62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
RELAÇÕES DE TRABALHO NO SETOR SUCRO ALCOOLEIRO: UM ESTUDO SOBRE OS CORTADORES DE CANA DA MESO-REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO,SP.
Jaqueline Ferreira 1
Raquel Santos Sant`Ana 1, 2
1. Universidade Estadual Paulista
2. Profa. Dra./Orientadora
INTRODUÇÃO:

O presente resumo trás dados parciais de uma pesquisa mais ampla, intitulada "A reprodução social do trabalhador que teve ou tem como principal atividade o corte da cana - Um estudo sobre a relação capital/trabalho na região de Ribeirão Preto - SP", pesquisa na qual a discente foi bolsista PIBIC/CNPq. Pretende discorrer sobre as condições de vida dos trabalhadores e ex-trabalhadores inseridos na agroindústria canavieira na meso-região de Ribeirão Preto,SP.

As reflexões serão feitas com base nos dados colhidos com os cortadores e ex-cortadores.Os resultados da pesquisa evidenciam o nível de exploração e as condições desumanas vivenciadas por este segmento social, com a latente violação de seus direitos trabalhistas e até mesmo humanos. O universo da pesquisa compreende 16 municípios da meso região de Ribeirão Preto. O objetivo do estudo foi mostrar as condições de vida e trabalho dos cortadores de cana e ainda, relacionar esta problemática com a atuação do serviço social.

METODOLOGIA:

Segundo os critérios estabelecidos no projeto de pesquisa, foram feitas entrevistas em município de pequeno porte (até 20 mil hab.), localizado a mais de 30 km das sedes regionais, com o cultivo da cana como principal atividade econômica e com ao menos um Assistente Social vinculado à prefeitura municipal. Serão apresentados dados de 6 regiões administrativas de governo no estado de São Paulo: Franca; São Joaquim da Barra; Barretos; Araraquara ; São Carlos ; Ribeirão Preto.

Este estudo tem como foco o "trabalhador do lugar", natural ou residente que já fechou seu ciclo de migração, tendo em vista o grande número de pesquisa referente ao trabalhador migrante, que é maioria nos canaviais.

Optou-se também que as entrevistas fossem feitas com cortadores e ex-cortadores com mais de 35 anos, já que é notória a preferência por trabalhadores jovens e fortes, visando o aumento da produtividade.

Serão apresentados dados parciais referentes a 26 entrevistas, dentre elas 12 são de cortadores que ainda exercem a atividade e 14 são ex-cortadores. Dentre estes, 21 são homens e somente 5 são mulheres, evidenciando a preferência por trabalhadores do sexo masculino, a quem são atribuídos maior força e consequentemente maior produtividade.

RESULTADOS:

Quase todos os trabalhadores que atuam no corte de cana tem idade entre 36 e 45 anos, pois as metas de produtividade exigidas pelas usinas promovem uma intensificação excessiva do ritmo de trabalho.

Por começarem a trabalhar muito cedo percebe-se um índice muito baixo de escolaridade referente aos trabalhadores, agravado-se ainda mais dentre os ex-cortadores. Estes deixaram a escola ainda muito jovens para ajudar no sustento da família.

Dentre as principais despesas estão os gastos com saúde, alimentação e manutenção da casa.

A maioria dos trabalhadores reside em casas da CDHU, somente dois residem em imóveis alugados.

Como relatado por ex-cortadores, a segurança no trabalho era ainda mais restrita, sem o fornecimento de EPIs. Hoje houve um avanço, com a criação de leis para a proteção do trabalhador, mas que não conseguem protege-lo totalmente. Há vários relatos de trabalhadores que estão impossibilitados de exercer sua atividade devido ao desgaste adquirido pelo forte ritmo de trabalho exigido no eito. Nos canaviais os trabalhadores chegam a exaustão: faz parte do cotidiano sentir enjôo, câimbra e vômito, muitos recorrem a justiça, pois já não tem mais condições nenhuma de trabalhar e são descartados pelas usinas sem terem seus direitos trabalhistas respeitados.

O lazer para a maioria é o descanso, pois de tão cansados não tem ânimo para sair de casa.

CONCLUSÃO:

A pesquisa nos mostra que mesmo com o aumento da vigilância nos canaviais os trabalhadores continuam sendo explorados; os índices de produtividade das usinas que antes eram aproximadamente 8 toneladas por dia, hoje são no mínimo 12 toneladas, levando o trabalhador ao seu limite para não ser mandado embora.

O adoecimento está sendo naturalizado, o ritmo intenso e o trabalho degradante chegam a provocar a morte dos cortadores, como notificado pela Pastoral do Migrante. Desde 2001 foram registradas 21 mortes decorrentes da exaustão nos canaviais do estado de São Paulo, sem contar os casos que não são divulgados, ou que não são reconhecidos como sendo decorrentes do trabalho, pois acontecem em outros ambientes.

O cansaço adquirido no trabalho impossibilita o trabalhador do momento de lazer, pois o tempo que lhe sobra é reservado para o descanso.

A busca incessante pelo desenvolvimento leva os verdadeiros geradores da riqueza a ficarem cada vez mais pobres, pois são eles, cortadores e ex-cortadores que adoecidos, muitas vezes sem auxílio previdenciários, buscando na assistência social as condições de sua reprodução.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Questão agrária, Agroindústria canavieira, Trabalhador rural.