62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE RIOS DA AMAZÔNIA CENTRAL
Janaina Gomes de Brito 1
Ana Karolina Freitas de Sousa 1
Pedro Augusto Suares Mera 1
Luiz Fernando Alves 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
INTRODUÇÃO:

Segundo Ferreira (2004), o homem da Amazônia e o rio acham-se irremediavelmente ligados, quase formando, os dois, uma só unidade. Esses rios, além de importantes para o abastecimento, recreação e navegação, são fontes fundamentais de alimento (peixes), tanto para a população ribeirinha quanto para a população urbana. Com a expansão das ações antrópicas na região, o manejo adequado desses ecossistemas aquáticos vem se tornando uma prática mais necessária a cada dia. Neste contexto, estudos sobre o funcionamento e a qualidade da água desses ecossistemas são importantes alicerces para a implantação de uma economia mais sustentável. No Brasil, o uso de índices para determinar a qualidade da água é bastante usual, uma vez que, agilizam as análises dos dados ao integrarem e converterem várias informações em um único resultado numérico, dispensando uma análise individualizada de cada variável. Neste sentido, o presente trabalho foi desenvolvido com o propósito de determinar a qualidade da água dos rios Negro, Solimões e Urucu utilizando o Índice de Qualidade de Água (IQA), que indica a qualidade das águas para fins de abastecimento, e o Índice de Estado Trófico (IET), que avalia a qualidade da água quanto ao enriquecimento por nutrientes e seu efeito no crescimento excessivo das algas e/ou aumento da infestação de macrófitas aquáticas.

METODOLOGIA:

As amostras de água foram coletadas trimestralmente durante os anos de 2006, 2007 e 2008, cobrindo três ciclos hidrológicos. Cada rio foi amostrado em sete pontos ao longo de seu percurso, exceto, o rio Negro, que foi avaliado em três pontos amostrais. Para a aplicação dos índices, foram determinadas as concentrações de sólidos totais, nitrogênio total, fósforo total, demanda bioquímica de oxigênio, clorofila-a e os valores da temperatura, turbidez, pH e coliformes fecais. O IET foi determinado segundo Carlson, 1977 (modificado para ambientes tropicais por Toledo Jr., et al., 1983) e o IQA segundo a CETESB, 1996 (modificado pela SEMAD, 2005).

RESULTADOS:
Quanto à qualidade da água para abastecimento, obtivemos valores que enquadram as águas desses sistemas fluviais entre "boa" e "aceitável" (IQA=62,0 a 87,7). O rio Negro apresentou águas de boa qualidade para consumo durante todo período de estudo, exceto na cheia (67% das amostras) e vazante (33% das amostras) de 2008, com qualidade aceitável. As águas do rio Urucu, apesar de, no geral, ter boa qualidade, nos períodos de enchente e cheia de 2007 (enchente=71%; cheia=67% das amostras) e 2008 (enchente=100%; cheia=28,5% das amostras), foram enquadradas apenas como aceitável ao consumo. Já as águas do rio Solimões apresentaram boas condições para o consumo nos períodos de cheia (exceto 2007=28,5% das amostras) e vazante e condições aceitáveis na enchente (2006=14%; 2007=100%, 2008=100% das amostras) e seca (2006=14%; 2007=57%, 2008=86% das amostras). Com relação ao estado trófico, o rio Negro se comporta como um sistema oligotrófico (IET= 32,2 a 42,6) enquanto que o rio Solimões pode ser classificado como mesotrófico (IET= 45,3 a 54,2). O rio urucu mostrou grande variação em seu estado trófico (IET= 35,6 a 57,9), alternando-se entre oligotrófico, mesotrófico e eutrófico.
CONCLUSÃO:

De modo geral, tanto o IQA quanto o IET indicam que os rios estudados são pouco impactados por ação antrópica. Provavelmente, as condições mais críticas na qualidade das águas desses rios ("aceitável/regular") estejam mais relacionadas com certas características naturais desses corpos de água, como, por exemplo, baixos valores de pH (Negro=4,5 a 5,8; Urucu=5,1 a 7,0) e baixas concentrações de oxigênio dissolvido (Solimões= 2,6 a 6,3mg/L, Negro= 2,7 a 6,7mg/L; Urucu=1,1 a 8,2mg/L), do que com agentes poluidores (esgoto não tratado, defensivos agrículas) de origem doméstica, industrial ou agrícola. Contudo, para uma melhor avaliação da "saúde" desses ecossistemas é preciso associar os indicadores de qualidade de água com técnicas de biomonitoramento, que avaliam mais satisfatoriamente as respostas das comunidades biológicas às alterações no meio abiótico.

 

Instituição de Fomento: INPA, PETROBRAS, FAPEAM
Palavras-chave: Recursos hídricos, Condições tróficas, Índice de qualidade de água.