62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica
EXPRESSÃO DA MIOSTATINA E FOLISTATINA EM MÚSCULO ESQUELÉTICO DE RATOS COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA
Daniele Mendes Guizoni 1
Aline Regina Ruiz Lima 1
Paula Felippe Martinez 1
Ricardo Luiz Damatto 1
Katashi Okoshi 1
Marina Politi Okoshi 1
1. Depto. de Clínica Médica, Fac. de Medicina de Botucatu - FMB/ UNESP
INTRODUÇÃO:

A insuficiência cardíaca (IC) é caracterizada por reduzida tolerância ao exercício físico. Alterações da musculatura esquelética podem estar envolvidas na intolerância aos exercícios. Embora atrofia muscular seja comumente encontrada na IC, os mecanismos responsáveis ainda não estão completamente esclarecidos. A miostatina atua como regulador negativo da massa muscular esquelética. Em ratos adultos, a expressão sistêmica aumentada da miostatina induziu severa perda de músculo e gordura. Tratamento farmacológico com anticorpo para miostatina mostrou aumento da massa e força do músculo esquelético. Estudos clínicos sugerem que a miostatina pode estar envolvida na redução da massa muscular em pacientes com AIDS e câncer. Na IC, há poucos estudos sobre o papel da miostatina na perda da massa muscular. Recentemente, Lenk et al. (2009) relataram que a expressão da miostatina foi aumentada nos músculos cardíaco e esquelético de ratos com IC. Porém, os autores não avaliaram o trofismo muscular nesses animais. A folistatina pode atuar como potente antagonista da miostatina e modificar sua atividade in vivo. O objetivo desse estudo foi avaliar a expressão gênica e protéica da miostatina e folistatina e o trofismo muscular de ratos com IC crônica induzida por infarto do miocárdio.

METODOLOGIA:

Ratos Wistar machos, com peso corporal entre 200 e 250 g, foram submetidos a toracotomia para indução de infarto do miocárdio (IM, n=8). Os resultados foram comparados aos de grupo controle (sham, n=8). Seis meses após, foi realizada avaliação morfológica e funcional do coração por ecocardiograma transtorácico. No dia seguinte, os animais foram eutanasiados para coleta de músculos esqueléticos e de outros tecidos para análise. A presença de IC foi confirmada no momento da eutanásia pelo encontro de dois ou mais dos seguintes sinais: in vivo, taquipnéia, e pós-mortem, ascite, congestão hepática, derrame pleuropericárdico, trombo em átrio esquerdo e hipertrofia do ventrículo direito. O tamanho da área infartada e a área seccional das fibras esqueléticas foram analisados em cortes histológicos corados por hematoxilina e eosina. A quantificação dos mRNAs da miostatina e da folistatina e do gene constitutivo ciclofilina foi realizada por reação em cadeia da polimerase em tempo real após transcrição reversa (RT-PCR). A expressão protéica da miostatina e folistatina foi avaliada por Western blot.

RESULTADOS:

A relação peso do ventrículo direito/peso corporal foi maior no grupo IM (sham 0,54±0,06; IM 1,21±0,22 g/kg; p<0,001). À ecocardiografia, observou-se aumento do diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo (sham 9,14±0,81; IM 11,58 ±1,64 mm; p=0,002) e do diâmetro do átrio esquerdo no grupo IM. A velocidade de encurtamento da parede posterior (sham 37,8±5,3; IM 20,2±3,3 mm/s; p<0,001) e o tempo de desaceleração da onda E (sham 52,0±6,0; IM 31,3±8,0 ms; p<0,001) foram menores no grupo IM. A área seccional das fibras do músculo sóleo (sham 3.572±378; IM 2.982±323 µm²; p=0,006) foi menor no grupo IM e do gastrocnêmio foi semelhante entre os grupos (sham 3.340±443; IM 3.183±418 µm²; p=0,47). A expressão gênica e protéica da miostatina não diferiu entre os grupos em ambos os músculos, sóleo e gastrocnêmio (p>0,05). Houve tendência para a expressão gênica da folistatina ser menor no grupo IM nos músculos sóleo (sham 1,00±0,23; IM 0,48±0,10 unidades arbitrárias; p=0,085) e gastrocnêmio (sham 1,00±0,15; IM 1,53±0,25 unidades arbitrárias; p=0,094). A expressão protéica da folistatina foi menor no grupo IM no músculo sóleo (sham 1,00±0,36; IM 0,18±0,06 unidades arbitrárias; p=0,03) e não diferiu do sham no gastrocnêmio (sham 1,00±0,16; IM 1,21±0,30 unidades arbitrárias; p=0,93).

CONCLUSÃO:

Como a expressão da miostatina é inversamente relacionada à massa muscular, esperávamos que a redução do trofismo fosse acompanhada por aumento da expressão dessa proteína. Entretanto, observamos redução da área seccional das fibras do músculo sóleo em vigência de preservação da expressão gênica e protéica da miostatina nos ratos com IC. Como a atividade da miostatina pode ser modulada pela folistatina, nossos resultados sugerem que a diminuição na expressão da folistatina no sóleo pode ter resultado em aumento da atividade da miostatina, com conseqüente redução do trofismo muscular. É provável que a diferença na composição das fibras entre os músculos sóleo e gastrocnêmio possa ter sido responsável pelo comportamento divergente entre os músculos estudados. O músculo sóleo é composto predominantemente por fibras lentas, tipo I, e o gastrocnêmio apresenta predominância de fibras rápidas, tipo II. Em conclusão, a diminuição do trofismo muscular é acompanhada por preservação da miostatina e redução da folistatina no músculo esquelético sóleo de ratos com insuficiência cardíaca crônica.

Instituição de Fomento: CNPq-PIBIC, FAPESP, Fundunesp
Palavras-chave: Insuficiência cardíaca, Miostatina, Músculo esquelético.