62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
FORMAÇÃO DOCENTE E ETNICIDADE AFRO-BRASILEIRA: DISCUSSÕES E PERSPECTIVAS
Ana Paula Gomes de Oliveira 1
Lidiane de Paula Taveira 1
Margareth Maria de Melo 1
1. Departamento de Educação - Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho deriva de uma pesquisa sobre "Racismo no curso de formação docente." O ambiente da investigação foi o curso de Pedagogia da Universidade Estadual da Paraíba, campus I de Campina Grande. Objetivamos analisar como as/os professoras/os e alunas/os enfrentam no cotidiano as questões étnicas afro-brasileiras. De maneira específica, investigamos como os sujeitos da pesquisa se identificam com o enfrentamento da etnicidade no cotidiano acadêmico, analisando também como os conteúdos dos diversos componentes contribuem na formação de um profissional sensível às causas do povo negro. Nesse sentido, tivemos como propósito verificar como tais sujeitos vivenciam situações de racismo na sala de aula. Nosso referencial teórico sobre a identidade étnica afro-brasileira aborda autores como Hall (2003), Munanga (2006), Gomes (2003), entre outros. Tomamos consciência da relevância de se discutir etnicidade afro-brasileira no cotidiano do nosso curso a partir de nosso grupo de estudos, uma vez que é de fundamental importância ter formação apropriada para tratar essas questões em sala de aula. Nesse sentido, é preciso uma formação adequada ao educador/a para que possa formar o/a educando/a.

METODOLOGIA:
A metodologia adotada refere-se à pesquisa do/no/com os cotidianos do Curso de Pedagogia da UEPB, campus de Campina Grande, conforme Alves e Oliveira (2008), Oliveira e Sgarbi (2008), que nos desafiam a mergulhar nas vivências diárias para compreender a rede de relações que são tecidas no espaço mencionado. Os dados foram coletados através da observação, com registro em diário de campo, entrevistas, conversas informais e discussões no grupo de pesquisa. Os sujeitos pesquisados foram quatro professores/as e treze alunas/os do currículo implantado em 2008, dos turnos da manhã e da noite do referido curso. Este procedimento de seleção  facilitou o estabelecimento de múltiplas redes como aponta Alves (2002), visto que as pesquisadoras também são do curso, e, neste tipo de pesquisa, todos/as participam  relacionando-se entre si. A análise dos dados considerou as narrativas das pessoas envolvidas no intuito de perceber  indícios reveladores das tramas, das indisciplinas, dos avanços e recuos no trato com a temática em questão.
RESULTADOS:
Alguns professores/as apontaram o fato de que muitas turmas não se interessaram pela etnicidade afro-brasileira, já as alunas afirmaram que esta questão não foi tratada em sala de aula, pela maioria dos/as professores/as. Quando foi contemplada o/a docente tinha uma identificação com a mesma. Outro motivo seria a carga horária das disciplinas que não supre todo conteúdo. Todavia os/as professores/as alegaram ser possível promover o debate no seu componente curricular. Quanto às alunas entrevistadas, estas disseram encontrar dificuldade em obter material diversificado sobre o assunto, o que de certa forma prejudicou o desenvolvimento do trabalho. Observamos que algumas alunas não se identificaram como negras. Segundo Santos (2002), é difícil ser negro no Brasil, pois não é apenas uma questão de cor da pele, ou dos traços físicos, é uma decisão política. Na fala de algumas discentes e em alguns gestos ficou implícito o desconforto em dizer-se negra, mas outras assumiram com convicção e entusiasmo. Um destaque é que o nosso grupo de pesquisa também contribuiu para despertar a discussão da temática em alguns momentos e permitiu o avanço das abordagens sobre o tema.
CONCLUSÃO:
No cotidiano do Curso de Pedagogia percebemos que a questão afro- brasileira é superficialmente discutida, embora  tal tema esteja referendado em nosso Projeto Político Pedagógico. Entretanto, a principal justificativa dada pelos/as professores/as em não se aprofundarem no assunto seria a falta de interesse dos/as alunos/as, mas como irão apresentar interesse se não houver incentivo e motivação por parte dos docentes? Sabemos que não adianta exigir o cumprimento da lei sem o aprofundamento dos estudos sobre raça, etnicidade e mestiçagem no Brasil, além de suas consequências para a formação do povo brasileiro. Entendemos ser de fundamental importância os/as alunos/as serem estimulados/as e conscientizados/as da real história e cultura da África, tendo em vista estarem num curso de formação docente visando o ingresso futuro nas  salas de aula do Ensino Fundamental. Destacamos em nossa pesquisa o fato de algumas alunas entrevistadas terem se identificado negras e visivelmente inseridas no contexto da discussão, o que nos fez perceber que nosso mergulho no cotidiano foi compensador. Esse enfoque aprofundado do tema despertou nossos sentidos, fazendo-nos perceber a relevância de se discutir racismo em um curso de formação docente.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq
Palavras-chave: Etnicidade afro-brasileira, Cotidiano , Formação docente .