62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
ENSINO DE LÍNGUA MATERNA NA PERSPECTIVA DOS ESTUDANTES
Agnaldo Almeida de Jesus 1
Maria Emília de Rodat de Aguiar Barreto Barros 2
1. Núcleo de Letras, Universidade Federal de Sergipe - UFS
2. Profa. Dra./Orientadora - Núcleo de Letras - UFS
INTRODUÇÃO:
O trabalho ora proposto traz à baila reflexões acerca do Ensino de língua materna, principalmente no que diz respeito ao ethos discursivo do professor de Língua Portuguesa. E por entendermos que a construção de imagens não depende somente da instância do Eu, mas também dos demais partícipes, buscamos averiguar o ponto de vista dos alunos em relação a esses profissionais, como também as relações de poder existentes no meio escolar. O trabalho se constitui a partir dos pressupostos teóricos da Análise do Discurso (doravante AD), por se entender que essa perspectiva ajuda a repensar as práticas de ensino utilizadas em sala de aula.
METODOLOGIA:
Os dados aqui apresentados foram obtidos por meio de uma pesquisa qualitativa, intitulada O Professor de Língua Materna e as Imagens de Si (UFS - PAIRD). O projeto foi desenvolvido em dez escolas situadas nas cidades de Itabaiana e Aracaju - SE. Dentre essas, cinco fazem parte da Rede de Ensino Público e as demais do Ensino Particular. A partir da seleção de tais instituições, analisamos, por meio de questionários, as opiniões dos aprendizes das séries iniciais (6º e 1º ano) e finais (9º e 3º ano) do Ensino Fundamental e Médio. Essa escolha tem como objetivo principal observar qual o posicionamento desses estudantes em relação aos seus professores de língua materna ao iniciarem e finalizarem essas etapas de ensino.
RESULTADOS:
Ao serem questionados acerca do ensino do Português, observamos de maneira significativa, que os alunos, independente do porte da escola, de ser particular ou pública, apresentam um mesmo ponto de vista, ou seja, eles perpetuam a ideia de que o Português é uma disciplina obrigatória e essencialmente constituída por normas. Dessa maneira, eles afirmam que aprendê-la é aprender a ler e escrever "corretamente". Segundo as opiniões de tais sujeitos, os professores de Língua materna priorizam, em suas aulas, o ensino de regras as quais são fundamentadas na Gramática Normativa, uma perspectiva de ensino que se mantém há um longo tempo; consequentemente é necessário ser repensado. Apesar de esses sujeitos estarem submetidos ao discurso da gramática, a maioria afirma que gosta de estudar Português, corroborando assim com o continuísmo de tal prática de ensino. Além disso, eles concordam com o senso comum, ao alegarem que a aprendizagem da norma padrão é necessária para a aprovação em concursos e vestibulares. Constatamos ainda que os estudantes estabelecem o gosto por tal disciplina a partir das notas obtidas nas avaliações e produções de textos, acrescentando que o bom professor é aquele que explica de forma clara.
CONCLUSÃO:
A partir da discussão dos dados, concluímos que o ensino do Português continua pautado na Gramática Normativa. Essa perspectiva de ensino, por seu turno, é corroborada, de maneira geral, pelos aprendizes, na medida em que afirmam gostar desse tipo de ensino; há, no entanto, os que apresentam rejeição por ela. Destarte, observamos que o ensino se torna mecânico e, muitas vezes, infrutífero, já que a pura abordagem dos conceitos gramaticais não atende de forma efetiva às necessidades específicas de todos os jovens. Estes, consequentemente, apresentam diferentes níveis de dificuldades no aprendizado da língua materna. Essa postura histórica no ensino da Língua não é só instituída pelos professores, como também pelas próprias escolas. Estas, por sua vez, mantêm uma relação de poder com os sujeitos partícipes da educação (estudantes e professores) desde a arquitetura do prédio escolar, os horários regulamentados e a constante cobrança no cumprimento do programa da disciplina. Desse modo, verificamos que os aprendizes são corpos dóceis, tornando-se cidadãos incapazes de construírem seu próprio conhecimento. Consequentemente, eles fortalecem o ethos do professor preso às normas e, muitas vezes, insatisfeito com o seu papel na escola, por não possuir autonomia suficiente para ministrar suas aulas.
Palavras-chave: Ensino de Língua Portuguesa, Tradição Gramatical, Construção de Imagens do Professor de Língua Materna.