62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
PERCEPÇÃO DA FAMÍLIA POR CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS
Emmanuelle de Oliveira Ferreira 1
Rosângela Francischini 1
1. Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
A literatura, frente à questão da institucionalização de crianças e à história brasileira de abrigamento desses sujeitos, expõem diversas discussões sobre a realidade de crianças e famílias inseridas em contextos de riscos pessoais e sociais, tais como violência, negligência, drogadição, pobreza..., nas suas muitas combinações, níveis e autores. Muitos estudos sobre crianças em acolhimento institucional e seus familiares já foram realizados, mas poucos permitiram que a própria criança falasse com o seu olhar diante do que está sendo investigado. Assim, foi encontrada a necessidade de fazer corpo ao conhecimento sobre a temática com o ponto de vista da criança, observando o comparecimento ou não dos aspectos ressaltados pela literatura em relação a tais sujeitos e suas famílias. O presente trabalho, então, apresenta como objetivo pesquisar, dentro da realidade do Rio Grande do Norte (RN), a percepção que crianças institucionalizadas representam sobre as dinâmicas familiares das quais faziam parte.
METODOLOGIA:
Foram feitos procedimentos de caráter qualitativo com três sujeitos, um menino de sete anos, um de oito e uma menina de nove anos, sendo o primeiro e a última irmãos. Todos estavam em situação de acolhimento institucional, aos quais se teve acesso por meio de indicação da Vara Judicial responsável pelos processos das crianças. O local da pesquisa foi a instituição estadual, localizada em Natal-RN, na qual os três se encontravam. Os procedimentos realizados foram individuais e constituíram-se em uma entrevista livre, em que os sujeitos poderiam falar, por exemplo, sobre o que gostam e o que não gostam, de uma forma geral, sobre suas famílias, a instituição, seus desejos e fantasias; e o desenho da própria família, em relação ao qual eram feitas questões aos sujeitos sobre as relações entre as pessoas, especialmente, delas com as crianças. Também foram acessados relatórios institucionais que traziam suas histórias de vida. Todos os registros ocorreram por meio de diário de campo e gravador.
RESULTADOS:
Ressalta-se a presença de vários fatores de risco no contexto das famílias, dentre os quais, relações de violência entre os familiares e com as crianças, especialmente, no caso dos irmãos, no qual se destaca a figura de um companheiro da mãe. A vivência de rua é outro fator observado nos discursos como experienciada pelos sujeitos. O uso de drogas por parte das mães, com quem todos os sujeitos viviam antes da medida de acolhimento institucional, também é relatado explicitamente pelas crianças. Além disso, a menina ainda narra a instabilidade sofrida com a mudança de cuidadores, entre parentes e não familiares. Os três sujeitos, inclusive, percebem relação entre a dinâmica familiar apontada por eles e a medida de acolhimento. Entretanto, é fundamental discutir que, ao mesmo tempo em que os núcleos familiares em questão não podem ser desobrigados da responsabilidade pelos fatores de risco infligidos a essas crianças - cujos direitos a família precisava garantir, não os violando - quando sob suas guardas, também são vítimas do inexpressivo apoio social do Estado, da falta de políticas públicas efetivas para o suporte às famílias que delas necessitam, estando, assim, mais suscetíveis às dificuldades econômicas e aos obstáculos de subsistência que estas, frequentemente, acarretam.
CONCLUSÃO:
Há, de acordo com o que foi observado, o reconhecimento, por parte das crianças, de dinâmicas familiares complicadas, marcadas por dificuldades sócio-econômicas e violações de direitos que envolvem, por exemplo, a negligência e a presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes; e, ainda, o reconhecimento da relação entre essa dinâmica e o fato de terem sido abrigadas. Seria importante estar atento ao que pode ser feito pela sociedade e pelo Estado para fornecer suporte, de fato, eficiente às famílias que, como as dos sujeitos, parecem reproduzir, nas crianças que delas fazem parte, a violação de direito que sofrem de uma forma geral. Suporte este que seria fundamental na tentativa de se evitar a aplicação da medida de acolhimento institucional e que permitiria, caso ela ocorresse, mais rápidas e melhores reintegrações familiares, buscando a prevenção de reincidências em abrigos e possíveis perdas do poder familiar.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Família, crianças institucionalizadas, método qualitativo.