62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
O OLHAR DE VEJA SOBRE O PLANALTO DE 2005 A 2006
Meiriluce Santos Perpétuo 1
Mara Franco de Sá 1
1. Associação Educativa do Brasil - UNICESP - SOEBRÁS
INTRODUÇÃO:

A pesquisa realizou um estudo do discurso utilizado pela revista VEJA em sua capa e na seção Editorial, em cujos números são estampadas manchetes alusivas à crise política, deflagrada por denúncias de corrupção no governo Lula.

A pesquisa teve como objetivo avaliar o que fala o veículo de comunicação em estudo, como descreve e para quê, na tentativa de compreender as estratégias de linguagem jornalísticas adotadas em suas manchetes de capa e na coluna "Carta do Leitor". Assim, a forma de elaboração dessas notícias, as mensagens, suas entrelinhas, a linguagem e seus movimentos foram nossos objetos de reflexão.

A relevância da pesquisa consistiu no desenvolvimento de uma reflexão sobre o discurso presente nas notícias veiculadas, buscando compreender o uso e a adaptação da linguagem, da imagem e do método de abordagem, avaliando a intencionalidade do discurso ao verificar o processo de apuração dos fatos e quais opiniões e fontes que procura ouvir, na tentativa de estabelecer a compatibilidade entre o factual e aquilo que deseja afirmar como verdadeiro.

METODOLOGIA:

O estudo apresenta uma análise das capas e da coluna "Carta ao Leitor" da Revista VEJA, entre maio e setembro de 2005, cujos números trazem manchetes e opiniões editoriais alusivas ao mensalão, uma crise política surgida a partir de denúncias de corrupção e pagamento de propina no governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva.

A coleta de dados foi realizada a partir das manchetes de capa e da coluna "Carta ao Leitor", espaço que a revista dedica a publicar seu ponto de vista. Os números foram selecionados a partir da primeira denúncia de corrupção, em 2005, até a publicação, em maio de 2006, da descoberta de uma suposta conta de Lula e seus assessores no exterior. Ao todo foram avaliadas 40 capas e 22 editoriais.

Para fundamentação teórica adotamos a Análise de Discurso, que se fundamenta na interpretação e busca entender o processo significativo e a interpretação dos sentidos da linguagem. Nessa perspectiva, pode-se entender que os sentidos não estão nas palavras. Pré-existem e estão além delas. Segundo Orlandi, as palavras do nosso cotidiano chegam a nós carregadas de sentidos que não sabemos como foram constituídos, mas têm significado "em nós e para nós". (Orlandi, 2003, p. 20)

RESULTADOS:

VEJA afirma que os critérios adotados pela edição para definir suas capas, matérias e os assuntos são decorrentes da relevância das informações obtidas e do interesse social. Destaca, ainda, que a qualidade da revista é devida à responsabilidade de sua equipe na elaboração e apuração das reportagens. Embora apresentando esse discurso, a revista compõe uma nova vertente instalada na imprensa atual: o denuncismo. Ramonet (1999), afirma que essa crise tende a deixar a informação em descrédito, já que é um recurso que, dependendo de como for utilizado, deságua em sensacionalismo. Esse tipo de informação, facilitada pela tecnologia, passou a ocupar os mais diferentes meios de comunicação. Desde que foi deflagrada a crise, VEJA ocupou-se em publicar, em praticamente todas as capas que se sucederam, manchetes que denunciavam corrupção e supostos envolvidos. Conseqüentemente, em vários episódios, foi acusada de ser partidária, o que negou veementemente. Mas, confrontando os enunciados da revista, percebe-se a característica de diálogo adotado, em que predomina uma só voz. Assim, podemos traçar um paralelo entre as intenções implícitas no texto, uma vez que supõe-se que, quem fala, tem intenção de comunicar algo e de alguma determinada forma atingir o público.

CONCLUSÃO:

Os resultados apontam que a intenção, aparentemente óbvia, é convencer o leitor de que não há sombra de dúvida de que ela fala a verdade. Essas articulações utilizadas pela revista são características da persuasão, cuja intenção, segundo Koch (1984), é atingir a vontade, o sentimento do leitor, por meio de argumentos plausíveis ou verossímeis, com caráter ideológico e subjetivo, conduzindo a certezas e levando a inferências que podem convencer o grupo a aderir aos argumentos apresentados.

No caso estudado existe uma mídia conceituada e com credibilidade que fala ao leitor com a convicção de que seus argumentos serão entendidos como verdadeiros e não passíveis de questionamentos, uma vez que reforça, em si mesma, suas afirmações anteriores - evocando o histórico - como provas irrefutáveis que devem ser aceitas como verdade. Vale ressaltar, entretanto, que uma mensagem que é elaborada com a intenção de ser entendida de determinada forma, necessariamente não atinge esse objetivo porque sofre variações de interpretações de acordo com o interlocutor, como esclarece Orlandi (2003).

Palavras-chave: Análise de Discurso, Ética em jornalismo, Jornalismo Político.