62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A Curiosidade Como Ferramenta na Construção do Conhecimento Científico
Aurinete Santos 1
Martamiria Santos 1
Valdiana Vieira 1
Petronildo Bezerra da Silva 2
1. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
2. Prof. Mestre/Orientador - Dep. de Métodos e Técnicas de Ensino - C.E. - UFPE
INTRODUÇÃO:

Por ser um espaço privilegiado para compartilharmos conhecimentos construídos pela humanidade ao longo da história, a escola deveria ser um local de indagações, questionamentos, perguntas e descobertas. No entanto, muitas vezes a curiosidade dos alunos não são atendidas, nem respondidas. O educador Edgar Morim declara que instigar a curiosidade das crianças é a melhor forma de despertá-la para o saber e que as crianças devem ter a oportunidade de desenvolver capacidades, que despertem uma inquietação diante do desconhecido. O objetivo deste trabalho de pesquisa foi investigar os efeitos da exploração da curiosidade dos alunos na construção do conhecimento científico. Para tanto buscamos identificar as curiosidades dos alunos na área de ciências, desenvolver e aplicar uma seqüência didática a partir do interesse dos alunos, observar o avanço no nível de elaboração da pergunta e avaliar a construção de conhecimentos científicos durante o trabalho de pesquisa.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada em duas etapas. A primeira teve como propósito conhecer as curiosidades dos alunos. Para isso, os alunos registraram suas curiosidades para área de ciências sob forma de pergunta, a partir dos registros foi feita uma categorização das curiosidades em forma de áreas de conhecimentos de acordo com os eixos propostos pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). O conteúdo que apareceu com maior freqüência foi selecionado para o planejamento de uma seqüência didática. Na segunda etapa aconteceu o desenvolvimento da seqüência didática, composta por seis encontros com uma carga horária total de 12 horas. Cada encontro correspondeu a uma aula de 2 horas que aconteceu duas vezes por semana de forma seqüenciada. Os instrumentos de coleta utilizados foram observações e atividades didáticas. As atividades propostas nos permitiram um acompanhamento da aprendizagem de conceitos científicos. Como recursos materiais foram usados vários MP3 que ficaram localizados entre os alunos com o objetivo de gravar a fala deles no momento de discussões em grupo. O espaço de pesquisa foi uma sala de aula do 4º ano do ensino fundamental da Região Metropolitana do Recife. Os sujeitos envolvidos foram 25 alunos com faixa etária entre 10 a 14 anos.

RESULTADOS:

A partir do trabalho pedagógico desenvolvido, voltado para a exploração da curiosidade, percebemos vários efeitos da curiosidade. Primeiro observamos uma "nova postura", pois no início do trabalho os alunos apresentavam postura tímida, receosa, e o término mostravam-se com uma nova postura, mais inquieta, indagadora. Também foi constatado que o cultivo da curiosidade evidencia o efeito dos "por quês", que incentiva a busca de respostas e conseqüentemente a construção de novos conhecimentos. Um outro aspecto que percebemos no decorrer das aulas foi que ao instigar a curiosidade, os alunos se arriscaram e comunicaram suas idéias "sem medo de errar". Acreditamos que arriscar-se ao comunicar suas idéias e justificá-las ainda sem conhecimentos científicos é fundamental para a construção do conhecimento. Também foi constatado que as perguntas dos alunos tinham um outro "nível de elaboração", apresentavam uma maior complexidade. Ainda observamos que os alunos puderam "compreender de maneira prática a aplicabilidade da ciência em suas vidas". Reconhecer os conhecimentos científicos no seu dia a dia, é em nossa concepção uma possibilidade de compreender o mundo que nos cerca e também transferir e ampliar os conhecimentos construídos na sala de aula para além dos muros da escola.

CONCLUSÃO:

Nossa pesquisa evidenciou que um trabalho voltado para a exploração da curiosidade favoreceu o desenvolvimento de uma postura indagadora, envolvimento nas atividades, valorização das descobertas e um avanço considerável no nível de elaboração das perguntas que passaram a se apresentar com maior complexidade. Portanto, acreditamos que a curiosidade é uma ferramenta na construção de conhecimentos científicos. Os resultados indicam a possibilidade de uma educação de perguntas, ao invés de uma educação de respostas prontas, ou seja, uma educação pretensiosamente voltada para o desabrochar do espírito investigativo nas crianças. Sendo assim, essa pesquisa ganha relevância ao evidenciar a possibilidade de trabalhar conteúdos curriculares partindo das curiosidades dos alunos. Não acreditamos que essa exploração possa acontecer apenas nas aulas de ciências, temos certeza que as cabeças das crianças estão fervendo de tantas outras curiosidades dos mais variados temas envolvendo a geografia, história, matemática, enfim curiosidades sobre o mundo.

Palavras-chave: Curiosidade, Ciências, Conhecimento Científico.