62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 7. Teorias da Comunicação
NOVAS MÍDIAS E NOVOS EFEITOS: O AGENDAMENTO DIGITAL
Ana Célia da Rocha Santos 1
Tiago Alves Nogueira de Souza 1
Ana Paula de Siqueira Saldanha 1
1. Dept. Comunicação Social, Universidade Federal de Alagoas - UFAL
INTRODUÇÃO:
O objetivo deste estudo é demonstrar a quebra de paradigma dos sistemas comunicacionais tradicionais a partir da comercialização da Internet na década de 1990 - uma vez que a sua popularização mudou o cenário de transferência de informação na sociedade. Tradicionalmente, os processos de comunicação eram considerados assimétricos: existe um agente midiático, que emite o estímulo, e um receptor, que é atingido por esse estímulo e reage. Hoje, este sistema apresenta-se modificado, o receptor passou a ser também emissor. A natureza fundamental desta nova agenda aparece de maneira diversa, organizada por coletivos digitais, enquanto a televisão essencialmente reorganiza ou reordena seus principais temas. É possível afirmar que estejamos testemunhando novas formas de mediação e midiatização comunicacional. Pesquisas apontam que as pessoas estão mais propensas a considerar a Internet como principal fonte sobre assuntos complexos, como a genética; neste contexto, os médicos aparecem como a segunda fonte provável. Os resultados de pesquisas como esta levantam questões sobre as alterações estruturais nas mídias, decorrentes da mudança na prática específica de produção e circulação de informações, que afetam suas relações com a esfera pública.
METODOLOGIA:
A metodologia, amparada em bases qualitativas e quantitativas, compreende leituras dirigidas sobre os fundamentos da comunicação midiática em corrente mudança. Para tanto, nos remetemos às seguintes questões: as teorias da comunicação tradicionais sobre mídia e os Meios de Comunicação de Massa (MCM) - análises e refutações; os estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), com informações sobre os hábitos de consumo dos brasileiros em relação a televisão e internet; a influência das práticas digitais no comportamento do brasileiro e o crescimento do tempo de uso da internet em escala global. Como pano de fundo, nos atemos à análise de índices estatísticos no campo, em especial os realizados pela empresa global de informações em mídia Instituto Nielsen no tocante à confiabilidade do público em recomendações de produtos (propaganda); e pela Sociedade Americana de Informação sobre Ciência e Tecnologia (ASIST) sobre as fontes mais utilizadas para obter-se informação sobre assuntos recorrentes à genética. O estudo também considerou a análise específica do aplicativo Twitter e o estudo de casos de artistas consagrados que ficaram conhecidos primeiramente na rede mundial, através do site de relacionamentos MySpace.
RESULTADOS:
Partimos da mudança no problema-chave da teoria do agendamento. Os websites estão desenvolvendo sua própria agenda, baseada em interesses comuns, demonstrando que informações podem ser produzidas por sujeitos que eram definidos como "audiência". Classificamos a informação em: a. Superficial; b. Conhecimentos mais articulados; c. Informações mais específicas. Os resultados, baseados também em estudo realizado pela ASIST, indicam que a televisão desempenha um papel secundário ao estabelecer a agenda nos níveis dois e três, que implicam um conhecimento mais profundo, e que a internet é a fonte mais procurada para um aprofundamento acerca de temas como a genética, objeto do estudo em questão. Analisamos a pesquisa do Instituto Nielsen sobre o grau de confiabilidade das pessoas em recomendações de produtos emitidas por conhecidos (noventa por cento), opiniões postadas online (setenta por cento) e através da televisão (sessenta e dois por cento). Estudamos ainda os websites Twitter, que questionava "o que você está fazendo?" e atualmente pergunta "o que está acontecendo?", e é o único espaço no qual empresas como Sony veiculam seus pronunciamentos oficiais; e o Myspace, que revolucionou a indústria fonográfica através da distribuição de músicas - gratuitamente - pela internet.
CONCLUSÃO:
A esfera pública digital é um espaço em que são apresentados ao público (e pelo público) uma lista de fatos a respeito dos quais se pode ter uma opinião e discutir, baseado no fato de que a experiência direta, imediata, e pessoal de um problema torna-o significativo, a ponto de atenuar, em segundo plano, a influência cognitiva dos MCM. A Internet se tornou um instrumento central de informação e, para o jornalista, uma alternativa para publicação e um novo manancial de informações. Devemos, porém, admitir que certas especificidades técnicas atribuem uma relevância particular à informação televisiva e, portanto, uma potencialidade maior de sua parte para obter efeitos de agenda-setting, através de coberturas televisivas, por exemplo, para informar a respeito de eventos "extraordinários". Compreendemos que o processo de agenda tem se tornado um processo coletivo, com um grau de reciprocidade nos seguintes movimentos: a. As pautas tratadas superficialmente pelos MCM são aprofundadas pelo público na internet; b. As pautas fomentadas na Internet são popularizadas pelos MCM, pois estes têm, ainda, maior penetração no grande público; c. Há as pautas fomentadas e popularizadas na Internet, num movimento vertical público-público, independente da grande mídia.
Palavras-chave: Agendamento, Mídias-digitais, Comunicação-de-massas.