62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
DA PERSONAGEM INÊS, NO TEXTO "ENTRE QUATRO PAREDES", DE SARTRE: A HOMOAFECÇÃO E A TEORIA DA EXISTÊNCIA
Rodrygo Rocha Macedo 1
Eliana Sales Paiva 2
1. Curso de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará - UECE
2. Coordenação do Grupo de Estudos em Sartre da Universidade Estadual do Ceará
INTRODUÇÃO:

O presente artigo tem como objetivo expor, a partir do texto da peça teatral Entre quatro paredes, escrita pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre, a compreensão da homoafecção. Das três personagens que se encontram no "inferno", está presente a funcionária dos correios, homossexual, denominada Inês. Este estudo procura identificar, no discurso da personagem citada, quais os pontos de intersecção entre o pensamento filosófico e da psicanálise existencial de Sartre em comparação com o posicionamento dos psicólogos contemporâneos sobre as origens do desejo afetivo do indivíduo por outro do mesmo sexo. Os dois tópicos escolhidos são os conceitos do Outro e da projeção narcísica. Outrossim, este trabalho propõe responder qual a relevância da homossexualidade na teoria da existência de Sartre. Por fim, este artigo intenta mostrar se o pensador francês lançou novas luzes sobre o drama da homoafetividade.

METODOLOGIA:

O texto ora exposto foi concebido a partir de uma pesquisa bibliográfica, pela qual foram obtidas informações oriundas de bibliografia selecionada. Optou-se, além do texto da peça Entre quatro paredes, pela escolha de livros e trabalhos de cunho acadêmico que abordassem o tema da homossexualidade para, assim, estudar as perspectivas paralelas da filosofia existencial e da psicologia, no século XX. Dentre os estudiosos da psique humana colhidos para este texto, encontram-se Judith Butler (2003), Marc Oraison (1977) e Alexander Lowen (1988). Cumpre lembrar que os psicólogos mencionados neste trabalho só atendem a uma preocupação de comparação conceitual.

RESULTADOS:

Sartre, mesmo não tratando especificamente da homossexualidade, na peça Entre quatro paredes expõe a personagem Inês em discursos que permitem supor um contato entre o  seu pensamento com os estudos psicológicos sobre a homoafetividade. Os conceitos do Outro e do jogo de espelhos constantes na peça também foram trabalhados pelos psicólogos na compreensão da homossexualidade. Para Sartre, o sujeito se reconhece que é tal como o Outro o vê, conceito paralelo ao da origem da homoafecção, a saber, a realização sexual no outro que lhe é semelhante.  Outrossim, as referências da personagem citada a espelhos são vistas na literatura psicanalítica sobre projeção narcísica, em que o homoafetivo realizaria seu desejo no seu duplo ou igual, visto que, desta forma, ele estaria vendo a si no outro desejado. O interesse do homossexual se condicionaria aos caracteres próprios de seu gênero encontrados em outro.

CONCLUSÃO:

Sartre, tentando elaborar  uma variação existencialista do pensamento de Freud, ainda optou pelo argumento freudiano de que a homossexualidade seria uma disfunção edipiano-narcísica, como provam os pontos de contato sobre o assunto existentes na sua peça Entre quatro paredes. Porém, o pensador francês sugeriu uma reflexão de existência que, posicionando o indivíduo no mundo, lhe conferisse possibilidades defronte sua vida de liberdade. No conceito de "Para-si" como projeto de Ser e totalidade faltada  na consciência humana, Sartre também abarcou a questão homossexual. Ele tratou o homossexualismo como um inacabamento humano que não pode ser tratado como algo negativo, mas como incompletude da qual decorre a liberdade. Das linhas encontradas na produção de Sartre que tratam do homossexualismo, pode-se constatar que ele tratou sobriamente do tema.

Palavras-chave: Existencialismo, Homoafetividade, Psicanálise.