Esta pesquisa insere-se no campo de compreensão de saúde como um conjunto complexo de condições sociais, econômicas e políticas, cuja promoção se constitui, também, como um processo de exercício de cidadania. Dessa forma, torna-se importante a promoção da participação das pessoas, sua autonomia e liberdade que são valores do Projeto de Educação Popular e Atenção à Saúde da Família (PEPASF), no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Este projeto de pesquisa, inserido no âmbito do exercício de práticas de Extensão Popular, com estratégia de apoio à família e à comunidade como forma de melhoria da qualidade de vida dos seus moradores, exerce-se na realização de uma atividade - A Feira de Saúde - do conjunto do Projeto. Traduz-se na visão de construção da saúde por processos de participação e co-responsabilidade de profissionais da saúde e da comunidade. Dessa forma, a Feira de Saúde, uma atividade realizada na Comunidade Maria de Nazaré, no Bairro dos Funcionários III, em João Pessoa, pela Associação Comunitária Maria de Nazaré (ACOMAN), Projeto de Educação Popular e Atenção à Saúde da Família (PEPASF) e Equipe de Saúde da Família (ESF), representa uma forma participativa de promoção da saúde com impactos em um ambiente de comunidade.  

A metodologia foi norteada pela visão da necessidade de participação como um direito e um dever comunitário de co-responsabilidade, também no acesso à saúde.  Tem base empírica, caracterizada como pesquisa participante, envolvendo Equipe de Saúde e membros da comunidade, constituindo o primeiro movimento metodológico, nessa caminhada cidadã pela saúde, por meio da atividade - Feira de Saúde. Participação que envolve os passos de organização desse evento e a gestão de todo o processo de realização da Feira. Num segundo momento, caracteriza-se pelas reuniões, sendo mantido um canal de comunicação para que todos se sentissem à vontade para a coleta de sugestões, recusa e negociação de outras novas propostas. A elaboração dos encaminhamentos a serem adotados na Feira era realizada nessas  reuniões programadas de acordo com a disponibilidade dos participantes. Nestes, estavam incluídos diretores da ACOMAN, funcionários da Unidade de Saúde da Família (USF), estudantes do PEPASF e adolescentes do programa Agente Jovem, que representavam suas respectivas instituições. Este se constituiu como momento de discutir, refletir e fazer propostas para novas ações.

Das atividades desenvolvidas durante a Feira de Saúde, aquela que envolveu mais pessoas foi o escovódromo - ambiente de escovação de dentes - montado dentro da Unidade de Saúde da Família (USF), pelo grupo de odontologia, improvisado com canos e sacos plásticos, com cem por cento das crianças presentes. Outra expressiva participação esteve ao encargo dos idosos que aderiram às medidas de prevenção de doenças, dentre as quais a verificação de pressão arterial, com vinte idosos presentes. Os grupos de postura, aleitamento materno e de psicologia não despertaram interesses por parte da comunidade. Após avaliação da Feira, uma das causas apontada foi a sua realização em um sábado, dia no qual as mulheres desempenham um maior número de atividades, ou seja, cuidam das crianças, da faxina da casa e de outros afazeres domésticos. As mulheres eram, tão somente, transeuntes curiosas das atividades da Feira. Esses resultados despertaram o grupo para buscar outras técnicas de mobilização das pessoas. A possibilidade apresentada foi a utilização do teatro, reunindo exercícios, jogos e técnicas promotoras de incentivos à organização e de debates sobre os problemas da comunidade. Essa perspectiva pelo teatro contribui para a formação de sujeitos ativos e multiplicadores da luta em defesa de seus direitos, possibilitando o cuidar da saúde como elemento de sua cidadania.

A participação popular é um exercício de cidadania em todas as dimensões da vida humna. Deve ser estimulada constantemente. Nesse sentido, é que as atividades em saúde, para serem efetivas, precisam estar inseridas nessa perspectiva, desde o seu planejamento até sua realização e avaliação. A Feira de Saúde, embora tenha contado com uma participação diminuta em algumas de suas atividades, houve expressiva aceitação da comunidade. O descontentamento por parte de elementos da Equipe de Saúde foi exclusivamente de si mesma, em função da falta de estratégias de mobilização comunitária. O ponto fundamental é saber pesquisar o porquê daquelas ausências de pessoas em certas atividades, alimentando a necessidade de se buscar estratégias que incentivem a percepção da importância da adesão popular na promoção da sua própria saúde. Isto tudo carece de mais reflexão para não se  atribuem "as culpas" da não participação da comunidade a um povo que nunca foi incentivado a participar das coisas do seu mundo de vida.