A presente pesquisa esta direcionada ao estudo da população em situação de rua atendida no Centro de Atendimento à População de Rua-CAPR. A expressão população de rua ou morador de rua é utilizada para denominar homens, mulheres e crianças que sobrevivem em situação de rua. No senso comum são identificados como mendigos, entretanto esse termo foi abolido entre as pessoas e instituições comprometidas com essa população. São vistos como os que não tomam banho e nem escovam os dentes, uma completa degradação humana. O morador de rua seria, no vocabulário da exclusão, quem vive da assistência de indivíduos ou de trabalho precário. Isto posto, destacamos que o presente estudo tem como objetivo identificar quem são, quantos e como vivem os moradores de rua de Fortaleza, bem como demonstrar a atuação do CAPR no que se refere à facilitação da afirmação dos mesmos como sujeitos de direitos. Discorremos sobre a atual situação no Brasil, e no Ceará, do qual constatamos que em relação à quantificação a nível nacional, esta ainda é uma incógnita. A insuficiência de dados sobre esta parcela da população é apontada por especialistas como um dos principais obstáculos para a ação do governo federal. O estudo se mostra relevante no sentido de alertar para a necessidade do fomento de políticas direcionadas a esta população.

O percurso metodológico para o alcance dos objetivos propostos no estudo em questão consistiu em pesquisa teórico-documental e de pesquisa empírica realizada no Centro de Atendimento à População de Rua (CAPR) localizada em Fortaleza - CE. A pesquisa teórico-documental foi desenvolvida através de bibliografia referente ao tema e de relatórios obtidos na própria Instituição, a coleta de informações ocorreu na forma de entrevistas abertas, o que proporcionou interagir com os atores sociais escolhidos para a execução deste estudo: profissionais (assistente social e educador social), como também com usuários atendidos na referida instituição.

O Centro de Atendimento à População de Rua - CAPR funciona desde dezembro de 2007. Oferece atendimento psicossocial, orientação jurídica, retirada de documentação, acesso ao Cadúnico, além de abrigamento através de Rede Conveniada. Busca o resgate e fortalecimento dos vínculos familiares, e disponibiliza encaminhamentos aos serviços de saúde e aos programas habitacionais do município. O CAPR atende pessoas a partir de 18 anos, e realiza atividades como oficinas sócio-educativas, artísticas, produção de artesanato, rodas de conversa. Em relação ao perfil dos usuários temos: segundo os dados de fevereiro de 2010, o CAPR possui 697 usuários cadastrados. Destes 76% são do sexo masculino e 15,2% do sexo feminino, é importante ressaltar que as mulheres que estão em situação de rua em sua maioria se dizem estar por causa de seus companheiros. Um total de 86,65% (notória maioria) não possui trabalho, observe-se que 90% estão em plena idade de trabalhar. Em se tratando da escolaridade 50,7% possuem o nível Fundamental incompleto. O motivo da ida para as ruas de 24% se relaciona ao desemprego e de 28% ao consumo de drogas, 36% dos usuários declaram consumir diariamente. Destacamos que o Centro também oferece condições para a higiene pessoal, lavagem de roupas e alimentação.

O consumo abusivo de álcool e de outras drogas é um dos maiores responsáveis pela quebra dos vínculos familiares e motivação para os que estão em situação de rua. Como também o uso freqüente de drogas pelos usuários do CAPR dificulta a adesão e a assiduidade nas atividades oferecidas pela Instituição, sendo seu público complexo, dinâmico e rotativo. Dentre as dificuldades observadas podemos destacar: a infraestrutura insuficiente, tendo em vista uma demanda reprimida, sendo necessária ampliação e formação de novos Centros de Atendimento; a falta de compreensão por parte dos usuários da política e metodologia adotadas pelo equipamento que trabalha na concepção de cidadania e não de viés assistencialista; e o quão é frágil à cidadania dessas pessoas visto o quase inexistente aparato estatal, desprovidas do mínimo para sobreviver, de acesso restrito a bens e serviços, expostas a diversos tipos de violência. Sofrem preconceito por parte da sociedade, que também é expresso por vizinhos do CAPR na forma de agressões verbais e denúncias, e que muitas vezes culpam o individuo por estar nesta situação, não fazendo as mediações para conhecer as verdadeiras causas dessa expressão da questão social.