62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
DESENVOLVIMENTO MORAL: A IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO SOCIAL PARA A CONSTRUÇÃO DE NORMAS BÁSICAS PARA AJUDAR AO OUTRO
Nilvania dos Santos Silva 1
1. Profª Dra. Curso de Pedagogia, Universidade Federal do Tocantins - UFT
INTRODUÇÃO:
O comportamento e as idéias morais de uma criança dependem tanto do estágio de desenvolvimento como de suas relações sociais. Partindo disto, estudou-se aspectos básicos ao raciocínio moral, em particular as decisões de seguir ou não as regras. Realizar esta pesquisa possibilitou conhecer melhor quais as interações sociais que podem oportunizar a adoção de valores e princípios adotados pela comunidade da qual a criança é parte. Utilizou-se a perspectiva teórica de Jean Piaget. Inicialmente, até os dois anos de idade, a criança não sente que deve obedecer a uma regra, marca do estágio da anomia. Após os dois anos de idade há o egocentrismo, marcado pela incapacidade de colocar-se num ponto de vista diferente do seu. A criança obedece a quem ela considera como superior. É o que ocorre quando respeita, unilateralmente, aos pais, a professora, a pessoas da comunidade. A interação pode favorecer o surgimento pensamentos empáticos e de ações solidárias. Isto pode ocorrer quando a criança reside num acampamento e interage de forma a construir a Identidade de Sem Terrinha. Para tanto, a criança deve ter relações sociais que facilitem a autonomia, estágio moral que surge a partir dos dez anos, no qual se obedece a uma regra porque há compreensão de que a mesma é necessária para todos.
METODOLOGIA:
Realizou-se a pesquisa através de um estudo exploratório durante os meses de março e abril de 2007. Participaram 20 crianças com idade entre 3 e 10 anos, filhos de pessoas que participassem de ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Com isso incluíram-se filhos de militantes, ex-militantes e/ou coordenadores de assentamento e/ou acampamentos. O estudo ocorreu no município de Ceará Mirim (RN), nas residências das crianças ou em ambientes do MST que elas frequentavam. Destas, quatorze residem em assentamentos, uma reside na cidade e as demais em acampamentos. Utilizando como base o método clínico de Jean Piaget, utilizaram-se dilemas. O roteiro da entrevista consistiu em apresentação do pesquisador, explicação dos objetivos, contar histórias com apresentação gradativa dos cartões (com cenários e personagens das histórias) e posterior realização de questões. Procurou-se usar de espaços típicos do cotidiano da criança como o trabalho na roça, a construção de casa de taipa, o estudo em ambientes do MST. Com a permissão de familiares e dos participantes as entrevistas foram gravadas, com uso de um gravador, para posterior transcrição e análise das respostas.
RESULTADOS:
Analisando as respostas dos participantes do estudo, percebe-se que a para a maioria, dezessete, evidenciou-se o respeito unilateral junto à(s) autoridade(s) - agentes externos, como familiares e/ou educadores. O que é próprio do pensamento heterônomo, característico da idade deles. É importante considerar que durante as entrevistas quinze crianças também se colocaram no lugar do personagem da história, o qual precisava de ajuda. O que evidencia uma possível empatia, talvez devido a conseqüência desta ajuda, principalmente havia solicitação, por parte do outro, de alimento ou, ainda, a possibilidade de se machucar. É importante salientar que a possibilidade de ajudar aumentava quando o personagem da história pertencia ao seu espaço social, como o da família e/ou a comunidade, o da escola ou o do MST. Assim, quando a história que contávamos envolvia os cenários e personagens do MST a criança decidia agir de acordo com o valorizado neste espaço. Então os entrevistados têm interações em diversos ambientes, os quais podem vir a seguir normas distintas. Isto pode justificar as mudanças de opiniões quando o entrevistado analisava a situação em ambientes distintos.
CONCLUSÃO:
Mesmo ainda pautando suas decisões em autoridades externas, as crianças participantes do estudo já têm uma disposição para se comoverem com as situações nas quais uma pessoa precisa de ajuda. Porém, ser capaz de colocar-se no lugar do outro não significa decidir ajudar. Ser solidário requer a adoção e prática de valores que se constroem a partir da interação, em espaços sociais nos quais as vivências como a de ser generoso pedem a ultrapassagem dos limites do "ganho" pessoal, mesmo que implique em abrir mão de algo, em direção a solidariedade. Quando as autoridades que a criança respeita estão pessoas que a proporcionem interações necessárias ao surgimento de sentimentos fundamentados na empatia e na ajuda ao próximo ela tem mais possibilidades de ser solidária. Sendo assim, momentos que proporcionem interações deste tipo são essenciais para que aprendizagens como a do trabalho coletivo e a da solidariedade, num processo no qual a criança pode assumir e praticar valores básicos a construção da sua Identidade Social, como a do Sem Terrinha.
Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Moral, Interação, Solidariedade.