O brincar é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo uma necessidade fundamental para o desenvolvimento psicomotor, afetivo e cognitivo para os infans. Segundo Piaget, o desenvolvimento moral é oportunizado através das relações sociais que envolvem regras, autoridade e respeito. As cantigas de roda caracterizam-se por símbolos fecundadores de toda a vida subjetiva e funciona como possibilidade da criança experimentar o seu corpo, a linguagem e inserir-se no convívio sociocultural. Atualmente as crianças estão sendo incentivadas pelos educadores a dar um novo sentido às cantigas de roda cantadas pelas crianças de gerações passadas, por entenderem haver nessas aparentemente inocentes cirandas, símbolos que direcionam a violência. Numa proposta metodológica de pesquisa-ação cabendo aos pesquisadores um ativo papel no equacionamento dos problemas identificados, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas, pretendeu-se, de forma lúdica, com este trabalho, despertar na criança a reflexão crítica sobre as cantigas de roda apresentando-as em duas versões: a original e a adaptada. Utilizando como referencial teórico a teoria piagetiana sobre o desenvolvimento infantil e as reflexões de Cascudo (1968), Godinho (1996) e Vygotisky (1934).

Realizamos um estudo exploratório, do tipo qualitativo, utilizando a videografia para avaliar uma proposta de pesquisa-ação. Participaram deste estudo seis infans, sendo três com 5 anos de idade e três com 7 nos de idade de ambos os sexos, todos residentes da comunidade de Ouro Preto - Olinda. O estudo transcorreu em três momentos; (a) Análise de um vídeo com a cantiga de roda numa proposta pedagogicamente adaptada; (b) Análise de um vídeo com a cantiga de roda na versão original; (c) Elaboração de desenhos feitos pelas crianças que traduzissem o significado da letra das duas versões das cantigas.

Nas produções feitas pelos infans, percebeu-se o despertar crítico pela a composição apresentada desde o primeiro momento da pesquisa, porém, sem muita descrição e clareza de pensamentos, posteriormente, a partir da elaboração dos desenhos constata-se a capacidade da inserção da crítica sobre um olhar minuncioso dos próprios infans. Uma de nossas expectativas era a preferência por uma das versões apresentadas, hipótese refutada pela atividade com os infans que se mostraram mais entusiasmada com a realização da crítica textual.

Acreditamos indicar, por meio desta pesquisa, a necessidade de despertar o senso crítico nos infans a partir do reconhecimento, e não da negação ou ocultação, dos aspectos moralmente questionáveis presentes na vida cotidiana e na cultura tradicional e mesmo infantil. A releitura das cantigas de roda em duas versões permitiu que os mesmos pudessem diferenciá-las e realizarem reflexões. É necessário considerar que a crítica consiste num discernimento, num esforço de separar o que pode ser reconhecido a fim de reencontrar as orientações mais coerentes e desejáveis diante do meio em que vivem.