dos tecidos epiteliais e do sistema imunológico. As infecções, contudo, também prejudicam o estado nutricional, pois interferem na digestão, absorção e utilização biológica dos nutrientes, reduzindo o apetite, a ingestão de alimentos, aumentando a demanda metabólica e a perda de nutrientes. Analisar o estado nutricional significa a possibilidade de propor intervenções nutricionais adequadas, que visem melhorias nas condições de saúde e nutrição, diminuindo substancialmente a vulnerabilidade infantil às carências nutricionais e aos seus efeitos deletérios. Desse modo, o objetivo deste estudo é avaliar o estado nutricional de crianças assistidas nas creches do Governo do Estado da Paraíba e sua associação com o consumo de alimentos e as condições de saúde.

Estudo transversal, com amostra representativa de 353 crianças menores de seis anos presentes em 11 creches do Governo do Estado da Paraíba. Para a avaliação do estado nutricional foram analisados os índices estatura/idade e peso/estatura, considerando-se com déficit nutricional as crianças que apresentaram índices dois escores z abaixo do valor mediano da população de referência (padrões de crescimento infantil da OMS). Para o caso do sobrepeso/obesidade foi considerado o índice peso/estatura dois escores z acima do padrão. A avaliação do consumo de alimentos foi realizada por recordatório de 24 horas. A condição de saúde da criança foi analisada, considerando, principalmente, a presença de sinais e sintomas de infecção. Foram realizadas análises estatísticas para proporções com o programa SPSS-8.0, ponderando um nível de significância de 5%.

As prevalências de deficiência de estatura, déficit de peso e sobrepeso/obesidade foram de 7,36%, 1,13% e 6,23% respectivamente. As variáveis: esquema de vacinação, peso ao nascer, sangue nas fezes, número de cômodos no domícilio e renda familiar total e per capita se associaram estatisticamente com o déficit de estatura. O peso para estatura mostrou associação com variáveis relacionadas às condições de saúde da criança (esquema de vacinação e suplementação com vitamina A), com a alimentação (adequação da participação de macronutrientes no valor energético total da alimentação) e com os antecedentes familiares (idade da mãe). O déficit de crescimento linear demonstra-se como a característica antropométrica que melhor representa o retrato epidemiológico da desnutrição no Brasil. O sobrepeso/obesidade revela-se como um agravo em aumento na população infantil. As associações encontradas são consistentes com os conhecimentos epidemiológicos e biológicos sobre as formas pelas quais o peso e a estatura podem ser afetados, porém, maior quantidade de estudos serão necessários para uma melhor compreensão.

Verificaram-se prevalências expressivas de déficit de estatura e sobrepeso/obesidade, justificando a necessidade de intervenções nutricionais para a prevenção e controle destes agravos.