62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM JOÃO PESSOA: UM ESTUDO A PARTIR DAS CRENÇAS DE SEUS PROFISSIONAIS
Francisco José Batista de Albuquerque 1
Cynthia de Freitas Melo 2
Francisco Elmiro de Souza Filho 3
João Lins de Araújo Neto 3
1. Universidade Estadual da Paraíba
2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
3. Universidade Federal da Paraíba
INTRODUÇÃO:

A partir da portaria 648/06, a Estratégia Saúde da Família (ESF) passou a ser vista como estratégia estruturante da Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS). Sabe-se, todavia que, apesar de possuir diretrizes ideais, estas não funcionam na prática. Isso ocorre porque os programas são criados e implantados por tentativa e erro. Não havendo a cultura de avaliação dos gastos públicos. Neste cenário, as pesquisas de avaliação da ESF funcionam como ferramenta fundamental para auxiliar, através de feedback, as decisões de seus gestores. Informações sistemáticas que podem ser utilizadas no aprimoramento da estratégia. E o psicólogo social, conhecedor de conteúdos sobre relações intergrupais, crenças, comportamentos individuais e grupais, entre outros, é o profissional adequado para este tipo de tarefa. E os profissionais da ESF, que são seus implementadores, são fonte preciosa de informação, pois, além de conhecerem a realidade do cotidiano da ESF, são sujeitos que possuem o poder de modificá-la. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar a ESF em João Pessoa, Paraíba, a partir das crenças dos profissionais da Equipe de Saúde da Família (EqSF), com o intuito de compreender os fatores que influenciam o desempenho efetivo do trabalho destas equipes na estratégia.

METODOLOGIA:

Foi realizada uma pesquisa correlacional aplicada, na qual as variáveis antecedentes referem-se às condições de trabalho nas Unidades de Saúde da Família (USF's) e o perfil dos profissionais, e as variáveis conseqüentes são as crenças que os profissionais das EqSFs têm sobre a estratégia. Utilizou-se uma amostragem probabilística, composta por 337 profissionais. Para a coleta de dados, foi criada e validada a "Escala de Avaliação da ESF pelos Profissionais", com 24 itens, que investigam três fatores: 1) Recursos materiais (α = 0,86); 2) Eficiência no atendimento (α = 0,80); e 3) Infra-estrutura física (α = 0,73). Esta foi respondida de forma individual, dentro das 101 USF's em que trabalhavam os profissionais sorteados. E a análise de dados aconteceu em quatro etapas: 1) Foi realizada uma análise fatorial da Escala de Avaliação da ESF pelos profissionais, para verificar a adequação dos itens aos fatores; 2) Utilizou-se estatísticas descritivas (freqüência, porcentagem, média, desvio padrão) nos dados biodemográficos, para fornecer informações acerca da amostra; 3) Contabilizou-se as freqüências e porcentagens dos itens, para verificar a pontuação dos fatores; 4) Realizou-se comparações entre os profissionais por escolaridade e por categoria profissional, através do qui-quadrado.

RESULTADOS:

De forma geral, os resultados apresentaram distinções nos tipos de vínculos empregatícios dos profissionais. Verificou-se que a permanência média destes nas USFs, é de 3,9 anos (DP=2,60). Sendo que cada EqSF é responsável, em média, por 946,49 famílias (DP=200). Destacando que 99 participantes afirmaram atender mais de mil famílias, mínimo preconizado pelas diretrizes da estratégia. As rendas mensais dos profissionais variaram entre 400 a 7000 reais, e 13,1% dos profissionais afirmam ter outro trabalho. No que se refere à avaliação que os profissionais fazem da ESF, a disponibilidade dos recursos materiais obteve avaliação positiva por 76,68% dos profissionais. A eficiência do atendimento foi avaliada negativamente por 53,4% dos participantes. E a infra-estrutura da USF foi avaliada positivamente por 71,17% dos profissionais. Contemplando que, apesar dos "dados camuflados" demonstrarem avaliações positivas, é necessário destacar que 23,32% afirmou não possuir materiais para trabalho. E 28,83% afirmou não possuir infra-estrutura mínima para trabalho. Constatando-se ainda que os recursos materiais e a infra-estrutura das USF's foram melhor avaliados pelos profissionais de nível superior. E a eficiência no atendimento foi melhor avaliada pelos profissionais de nível médio/técnico.

CONCLUSÃO:

Concluindo-se que, apesar da Estratégia Saúde da Família aparentemente ter sido avaliada positivamente em alguns aspectos (recursos materiais e infra-estrutura), ainda é preocupante verificar que uma parcela considerável de profissionais não possui condições mínimas de trabalho para oferecer serviços de saúde aos usuários da estratégia. Destacando um déficit maior na eficiência do atendimento, prejudicado pela dificuldade de vagas, burocratização do Sistema de Referencia e Contra-referência para os níveis mais complexos de atenção de saúde, e pela ausência de capacitações fornecidas aos profissionais. Contempla-se ainda que, apesar das limitações, a ESF em João Pessoa apresentou avanços significativos na realidade de funcionamento, créditos dados às Unidades Unificadas, modelos padrões e idéias de USF's recém construídos que geraram avaliações positivas do fator infra-estrutura entre a maioria dos participantes. Concluindo-se que existem avanços significativos, e que as mudanças recém-implantadas funcionaram e podem ser replicadas em outras capitais. Destacando, entretanto, que trata-se de uma mudança lenta e que ainda existem muitas barreiras na operacionalização eficaz da estratégia.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família (ESF), Pesquisa de avaliação, Profissionais.