A Insuficiência Venosa Crônica (IVC) é uma enfermidade crônica que está relacionada à presença de hipertensão venosa prolongada. Apesar da mortalidade ser quase inexistente, apresenta elevada morbidade e é caracterizada principalmente pela ocorrência de Úlcera Venosa (UV) nos membros inferiores. ⁵ Esse tipo de lesão apresenta-se com alta prevalência, caráter recidivante, o que provoca sofrimento ao paciente e a sua família. Além de gerar dependência dos serviços de saúde, constituindo um problema de saúde pública, e assumir uma magnitude no que se refere à repercussão social e econômica em termos de dias de trabalho perdidos, acarreta diminuição da qualidade de vida. ^1,5,8. Nesta situação surgem dificuldades que muitas vezes nem a pessoa nem a família e a equipe de saúde estão preparados para ajudar e compreender todos os aspectos que envolvem o problema. ¹¹ Apesar do impacto da vida diária com uma ferida poder ser visto de diferentes maneiras, apenas o indivíduo realmente entende o significado dessa experiência. ¹² Nesse sentido, esse estudo tem como objetivo verificar as alterações na qualidade de vida referidas pelos portadores de UV atendidos no ambulatório de um Hospital Universitário em Natal/RN.

Trata-se de um estudo transversal, descritivo de abordagem quantitativa, realizado com 50 portadores de UV atendidos no ambulatório de angiologia de um hospital universitário em Natal/RN após obter parecer favorável do Comitê de Ética HUOL/UFRN (nº 279/09). A coleta de dados foi realizada em dois meses, através da aplicação de um formulário estruturado referentes aos dados sócio-demográficos, de saúde, clínicos, assistenciais do paciente e quatro questões referentes à qualidade de vida (discriminação/quem discrimina/mudança na qualidade de vida/quais mudanças), e uma relacionada à assistência, referindo-se ao apoio recebido no tratamento (recebe apoio/quem apóia). Os dados foram categorizados no Microsoft Excel e processados através do SPSS 15.0 através de estatística descritiva e inferencial.

Houve predomino de pacientes do sexo feminino (76,0%), faixa etária menor do que 59 anos (74,0%) e baixa escolaridade (68,0%). Em relação ao estado civil, 62,0% eram casados ou com uma união estável, e 22,0% dos pacientes solteiros. Sobressaiu a religião católica (68,0%). Em relação ao número de filhos, 38,0% dos pesquisados tinham mais de três filhos, sendo 42,0% do sexo feminino. Os pesquisados referiram sofrer discriminação da sociedade (58,0%) e quanto às mudanças na qualidade de vida referidas pelos portadores de úlcera venosa, 98,0% dos pesquisados relataram sofrer mudança na qualidade de vida após o surgimento da lesão; 100,0% (n=21) dos pesquisados com lesão acima de 05 anos, apresentam mudanças na QV e apenas um (2,0%) paciente dos que tiveram tempo de lesão de até 5 anos relata que não houve mudança na sua qualidade de vida. As mudanças na qualidade de vida após o surgimento da úlcera foram relacionadas ao lazer/dor/restrição social/escolar/locomoção; restrição laboral/financeira/ progressão social; aparência física/discriminação e restrição de atividade doméstica. Ao comparar essas mudanças com o tempo de lesão, observou-se que o tempo de lesão influencia na mudança da qualidade de vida (ρ=0,000).

Os pesquisados apresentaram mudanças na qualidade de vida após o surgimento da úlcera, em relação ao lazer/ dor / restrição social / escolar / locomoção; restrição laboral / financeira / progressão social; aparência física / discriminação e restrição de atividade doméstica. Essas mudanças foram influenciadas pelo tempo de lesão superior a 5 anos, e estatisticamente comprovado que quanto mais crônica for a lesão mais mudanças negativas ocorrerão na qualidade de vida dos portadores de UV. O tema de qualidade de vida nestes pacientes vem sendo bastante discutido entre os pesquisadores da área e o governo, pois para diminuírem gastos com o tratamento das lesões, faz-se necessário a prevenção das doenças que causam o surgimento das úlceras, bem como investir em políticas de melhoria na qualidade de vida dos pacientes com UV, visando evitar ou reduzir a cronicidade das lesões.