62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 2. Enfermagem de Saúde Pública
GÊNERO E SAÚDE: A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS IDENTITÁRIAS MASCULINAS NA SAÚDE DA MULHER
Déborah Karollyne Ribeiro Ramos 1
Jacileide Guimarães 2
Regina Coelli Brasileiro Souza Holanda 3
1. Departamento de Enfermagem - UFRN
2. Profa. Dra. Departamento de Enfermagem - UFRN
3. Profa. Esp/ Orientadora Faculdade de Ciências Médicas - FCM
INTRODUÇÃO:

Os estudos de gênero e saúde representam, atualmente, aspecto importante para o entendimento dos comportamentos masculino e feminino e mostram a estreita relação entre as características pessoais dos indivíduos e o deficit na saúde. Acredita-se que as características intrínsecas à personalidade masculina, auto-suficiência, violência interpessoal, competitividade extrema, desvalorização dos sentimentos de cuidado consigo e com o outro, ambição e sentimento de supremacia em relação ao sexo oposto, são fatores desencadeantes de malefícios à saúde das mulheres, enquanto companheiras ou parceiras sexuais. Neste contexto, configura-se como objetivo desta pesquisa analisar a relação existente entre gênero e saúde, considerando as características que compõem a identidade masculina, e de que modo essas características influenciam a saúde de suas companheiras, justificando-se por sua contribuição significativa para o reconhecimento das implicações do comportamento na qualidade de vida da população, além de concorrer para a redução drástica de certos agravos à saúde, justamente pela mudança de hábitos.

METODOLOGIA:

Trata-se de uma pesquisa etnográfica de caráter quantiqualitativo, cuja população foi formada por mulheres, habitantes do município de Campina Grande-PB, que mantêm relações heterossexuais estáveis, tendo como amostragem as usuárias do Centro de Saúde da Bela Vista, totalizando cinquenta participantes. Os dados foram coletados através da utilização de um questionário e analisados por meio de gráficos e tabelas, expondo os valores em forma de porcentagens, bem como esclarecimentos acerca dos resultados. Para a análise qualitativa seguimos o método de análise de discurso de Bardin, o que suscitou a divisão das respostas das participantes em três grupos, com categorias e subcategorias. Acatando aos critérios éticos e legais presentes nas Normas para Pesquisas com Seres Humanos, encaminhamos este estudo à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), recebendo aprovação em Agosto de dois mil e oito. Foram asseguradas as participantes garantia de liberdade para consentir ou recusar-se participar da pesquisa e ainda retirar-se da mesma antes, durante ou depois da coleta de dados sem penalização e sem prejuízo ao cuidado, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS:

A amostragem foi composta por cinquenta mulheres, com faixa etária entre dezoito e sessenta e um anos. Através da análise dos dados evidenciamos a presença das características que compõem a masculinidade tradicional em noventa e quatro por cento dos companheiros das participantes. Detectamos ainda, que grande parte dessas mulheres - cinquenta e dois por cento - se sente prejudicada pelo comportamento do companheiro. A característica preponderante nos dados foi a aquisição de vícios, dentre eles tabagismo, etilismo, drogas ilícitas e jogo, marcando cinquenta e seis por cento dos resultados, o que confirma as teorias estudadas que afirmam a pré-disposição dos homens à aquisição de vícios ao longo de suas vidas. Em si tratando da percepção da mulher acerca dos danos a sua saúde temos uma sobreposição de relatos envolvendo um sentimento de deficit à saúde psíquica, com evidências de depressão, ansiedade e medo, seguidos de sintomas físicos como cefaléia e náuseas, além de maior pré-disposição às doenças cardiovasculares, neoplásicas e respiratórias devido à inalação, passiva, do monóxido de carbono presente na fumaça do cigarro de seus companheiros.

 

CONCLUSÃO:

A análise quantiqualitativa dos dados nos permitiu comprovar nossa hipótese de que as características intrínsecas da personalidade masculina, são fatores que causam danos à saúde física e psíquica das participantes. Em relação ao modo como estas características afetam a saúde delas, descobrimos que o dano é predominantemente psicológico provavelmente por razões intrínsecas da personalidade feminina. O novo olhar com que foram tratadas as relações de gênero neste estudo possibilitou insurgirem descobertas acerca da percepção da mulher sobre si e sobre sua saúde, além da sobreposição da fragilidade psíquica da mulher a despeito das esferas biológica e fisiológica. Tais esclarecimentos podem contribuir de forma significativa para o entendimento do processo saúde-doença de homens e mulheres, favorecendo a prática dos profissionais de saúde, especialmente no que se refere à detecção de fatores de risco, em potencial, para o surgimento de agravos à saúde, notavelmente os relacionados a fatores comportamentais, bem como favorecer a criação de mecanismos que promovam a adesão de homens e mulheres aos diversos tipos de cuidado à saúde, sejam eles nos níveis primário, secundário ou terciário.  

Palavras-chave: Gênero, Masculinidade, Saúde da mulher.