62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
OS (DES)CAMINHOS DA MODERNIDADE NOS CONTOS DE LIMA BARRETO: AS REPRESENTAÇÕES DOS ESPAÇOS URBANOS
Andréia Maria da Silva Lopes 1
Márcia Tavares Silva 2, 1
1. Centro de Ensino Superior do Seridó - UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Ciências Sociais e Humanas - UFRN
INTRODUÇÃO:
O conto moderno e contemporâneo se firma e amplia seus universos conteudísticos visitando temáticas urbanas. Nesse sentido, a cidade e os conflitos urbanos são determinantes para a configuração dessa narrativa. Representante dessa realidade o autor Lima Barreto em sua obra, fazendo-se um recorte para a composição de nosso corpus dos contos "Miss Edith e seu Tio" e "Um e Outro", passeia pelas relações e impactos na cidade do Rio de Janeiro se modernizando. Nossos aportes teóricos repousaram em Candido (1989), Martha (2000), Matias (2007), Resende (1983) e Sevcenko (2003). Sendo assim, este trabalho objetiva analisar como é desenhado nos contos barretianos os espaços urbanos, tendo como plano de fundo a modernização na qual o Brasil estava inserido. Além do mais, analisaremos as atitudes cosmopolitas e o culto aos símbolos de distinção tidos pelos personagens, se pautando na visão do narrador no decorrer da narrativa. A relevância da pesquisa, portanto, está relacionada a um olhar mais detido ao conto, em uma perspectiva de redirecionamento das tendências do conto urbano na Literatura Brasileira. Da mesma forma, traçamos um estudo consistente das narrativas curtas barretianas, tendo em vista a quebra de um muro de silêncio recaído sobre suas obras.
METODOLOGIA:
Para o estudo da representação literária da cidade, tomamos como ângulo analítico os elementos formais da narrativa. Dessa maneira, fizemos uma análise e um estudo comparativo dos contos "Miss Edith e seu Tio" e "Um e Outro", presentes na obra Clara dos Anjos e Outras Histórias (2002). Tomamos como base críticas literárias, no que concerne a relação entre literatura e sociedade, ou seja, as tensões sociais ocorridas no advento da Primeira República, tão bem detalhadas pelo crítico Sevcenko (2003). Neste contexto, foi relevante também lançar um olhar mais detido aos fatos históricos, tendo em vista que Lima se reporta, nas narrativas analisadas, aos períodos que demarcaram o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Todavia, as relações do cotidiano neste período são reconstituídas esteticamente pelo autor, tendo em vista que a história não é contada pela visão da classe dominante, mas, pelas vozes dos marginalizados, que seria a opção pela marginália a qual se reporta Resende (1983). A partir das análises, destacaremos as formas de opressão feitas pela sociedade moderna e os modos de reação adotados pelos personagens, ressaltando a visão que o narrador lança sobre estes.
RESULTADOS:
Segundo Sevcenko (2003, p. 201) a obra de Lima Barreto é entremeada pelas várias relações de poder, como os modelos formalizados de comportamento coletivo, o cosmopolitismo, um caráter intrínseco da modernidade, e as relações minuciosas do cotidiano, "em que os símbolos de distinção definem sentidos de mando e subserviência ao nível de trato banal". Uma das distorções do cosmopolitismo seria a ideia do país se assemelhar aos modelos parisienses, com a imagem de homens brancos e civilizados. Os hóspedes (brasileiros) modificam seus hábitos e costumes para agradar os ingleses, Miss Edith e seu tio Mister George, sendo que estes os desprezam completamente. A personagem Angélica cultua a Miss como a Nossa Senhora, atitudes criticadas abertamente pelo narrador. Com o cosmopolitismo, as relações do cotidiano se modificam. Comprova-se esse aspecto pelo culto extremado aos símbolos de distinção. Em "Um e Outro" o ser chega a fundir-se com os objetos, numa relação de necessidade extrema, da mesma forma que as profissões com a modernização assumem novas nomenclaturas para se inserir na sociedade burguesa e cosmopolita. Nesse sentido, só o que encanta os olhos é digno de permanecer no centro da cidade, os aspectos destoantes, pessoas e objetos, são postos à marginália, para os subúrbios.
CONCLUSÃO:
Tomando o corpus analisado, percebemos como o direcionamento do olhar de Lima Barreto é fotográfico, pois este desenha em "Miss Edith e seu Tio" e "Um e Outro", um retrato da realidade social no advento da Primeira República, descrevendo as tensões sociais entremeadas na cidade do Rio de Janeiro se modernizando. Os transtornos advindos com a modernização são criticados objetivamente nos contos através da visão irônica e objetiva que o narrador assume diante das atitudes cosmopolitas dos personagens, bem como o culto destes aos símbolos de distinção. Nos dois contos o espaço da cidade é elevado, seja trazendo a representação do centro da cidade ou dos subúrbios. A chegada da modernidade evidencia a divisão entre essas camadas sociais. Portanto, revela os descaminhos da modernidade, pois se esta traz benefícios para a nova burguesia, por outro lado, tenta silenciar a voz dos suburbanos.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Conto brasileiro, Lima Barreto, Espaços urbanos .