62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
A FORMAÇÃO DOCENTE NA PERSPECTIVA DIALÓGICA DA HERMENÊUTICA
Jacimira Höher Bohrer 1
1. Programa de pós-graduação em educação CE UFSM/RS
INTRODUÇÃO:
O trabalho apresentou como proposta investigar a presença do diálogo no processo formativo docente e nas suas vivências educativas, analisar e refletir a importância do diálogo numa perspectiva da hermenêutica para a constituição do profissional docente e para o desenvolvimento das suas habilidades cognitivas e sociais. Para tanto, a investigação desenvolveu uma contextualização histórica da hermenêutica, realizou uma abordagem a respeito da racionalidade instrumental apresentada na teoria crítica de Jürgen Habermas e a influência que essa exerce nos processos educativos. Com o intuito de promover uma melhor visualização do profissional referenciado foi apresentada uma breve contextualização da formação docente na contemporaneidade e da sua constituição epistêmica, realizando, na seqüência, uma reflexão entorno do potencial dialógico e reflexivo da hermenêutica, da sua capacidade em promover novas interpretações e novas compreensões do mundo no qual estamos inseridos. Na intenção de imbricar os aportes teóricos que fundamentaram a pesquisa às vivências dos docentes entrevistados, o trabalho foi finalizado promovendo aproximações entre ambos com o objetivo de suscitar novas reflexões e hipóteses para se pensar à formação docente numa perspectiva dialógica da hermenêutica.
METODOLOGIA:
A investigação foi construída ante uma abordagem interpretativa, reflexiva e compreensiva da hermenêutica. Segundo Gamboa (1997) a hermenêutica é holística e ao ampliar a perspectiva e compreender os seres humanos em sua totalidade tenta evitar a fragmentação causada pela abordagem positivista e experimental que analisa parcelas do sujeito. Para tanto, a investigação foi construída mediante entrevistas semi-estruturadas desenvolvidas junto a quinze (15) profissionais que atuam na área da docência em diversas áreas de atuação. Tal abordagem busca o conhecimento do contexto o que proporciona à pesquisa movimento constante entre as partes e o todo, assim, a compreensão de uma ação particular requer a compreensão do significado do contexto no qual ela se dá. Nesse sentido a presente pesquisa utilizou-se de oito perguntas que auxiliassem a percebermos a constituição epistêmica desse docente. Dessa forma, o trabalho dialogou com os docentes, na proposta de compreender por meio do seu discurso como se deram as relações dialógicas no seu processo formativo e como são desenvolvidas hoje, na sua prática pedagógica suscitando dessa forma novas reflexões e discussões a respeito do processo formativo desse docente e da importância do diálogo numa perspectiva hermenêutica neste contexto.
RESULTADOS:
Ao absorvermos os parâmetros de uma razão instrumental para o mundo da vida, também passamos a considerar tudo aquilo que foge ao controle da ciência de fantasia, de quimera. E assim passamos a desacreditar dos sonhos, assumindo muitas vezes, o que chamamos na educação de "ranços pedagógicos" quando passamos a criticar e a desacreditar de tudo e de todos que nos apresentem novas possibilidades e formas de se pensar e fazer educação. Apresentando empecilhos, utilizando-se de justificativas para explicar a nossa dificuldade em fazer diferente, antes mesmo de tentar. Segundo Demo (1997), por meio da utopia é possível realizar a crítica da realidade, dela se busca a motivação em favor das grandes lutas, sobretudo das grandes transformações. Sgró (2009) diz que é preciso restaurar os princípios utópicos do pensamento educacional contemporâneo que se apresenta impregnado de um saber de caráter técnico e instrumental numa lógica improdutiva. Assim, ao investigarmos a formação docente numa perspectiva dialógica e hermenêutica e ao nos aventurarmos a ofertar novas hipóteses a serem pensadas, buscamos transcender o pessimismo que se instaurou no meio educacional. E, mesmo não tendo motivos para sermos tão otimistas como nos fala Perrenoud (2002), isso não nos impede de refletir sobre a formação ideal de professores para uma escola também ideal.
CONCLUSÃO:
Mediante o desenvolvimento da pesquisa constatou-se que, mesmo diante constantes debates entorno da formação docente, presenciamos uma formação permeada pela racionalidade instrumental. Centrada na figura do professor (detentor do saber) as relações dialógicas vivenciadas no contexto educativo distanciam-se da proposta no diálogo genuíno. Aparecendo na forma de conversações, discussões e monólogos (exposição, disputa e apropriação de saberes) e, poucas vezes, como troca e reconhecimento do outro (construção de saberes). Averiguamos a importância do diálogo à formação do docente, à sua prática pedagógica e à aquisição de habilidades de nível superior que o auxiliam a compreender e a interpretar melhor o mundo vivido. Assim, acreditamos ser necessário repensar a formação docente, buscar transcender o seu caráter individualista para uma forma cooperativa na qual todos aprendem num processo dialógico que se dá em condições de reciprocidade, trocas e construções. Na proposta dialógica da hermenêutica, conhecer não está relacionado à simplesmente apoderar-se de novos conhecimentos e sim abrir-se a experiência do outro. Assim, para aspirar uma educação que consiga imbricar o "real" ao "ideal" precisamos sair do nosso espaço solipsista para outro espaço, onde seja permitida a expressão e o reconhecimento do outro, na sua alteridade.
Palavras-chave: Hermenêutica, Formação docente, Diálogo.