62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 4. Turismo e Hotelaria - 1. Fundamentos Teóricos
OS EFEITOS DA COBRANÇA DE INGRESO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Frederico de Castro Nóbrega 1
1. Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Turismo/UFF
INTRODUÇÃO:

A pesquisa de perfil dos visitantes do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET), localizado em Niterói-RJ, foi realizada por estudantes do curso de turismo da Universidade Federal Fluminense no mês de Julho de 2009, atendendo a uma solicitação da administração do parque. Dentre as questões do formulário, elaborado pelos estudantes sob a coordenação de professores, algumas foram inseridas a pedido da administração do PESET. A pergunta que nos atemos neste trabalho, está relacionada com o fato de o visitante estar, ou não, disposto a pagar ingresso para acessar o PESET. Essa questão suscita algumas discussões por envolver o caráter público da unidade de conservação, a mudança de percepção dos visitantes quanto ao local e à educação ambiental. Os resultados da pesquisa demonstraram uma considerável aceitação do pagamento de taxa de ingresso, sob o entendimento de que se estariam contribuindo para preservação do local. Entretanto, é justamente essa impressão que pode contrapor a educação ambiental, pois dificulta a reflexão ao tornar o local um produto. Conseqüentemente, vai contra o processo de preservação ambiental por permanecerem os hábitos cotidianos lesivos ao meio ambiente - que se espera serem repensados com o contato à área preservada.

METODOLOGIA:

A pesquisa do perfil do visitante do PESET foi realizada entre os dias 19 e 26 de Julho de 2009, em três entradas de trilhas do parque: Morro das Andorinhas, Mirante de Itaipuaçu e Centro de Recepção aos Visitantes em Itacoatiara. Participaram da realização da pesquisa dezessete estudantes de turismo, divididos em dois turnos de 6 horas, pela manhã e a tarde, aplicando os formulários de pesquisa sob a coordenação in loco de dois outros alunos que já tinham experiência em pesquisas. A coordenação remota foi feita por um professor do curso de turismo. As duzentas e trinta e uma entrevistas foram tabuladas no software Excel, gerando gráficos e tabelas.

RESULTADOS:

Os resultados da pesquisa demonstram que 52% dos entrevistados declararam estar dispostos a pagar ingresso caso fosse cobrado. A sensação do visitante de que ao pagar estaria ajudando a preservar o local era recorrente durante a pesquisa. Ao observarmos outros dados relacionados à satisfação da visita podemos reiterar tal afirmação: 99,6% pretendem voltar e 52,3% não indicaram nada que não tenha agradado. Pagar para preservar pode implicar algumas distorções que refletem na própria preservação ambiental por afetar a educação ambiental. Entendemos a educação ambiental como a capacidade de considerar e discernir sobre as relações com o outro e com o meio que nos cerca, buscando-se o equilíbrio. O parque cumpre o papel de criar um vínculo entre a pessoa e o espaço natural visitado, no qual ela repensaria seus hábitos em prol da conservação do local, dando início a um processo mais amplo da educação ambiental. Ao pagar o ingresso, o visitante reprimiria tal processo reflexivo ao tratar o local como mais um produto: se ele paga é porque alguém cuida do local, então já faz a sua parte. Como resultado, no máximo, ele teria hábitos adequados ao visitar o parque, não chegando a perceber o quanto suas atitudes cotidianas podem refletir na qualidade do ambiente que o cerca.

CONCLUSÃO:

O processo reflexivo que a visita ao parque poderia proporcionar é perdido pela cobrança de ingressos. Tal processo é necessário à tomada de consciência do homem quanto as suas relações com o mundo. Teria início numa área natural protegida porque, justamente por ser protegida, traduz estar sob risco, e o risco dessas áreas sumirem ameaça a própria vida do homem. No entanto, quando o ingresso é cobrado a pessoa se mantém na lógica vigente atualmente, na qual tudo se torna produto; onde ela tem direito sobre aquilo que paga porque compra; onde a reflexão é suprimida pela propaganda, e as pessoas são conduzidas a comportamentos e atitudes. E, sendo um produto, é comprado por quem pode pagar e exclui quem não pode, deixando a margem do processo de mudança de paradigma parte da população. Ambos os aspectos, de reprimir o processo de educação ambiental dos visitantes e de excluir parte da população da possibilidade de reflexão, nos alertam para a cobrança de ingressos em unidades de conservação como uma conduta arriscada no que tange a preservação ambiental. Portanto, a aceitação por boa parte dos visitantes não deve significar uma perspectiva positiva quanto a cobrança de ingressos.

Palavras-chave: Unidades de conservação, Uso público , Parque Estadual da Serra da Tiririca - RJ.