62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
A MÚSICA BRASILEIRA EM FOCO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO CONCEITO DE ALIENAÇÃO
Egeslaine de Nez 1
Guilherme Althaus 2
Ralf Hermes Siebiger 1
1. Universidade do Estado do Mato Grosso UNEMAT
2. Universidade de Alfenas - Campus de Varginha
INTRODUÇÃO:
Este relato de iniciação científica é sobre a música e alienação. Tem como objetivo analisar algumas fases da música brasileira, a partir do conceito de alienação, destacando estilos e canções presentes entre os anos 50 e 80. A relevância da pesquisa se apresenta a partir das muitas concepções utilizadas no dia-a-dia para o termo alienação e, principalmente, pela falta de clareza acerca da indústria cultural existente por trás da música. Nesse sentido, o termo indústria cultural caracteriza a cultura produzida para o mercado, o caráter determinado dos produtos culturais oferecidos como mercadoria aos seus consumidores (FACINA, 2010). Já no que tange à alienação, destaca-se a definição de indivíduo alienado, quando alguém não participa diretamente da edificação da integridade social, interessando, neste trabalho, a alienação social, política e cultural que ocorre quando o sujeito se torna alheio, na maioria das vezes por indução cultural, aos problemas da sociedade (FERNANDO, 2010). Para tanto, a opção teórica eleita para compreender como a música é capaz de alienar o homem é a de Marx (2006), que caracteriza o conceito de alienação como uma condição objetiva e historicamente situada, fruto do processo de divisão social do trabalho e da universalização da propriedade privada.
METODOLOGIA:
Este trabalho de iniciação científica foi realizado primeiramente na forma de seminário, na disciplina de Filosofia da Ciência Política e Ética, e posteriormente discutido e apreciado por professores e acadêmicos numa sessão de Cinema Universitário. Houve a preocupação de se encaminhar metodologicamente a relação teórico-prática, para não se tender nem para um trabalho teórico desvinculado da prática e nem para a construção de uma prática esvaziada de fundamentação teórica. Como metodologia da análise das letras das músicas, parte-se de uma concepção que busque problematizar as temáticas tanto historicamente como em sua dimensão concreta, no sentido de se provocar reflexões e, então, se elaborar um conhecimento que por sua vez oriente ações futuras (FREIRE, 1987, p.71). As estratégias que foram utilizadas neste trabalho foram: pesquisa bibliográfica, encontros com estudos e levantamento documental sobre a música brasileira. Busca-se através da realização desta atividade, a socialização e construção de instrumentos teórico-práticos que contribuam para aprimoramento reflexivo das letras das músicas com relação ao conceito de alienação.
RESULTADOS:
Samba (final do século XIX), com influência da cultura afro-baiana, tendo sua evidência no momento de fortalecimento da ditadura militar por meio do Ato Institucional 5, com canções que serviam de 'válvula de escape', de antídoto alienante frente a conjuntura político-social do governo ditatorial da época. Bossa Nova (1958), com textos e harmonias rebuscados, trazia as canções para perto do real, como em uma conversa casual, porém, eram abordadas temáticas leves e descompromissadas ante o contexto político-social da época. Jovem Guarda (1960), mesclava música (Rock'n'Roll), moda e comportamento de classe média, não havendo, declaradamente, cunho político-social. Com o intuito de agradar ao público jovem, fazia com o que o jovem não se concentrasse nos problemas políticos pós-golpe de 64. Tropicália, surgida em plena ditadura militar, era a vigência de um estilo musical num tempo em que nada podia ser dito (censura). Na falta de abertura para criticar a ditadura em suas canções, os tropicalistas adotavam a ironia e o deboche. MPB pós-golpe de 64, com canções que conseguiram trazer à tona temas que não só falavam de amor, mas, disfarçadamente ou não, tentavam mostrar ao público a realidade política e social do país.
CONCLUSÃO:
A música tem sua trajetória ditada não só pelos anseios dos músicos, mas pela trajetória política e econômica da sociedade brasileira, com sua temática variando de acordo com o sistema de poder vigente. Sobre a questão da alienação, não se trata de usar o conceito enquanto juiz em relação à música brasileira consumida pelas massas, mas, ao contrário, de compreender como se dá esse fenômeno de consumo numa condição alienada da sociedade capitalista. Para Adorno (2002), a diversão oferecida pela indústria cultural, neste caso, a música, visa à integração das massas ao sistema de consumo e aprofundamento da condição alienante. Seu objetivo seria aprofundar essa condição das massas e criar uma cultura de conformismo e a não resistência ao status quo. A análise das letras das músicas sob o reflexo do conceito de alienação pode fornecer pistas interessantes e relevantes para a compreensão do processo histórico da sociedade e ampliar o leque de discussões a respeito dessa temática. Após o processo de alienação, a conseqüência que se tem é um povo que se preocupa muito com a sorte individual e não pensa na dimensão coletiva, vivendo conformados e acomodados. E, por outro lado, alguns dos músicos viviam essa mesma realidade (exclusão, discriminação e dominação), o que indica uma relação de identidade entre a população e esses compositores, tornando perene esse processo.
Palavras-chave: Música brasileira, Alienação, Indústria cultural.