62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 2. Práticas Clínicas, Identidade e Relações de Gênero
DO ÚTERO À ADOÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE MULHERES FÉRTEIS QUE ADOTARAM UMA CRIANÇA.
Ana Andréa Barbosa Maux 1, 2
Elza Maria do Socorro Dutra 3
1. Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN - FACEX
2. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
3. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
Mesmo com todas as mudanças e rupturas em relação aos papéis sociais exercidos pela mulher, a literatura tem confirmado que a maternidade ainda se configura como um dos principais papéis que ela espera desempenhar ao longo da vida. Quando não consegue engravidar ou levar adiante uma gestação, algumas mulheres encontram, na adoção de uma criança, uma alternativa para exercer o papel materno. Este trabalho buscou compreender a vivência de ser mãe por adoção no caso de mulheres férteis, mas cujo companheiro é infértil. Por ser este um trabalho que fala sobre os modos de ser feminino na sociedade atual, contribui tanto para a literatura sobre gênero como para o aprofundamento e a divulgação de estudos sob a ótica fenomenológico-existencial. Também é relevante enquanto conhecimento sobre o tema da adoção, uma vez que o mesmo, embora atualmente bastante presente na mídia, através de debates, reportagens e até novelas, não aparece com a mesma freqüência na academia.
METODOLOGIA:
Partiu-se de um referencial fenomenológico-existencial, utilizando-se como instrumento metodológico a narrativa. Participaram cinco mulheres, cujos processos de adoção tramitaram em uma Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Natal/RN e cuja motivação para o pedido foi devido a um problema de infertilidade masculina. Foi realizado um primeiro encontro com cada participante, acontecido em dia e local escolhidos por elas, com duração média de uma hora. As narrativas foram gravadas em áudio através de um aparelho de MP3, transcritas e literalizadas. Depois, cada narrativa literalizada foi submetida à apreciação das entrevistadas para que as mesmas atestassem a fidedignidade ao texto ou realizassem alterações que julgassem necessárias. Para a apreciação do material foi marcado um segundo encontro com as participantes, que teve duração média de cerca de 40 minutos cada. O passo seguinte foi o agrupamento de informações e formação de núcleos de sentido.
RESULTADOS:
Na construção de sua subjetividade, a mulher internaliza a importância dada à gestação de um filho, construindo uma idéia de si mesma como alguém cujo principal papel é colocar filhos no mundo, e que estes serão os responsáveis pelos sentimentos de completude e realização que ela venha a sentir. Na ausência de uma gravidez, a mulher é apontada como a responsável, seja pelo marido e família, seja por ela mesma. A partir da descoberta da infertilidade do marido, há uma tendência da mulher por se assumir infértil, demonstrando que, para ela, o fato de ser o companheiro o infértil não parece ser o mais importante, mas, o fato de o casal, não conseguir ter filhos. Assumir-se infértil, juntamente com o marido, é uma escolha que possibilita uma cumplicidade conjugal, condição importante para a continuidade da relação, embora, a falta de um filho cause uma espécie de descoloramento na vida da mulher, situação resolvida com a adoção de uma criança. Através da demonstração de sua devoção e cuidados ao filho elas se reconhecem enquanto mães. Contudo, existe um luto, uma falta, sobre como é gerar uma criança. Ao mesmo tempo em que há alegria e sentimento de completude pelo exercício materno, existe frustração, que pode ser acompanhada, ou não, por sofrimento, pela ausência da gestação.
CONCLUSÃO:
Na constituição de sua subjetividade, a mulher constrói uma idéia de si mesma como alguém cujo principal papel consiste em colocar filhos no mundo, embora ela também considere natural sua participação em outras atividades fora do ambiente doméstico. Em casos de infertilidade masculina, há uma tendência para que a mulher também assuma a condição de infértil. A adoção passa a ser vista como alternativa para realizar o desejo de ser mãe e, ao mesmo tempo, agradar o marido, garantindo a continuidade daquela relação amorosa. Através dos cuidados maternos ela se descobre mãe, o que acrescenta um novo sentido para sua vida e o sentimento de realização, independente de ter gerado o filho. Contudo, também existe frustração, às vezes acompanhada de sofrimento, pela ausência da gravidez e parto. Ao final, o estudo enseja reflexões de que, para se realizar como mãe, a mulher não precisa, necessariamente, gerar filhos, sendo a maternidade uma das inúmeras possibilidades que lhes são apresentadas, e que ela pode escolher, ou não, realizar.
Palavras-chave: Maternidade, Adoção, Infertilidade.