62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 10. Geociências
APLICAÇÃO DA ESPECTROSCOPIA DE REFLECTÂNCIA NO ESTUDO MINERALÓGICO DE PEGMATITOS DA PROVÍNCIA PEGMATÍTICA DA BORBOREMA, NORDESTE DO BRASIL.
Sebastião Milton Pinheiro da Silva 1
Alvaro Penteado Crósta 2
Rômulo Simões Angêlica 3
Hartmut Beurlen 4
1. Depto. de Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
3. Depto. de Geologia, Universidade Federal do Pará - UFPA
4. Depto de Eng. de Minas, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
INTRODUÇÃO:
A Província Pegmatítica da Borborema abrange uma região de mais de 10.000 km² onde há registros de milhares de pegmatitos produtores de minerais de Ta-Nb, Sn, Be, Li, além de minerais industriais e gemas raras, como a Turmalina Paraíba. A mineralogia diversificada destas rochas motivou este estudo com o objetivo de caracterizar, utilizando a técnica da espectroscopia de reflectância (ER), assembléias mineralógicas que exibem feições de absorção espectral diagnósticas na região do espectro ótico refletido, que vai de 400 a 2500 nm. A ER compreende o estudo e uso da radiação eletromagnética para caracterização de materiais superficiais, por se tratar de técnica sensível às pequenas alterações nas suas estruturas e/ou composições químicas que, frequentemente, resultam em deslocamentos na posição e na forma das feições de absorção da radiação eletromagnética refletida. Uma dificuldade natural do estudo da rocha pegmatítica está na sua amostragem, devido à natural heterogeneidade, variações granulométricas e modal-mineralógicas. A relevância da pesquisa encontra-se na possibilidade de caracterização e de ampliação do conhecimento mineralógico de pegmatitos, o que por sua vez poderá induzir novas pesquisas para ampliar reservas ou descobrir novos jazimentos.
METODOLOGIA:
A área de estudos está localizada na porção sul da PPB, região limítrofe dos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, onde dezenas de pegmatitos homogêneos e heterogêneos, em parte caulinizados, ocorrem intrudidos principalmente em quartzitos da Formação Equador e, secundariamente, em biotita xistos da Formação Seridó. O trabalho envolveu a amostragem em 56 ocorrências e garimpos de pegmatitos em operação e paralisados, com a coleta de 189 amostras para estudo e análise com a ER, incluindo o levantamento de campo mais detalhado no pegmatito do Alto do Giz. Foram geradas curvas espectrais referentes a amostras coletadas e de leituras em campo com o espectrorradiômetro portátil FieldSpec Full Resolution Pro, da Analytical Spectro Devices (ASD). A técnica dispensa qualquer preparação de amostras, tendo-se realizado as leituras em superficies lisas e limpas, livres de contaminação de poeira e caulim. A análise e caracterização espectro-mineralógica basearam-se na interpretação das posições, intensidades, formas e declividades das feições de absorção espectral observadas nos espectros de laboratório e de campo, utilizando os aplicativos de análise espectral The Spectral Geologist/TSG-5 PRO e SIMIS Features Search 1.6, além do programa Environment for Visualizing Images - ENVI.
RESULTADOS:
A caracterização de minerais de pegmatitos com emprego da técnica da espectroscopia de reflectância possibilitou identificar como principais fases minerais caulinita, muscovita, illita/sericita, lepidolita, montimorilonita, mica sódica, cookeita e turmalina. A mineralogia dos pegmatitos homogêneos é mais simples, dominantemente constituída por caulinita, muscovita, illita/sericita, além de feldspato, quartzo e raramente turmalina, da variedade schorlita, demonstrando a pouca diferenciação/evolução destas rochas. No pegmatito heterogêneo do Alto do Giz foram ainda identificadas lepidolita, mica sódica e cookeita, esta última constituindo a terceira ocorrência registrada na PPB. As fases e misturas de fases minerais identificadas contribuíram para definir uma zona litinífera (cookeita+lepidolita) nas bordas de dois núcleos de quartzo e o zoneamento interno do Alto do Giz. Com base nesses resultados é proposta sua classificação como do tipo complexo, sub-classe espodumênio. Além disso, foram reconhecidos pelo menos três estágios de sua evolução: um primeiro relacionado à cristalização de espodumênio, um outro de natureza hidrotermal, que deu origem à cookeita e, finalmente, um terceiro estágio de caulinização ligado a processo hidrotermal e/ou supergênico.
CONCLUSÃO:
A técnica da espectroscopia de reflectância mostrou-se eficaz nos trabalhos de campo, e de notável utilidade por permitir a identificação mineralógica e orientar amostragens e o mapeamento de pegmatitos. Ela pode ser utilizada de forma sistemática, a partir de leituras coletadas em laboratório e/ou no campo em pegmatitos homogêneos e heterogêneos. Isto foi demonstrado com os resultados obtidos para o pegmatito do Alto do Giz, os quais possibilitaram definir o seu zoneamento interno, propor sua classificação e também caracterizar algumas das fases de sua evolução. A ER constitui uma nova ferramenta estratégica para estudo e prospecção desse tipo de rocha e mineralizações associadas, tanto na PPB como em outras províncias pegmatíticas no mundo.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP
Palavras-chave: Espectroscopia de reflectância, Pegmatitos, Província Pegmatítica da Borborema.