A construção do conceito de ecossistema e relações nele encerradas condiz a um dos objetivos a serem alcançados no Ensino Fundamental (BRASIL, 1998). Nesse sentido, diferentes ambientes podem ser investigados e sempre que possível a realidade local deve ser discutida, já que, o contexto permite uma construção de saberes que contemplam várias vertentes e que convergem para uma leitura mais ampla do mundo (MORIN, 2004). Assim, justifica-se o trabalho com o manguezal, já que, conforme Silva e Farrapeira (2005) é instrínseco a história, economia e cena cultural local. Além disso, apresenta grande importância para o estoque pesqueiro e é forma de subsistência para populações ribeirinhas. Ainda assim, vem sendo progressivamente degradado ao longo da história.  Diante do exposto, objetivou-se neste trabalho analisar a visão dos estudantes de uma escola pública estadual a respeito da necessidade de conservação do manguezal como um compromisso da cidade e de todos que fazem parte dela. Nesse cenário, aproveitou-se o aniversário do Recife (12 de março) como fomentador das discussões conservacionistas.

Para o alcance do objetivo proposto foi construída uma seqüência didática desenvolvida em quatro aulas. Na primeira, aos pares, os estudantes receberam uma imagem do manguezal para identificação de fatores bióticos e abióticos e montagem de cadeia alimentar.  Na segunda e terceira aulas, ocorreu a exibição e discussão de um curta metragem enfocando a caracterização geral, importância e degradação no manguezal. Posteriormente, os estudantes receberam identificações com espécies do manguezal, representando diferentes elos e foram envolvidos na dinâmica teia da vida. Na última aula, foi aplicada uma atividade com questões semi-estruturadas resgatando e ampliando todas as discussões encerradas durante o processo. Todas as atividades foram realizadas em uma 5ª série de uma escola pública estadual do Recife e, neste trabalho como opção de recorte estará sendo analisada a atividade proposta na última aula, especificamente, na análise do conteúdo de respostas dadas a da questão: "Que presente Recife poderia dar ao manguezal?" Responderam a essa questão 23 estudantes.

A maior parte das respostas dos estudantes (15) para a questão foco da análise foi direcionada para a diminuição da poluição. Assim, houve indicações para limpeza do manguezal e também de mares e rios, evidenciando algumas relações estabelecidas pelos mesmos entre o mar, o rio e o manguezal como podemos observar nas frases: "O Recife não era para jogar lixo nem poluir..."; "... Não jogar lixo nos rios; "Não jogar lixo nos mares...". Apenas um estudante acrescenta que além da limpeza é preciso cuidar da vegetação característica. Da mesma forma, um acredita que o trabalho dos pescadores deve ser interrompido ("Que os pescadores não mais pescassem lá"), o que demonstra uma visão simplista do contexto. Outro, quando afirma que não se deve pegar todos os peixes vai além da perspectiva preservacionista anterior e aponta que apenas uma parte do estoque pesqueiro deve ser explorado. Três estudantes parecem apontar para beleza cênica da paisagem no manguezal quando afirmam que o presente dado deveria ser devolver a beleza, "A boniteza dele". Por último, dois estudantes convergem para a necessidade de um manejo do manguezal. como pode ser observado nas frases: "Ele ( O Recife) poderia dar peixe e caranguejo"; "Caranguejo e outros animais".

Com a análise do discurso registrado apenas de forma escrita pelos estudantes e logo fragmentada pode-se inferir que a poluição é uma condição considerada pela maior parte dos estudantes e assim, a limpeza do manguezal é a solução (presente) apontada de imediato. No entanto, outros enfatizam a recuperação da beleza cênica, a necessidade de preservação e conservação e ainda um manejo da fauna. Vale salientar que a perspectiva de conservação é mais ampla visto que, o manguezal é essencial para a subsistência de muitas comunidades ribeirinhas e há fatores degradativos mais ativos que a sobreexplotação. Nesse sentido, a coletividade do grupo é naturalmente mais completa e há a necessidade de discussões que contemplem diferentes visões com mediação docente, a fim de possibilitar diferentes aproximações com a linguagem científica.  Também se ratifica nesse trabalho a importância de um Ensino de Ciências embasado em uma pluralidade metodológica e teórica.