62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 7. Fonoaudiologia - 1. Fonoaudiologia
A VOZ ENCENA: UMA EXPERIÊNCIA EDUCATIVA NO CUIDADO COM A VOZ ENTRE ATORES NUM GRUPO DE TEATRO
Kelva Cristina de Oliveira Saraiva 1
Klívia Regina de Oliveira Saraiva 2
Helder de Pádua Lima 3
Kaelly Virgínia de Oliveira Saraiva 4
1. Mestrado em Saúde Coletiva, Universidade de Fortaleza - UNIFOR
2. Depto de Enfermagem, Universidade Federal do Ceará - UFC
3. Centro de Atenção Psicosocial, Caucaia, Ceará
4. Profa Dra/Orientadora - Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará - FAECE
INTRODUÇÃO:
A produção da voz envolve um aparato denominado vocal, composto por músculos, ligamentos, ossos, cavidades ocas, órgãos e sistemas, com controle nervoso, trabalhando em conjunto e harmoniosamente para a emissão saudável e de acordo com a demanda vocal. Essa complexidade na produção da voz e seu uso na fala e no discurso do sujeito, encontram uma singularidade que, muito frequentemente, prejudica o falante, acometendo-o de problemas vocais, denominados disfonias: o aparato vocal não foi, primordialmente, desenvolvido para a fala. A voz é uma adaptação de muitas estruturas na evolução da comunicação humana. Há uma relação entre a demanda vocal e os riscos de disfonias, principalmente entre indivíduos que usam a voz profissionalmente e, dentre eles, aquele que despertou nosso interesse neste estudo, o ator, indivíduo que usa a voz (artística) de forma inusitada e distante de padrões saudáveis. Nossa preocupação foi estudar a preparação vocal de atores de teatro, com ênfase no aquecimento vocal, promovendo a saúde vocal e propiciando, no eixo educacional, a atenção ao autocuidado.
METODOLOGIA:
Em conformação com o que preconiza a Resolução 196/96 sobre pesquisas com seres humanos, realizou-se um estudo qualitativo-descritivo, com observação direta e participante, com o diferencial de que uma das autoras integrava o grupo do qual faziam parte os sujeitos da pesquisa. Isto tornou possível compararmos o que se passou a conhecer sobre os sujeitos por meio dos relatos dela própria e diários de campo e o que foi obtido durante a fase de coleta, gerando grande volume de dados, discutidos entre todos os pesquisadores. Pela observação direta se fazer no contato com o fenômeno observado, foram colhidas informações das ações dos atores em seu contexto natural, a respeito de seu comportamento vocal. A coleta de dados também foi realizada com aplicação de questionário semi-estruturado, por meio de entrevista gravada. Foram entrevistados todos os membros do grupo de teatro, exceto a pesquisadora, perfazendo o total de 14 sujeitos. A interpretação dos dados foi feita por meio de uma análise crítico-reflexiva e gerou duas categorias, a das informações positivas sobre o cuidado com a voz e a das informações negativas sobre este cuidado.
RESULTADOS:
Durante a análise dos dados não perdeu-se de vista que tratava-se de sujeitos integrantes de um grupo de teatro com rotina bastante conhecida por uma das pesquisadoras. Todo o material registrado em diários foi discutido entre os pesquisadores, considerando os resultados da coleta em entrevistas e aplicação de questionário semi-estruturado. Foi necessário entender que o ator ouve sua voz em cena de forma diferente, fruto da criação artística. Da análise dos dados gerados, obtivemos dois resultados, confrontados em duas categorias: a das avaliações positivas sobre as mudanças na voz e a das avaliações negativas sobre as mudanças na voz. Na primeira categoria colocamos os resultados das entrevistas, cujas respostas denotam que os atores compreendem a importância do trabalho vocal orientado como pressuposto à melhora da voz e praticam exercícios vocais. Na segunda categoria colocamos o viés dos resultados das entrevistas e as informações dos diários de campo. Deste cruzamento de dados, obtivemos como resultado que os atores não fazem rotineiramente nenhum exercício vocal e que há histórico no grupo tanto de queixas vocais como recidivas.
CONCLUSÃO:
O uso da voz artística na contribuição à interpretação é um precioso recurso do ator. Porém, tal recurso pode apresentar problemas oriundos de abuso e mau uso da voz, limitando a atuação do ator e incluindo-o entre os disfônicos. Na realização de exercícios vocais que visem desenvolver a voz artística, cuidando da saúde e preparo vocal subsiste a base da não instalação do quadro patológico, utilizando o aquecimento vocal para sensibilizar o indivíduo e seu organismo com produção vocal que atenda às necessidades do falante. O preparador vocal/fonoaudiólogo é responsável por esta transição da voz cotidiana para a artística, de modo que, ao ator sejam oferecidas estratégias de desenvolver sua capacidade de criar em cima do aparato vocal. Contudo, cada ator tem características e necessidades vocais diferentes, e deve investir em seu autocuidado, tendo em mente que cada nova personagem implica novas necessidades vocais. A transdisciplinaridade entre ciência e arte pode resolver o problema, traçando nesta parceria um caminho diferente, no qual a técnica não seja uma imposição. Concluímos nosso estudo cientes de que ainda há outras etapas a seguir na consolidação dessa parceria que, cremos, contribuirá para a redução de problemas vocais entre profissionais da voz.
Palavras-chave: Voz, Disfonia, Arte.