62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
A EXPERIMENTAÇÃO E A POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO DE CONCEITOS POR ALUNOS SURDOS
Renata Cardoso de Sá Ribeiro Razuck 1, 3
Fernando Barcellos Razuck 2, 1
Maria Carmen Tacca 1
1. UnB
2. Capes
3. SEEDF
INTRODUÇÃO:

Alguns obstáculos no processo de escolarização são observados em alunos surdos que chegam ao Ensino Médio (LACERDA, 2006). Como conseqüência, muitos se encontram defasados na relação idade / série e não possuem domínio dos pré-requisitos necessários para várias áreas de estudo, inclusive as de Ciências. Vigotski (1997), em seus estudos sobre a Defectologia, constata que os defeitos e as dificuldades são socialmente instituídos. Afirma que "a criança deficiente não está apenas constituída de defeitos, seu organismo se reestrutura" (VIGOTSKI, 1983, P.134). Conclui-se então que se faz necessária uma atuação que busque as possibilidades de aprendizagem e não as dificuldades, já que diferentes situações de ensino-aprendizagem podem possibilitar desenvolvimento. Neste trabalho, propõe-se uma metodologia de ensino alternativa em Ciências que facilite a formação de conceitos científicos por alunos surdos. Foram então analisadas situações em aulas de laboratório de Ciências / Química envolvendo o conceito de Efervescência. Acredita-se que estas aulas podem vir à favorecer a aprendizagem de conceitos científicos por alunos surdos do Ensino Médio.

METODOLOGIA:

Alunos ouvintes e surdos incluídos em turmas regulares de uma escola pública de Ensino Médio do Distrito Federal foram levados ao laboratório de Química da escola e fizeram um simples experimento de efervescência de comprimido em água à temperatura natural, aquecida até aproximadamente 60º C e resfriada com pedras de gelo (aproximadamente 3º C). Foi medido o tempo de efervescência em cada caso. Foram discutidos os conceitos de efervescência, dissolução e ionização, diferenciando-os. O principal objetivo da experimentação era introduzir o conceito de efervescência e levá-los a compreender que a velocidade da reação pode ser alterada pela temperatura. Para desenvolver esta pesquisa, os professores regente e intérprete realizaram um planejamento conjunto. Seis alunos surdos agruparam-se em três grupos diferentes, com um total de cinco alunos (entre surdos e ouvintes) em cada grupo. Tais grupos localizaram-se próximos ao professor intérprete.

RESULTADOS:

Após a realização do experimento, solicitou-se aos alunos que respondessem à uma atividade complementar ao experimento. Nesta atividade pediam-se dados diretos do experimento (como o tempo necessário para cada efervescência) e também dados que exigiam uma maior compreensão do conteúdo, como o que é efervescência e em qual temperatura da água é mais interessante dissolver o comprimido e porquê. A análise da atividade complementar, o processo de observação da aula e a interação entre os alunos, com o professor regente e intérprete, faz inferir que tais alunos sentiram-se parte integrante da turma, conseguindo responder satisfatoriamente as perguntas da atividade proposta, com o mesmo grau de desenvoltura dos demais alunos.

CONCLUSÃO:

Verificou-se que a experimentação privilegia a observação visual e favorece a aprendizagem de conceitos científicos por alunos surdos. O uso desta metodologia possibilita também a integração entre os alunos surdos e ouvintes e entre os alunos e os professores. Além disso, o conceito de efervescência alavanca vários outros conceitos físico-químicos introduzidos ao cognitivo dos alunos. Porém, apenas as aulas experimentais não asseguram, por si só, a aprendizagem significativa e a relação entre teoria e prática, uma vez que algumas pesquisas revelam a prevalência de visões essencialmente simplistas sobre a experimentação no Ensino de Ciências (Silva; Zanon, 2000). Compete ao professor o papel de intermediar a transposição didática entre o experimento e o conceito, uma vez que as atitudes e posturas dos professores interferem na aprendizagem de qualquer aluno. Conclui-se também que alunos com deficiências são apenas diferentes em um aspecto físico, mas possuem inúmeras possibilidades de aprendizagem.

Palavras-chave: Ensino de Ciências, Defectologia, Formação de Conceitos.