62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
O ARBUSTO DOS ANJOS
Iara Maria Carvalho Medeiros dos Santos 1
Derivaldo dos Santos 1, 2
1. UFRN/ CCHLA/ PPgEL
2. Prof. Dr. - Orientador
INTRODUÇÃO:

Este resumo é decorrente da dissertação de mestrado intitulada O ARBUSTO DOS ANJOS, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, do CCHLA/UFRN, para obtenção do título de Mestra em Literatura Comparada. O trabalho concluído objetivou realizar uma leitura da obra de Augusto dos Anjos, Eu (1912), de modo a identificar, no teor dialético de seus versos, uma atitude crítica do poeta frente à realidade instituída, assumindo, para tanto, dimensões utópicas que o fazem vislumbrar outras possibilidades de existência.

METODOLOGIA:
Como fundamentação teórica, o estudo apoiou-se em Nietzsche, em cujos textos de A Vontade de Poder (1884-1888) tomou de empréstimo uma concepção de niilismo díspar do fatalismo e da resignação, porque voltada para uma negação das verdades instituídas; também baseou-se no pensamento de Benjamin, em suas Teses sobre o conceito de história (1940), de onde foi possível enxergar, no desvio revolucionário pelo passado, uma oportunidade de construir um futuro diferente do agora. O estudo analisou alguns poemas de Augusto dos Anjos, tomando-os como realidade criadora que mantém pontos de contato com a realidade imediata do poeta. Apoiando-se no método de análise de Antonio Candido (2004), este trabalho privilegiou o estudo de cinco sonetos constituintes do Eu, a saber: "O Lázaro da Pátria", "Ricordanza della mia Gioventú", "A Árvore da Serra", "Debaixo do Tamarindo" e "Vozes da Morte".
RESULTADOS:

O estudo constatou que o niilismo e a utopia, na poética do mórbido, não constituem uma polaridade, nem se anulam; antes se articulam como uma categoria dialética que dá fundamento ao procedimento lírico do poeta. Encerram um movimento tenso e um dos pilares da poesia anjosiana: por um lado, o niilismo implica destruição da vida estagnada, sem sentido, vida amorfa, cotidiano de miséria e sofrimento; por outro, a utopia como desejo de alcançar uma espécie de plenitude da vida, implica celebração do humano.

CONCLUSÃO:

A nossa contribuição aos estudos já realizados acerca da obra poética anjosiana reside na percepção de uma "trilogia da árvore", composta pelos poemas "A Árvore da Serra", "Debaixo do Tamarindo" e "Vozes da Morte". Neles, observamos não apenas uma renúncia ao processo de coisificação humana legitimado pela sociedade moderna; nem somente a luta pela preservação do meio ambiente; mas, sobretudo, um convite a pensar a nossa própria humanidade enquanto parte constitutiva de um todo cósmico, uma comunidade planetária e densamente poluída em seus valores mais primordiais. Por esses motivos, enxergamos nesta "trilogia da árvore" uma autêntica representação de seu niilismo utópico.

Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Augusto dos Anjos, Niilismo, Utopia.