62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
O ENSINO DE LIBRAS COMO POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO
RENATA CARDOSO DE SÁ RIBEIRO RAZUCK 1, 2
FERNANDO BARCELLOS RAZUCK 2, 3
1. UnB - FUP
2. UnB - FE
3. CAPES
INTRODUÇÃO:

A partir de 1990 as políticas educacionais de inclusão dos sujeitos com necessidades educacionais especiais foram intensificadas (Lacerda, 2000) e a orientação do MEC passou a ser a de incluir alunos surdos em escolas regulares, com o acompanhamento de professores intérpretes e a possibilidade de outros professores de apoio, em horário extracurricular (MEC, 2000).

Porém, diversas pesquisas tem apontado que apesar da presença de intérpretes educacionais e do acesso a uma proposta de educação bilíngüe, os surdos têm apresentado competências acadêmicas muito aquém dos alunos ouvintes, apesar de suas capacidades cognitivas iniciais serem semelhantes (Lacerda, 2000). Possivelmente, tal defasagem de conhecimentos acadêmicos pode estar relacionada à dificuldade imposta pelas barreiras comunicativas (Góes, 1996).

Neste sentido, visando favorecer a comunicação entre surdos e ouvintes, um grupo de alunos surdos propôs a realização de oficinas de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Este projeto teve como objetivo a inclusão dos alunos surdos nos diversos ambientes da escola e o favorecimento dos processos comunicativos, visando uma real inclusão social.

METODOLOGIA:

Em uma escola pública de uma cidade satélite do Distrito Federal haviam, em 2007, um total de oito alunos surdos matriculados nas três séries do Ensino Médio. Esses alunos, juntamente com a equipe de ensino, criaram a proposta de uma  oficina de LIBRAS para a comunidade escolar. Tais oficinas foram oferecidas pelos alunos surdos para os demais alunos, professores e servidores que desejaram participar. Todo o grupo divulgou a proposta nas salas de aula e os interessados preencheram a ficha de inscrição. Devido à grande procura, o primeiro grupo selecionado para participar da oficina foi composto por colegas do terceiro ano da turma dos alunos surdos, além de 2 professores e 2 servidores, totalizando 23 participantes.

            As oficinas ocorreram semanalmente, em um horário cedido pela professora de artes, que também participou da oficina. Cada aula tinha a duração de aproximadamente 50 minutos. A duração da oficina foi de 3 meses.

RESULTADOS:

Alunos ouvintes, professores e servidores participaram ativamente da oficina oferecida pelos alunos surdos. A interação entre surdos e ouvintes foi beneficiada e a inclusão dos surdos no espaço escolar com a comunidade que participou da oficina foi evidente. Após estes momentos, passou a ser freqüente o contato e a comunicação estabelecida entre as partes. Tais processos de comunicação passaram a transitar nas duas línguas (LIBRAS e Língua Portuguesa).

Segundo Vygotsky (1997), a surdo-mudez, ao privar a fala do homem, o separa da experiência social. Segundo o autor, o desenvolvimento mental humano está atrelado ao desenvolvimento histórico, a formas sociais da vida e baseiam-se nas interações sociais, particularmente favorecidas pela linguagem. Acredita-se então que, as dificuldades comunicativas acarretadas pela ausência precoce da linguagem faz com que a diferença orgânica se constitua em uma deficiência social, pois dificulta os processos interativos entre os surdos e os demais indivíduos, comprometendo todo o seu desenvolvimento cultural.

CONCLUSÃO:

Durante a realização das oficinas notou-se o grande empenho e interesse dos alunos surdos e ouvintes. Este convívio fortaleceu as relações interpessoais criando um ambiente  favorável, resultando em um maior interesse, integração e aprendizagem de todos. Vale ressaltar que a  LIBRAS é o  recurso de comunicação e de pensamento dos surdos (Quadros, 2006) e, portanto, um meio de desenvolvimento psicológico. Tal sistema sígnico é uma ferramenta social como qualquer outra língua. O acesso do surdo e de seu núcleo social a LIBRAS deve ocorrer o mais cedo possível para favorecer a interação social e, conseqüentemente,  o desenvolvimento integral.

            Assim, conclui-se que simples momentos como esses criados pelo próprio grupo podem ser decisivos para a inclusão e a construção de um ambiente escolar mais igualitário, no qual a surdez pode ser vista como uma diferença e não mais como uma deficiência.

Palavras-chave: INCLUSÃO, SURDEZ, LIBRAS.