62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
Variação linguística na concepção dos professores (as): um estudo de caso no município de Seropédica-RJ
Leandro Gonçalves Dorneles 1
Ingraty Aparecida da Silva Victorio 1
Andréa Sonia Berenblum 1
1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO:
Este estudo parte de uma concepção de linguagem concebida como uma atividade humana constitutiva historicamente e socialmente constituinte (Willians, 1980). E se propõe a estudar alguns aspectos da prática docente de professores do Ensino Fundamental, no município de Seropédica. A nossa problemática de pesquisa se fundamenta em estudos desenvolvidos na área de lingüística, da sociolingüística e da sociologia da linguagem e analisa a relação entre língua oficial, variedades linguísticas e fracasso escolar. Portanto, o nosso interesse é pesquisar diversas concepções sobre a língua e o "domínio da língua", "erros linguísticos", "bom uso da língua". Esses fenômenos são observados na perspectiva dos professores, levando-se em conta as relações sociais que se estabelecem em torno da língua, do uso desta na sociedade e alguns aspectos relacionados às práticas de ensino em sala de aula. Investigamos, a partir do discurso docente, as relações sociais em torno da língua, o uso da língua na sociedade e alguns aspectos relacionados ao ensino da língua em sala de aula. Assim, esperamos contribuir para o estudo das relações entre o ensino da variedade padrão da língua, as formas de conceber as variedades lingüísticas e o fracasso escolar.
METODOLOGIA:
Trata-se de um trabalho de cunho qualitativo com o propósito de orientar reflexões referentes ao entendimento dos professores, quanto ao aprendizado da língua, escrita e falada, pelos alunos em diferentes séries do Ensino Fundamental do município de Seropédica. Para tal, fizemos um levantamento bibliográfico e uma revisão da literatura sobre a problemática em estudo, fazendo uso, principalmente, das obras de autores como Bagno, Bourdieu e Gnerre. Através do diálogo entre leituras individuais e discussões em grupo, pudemos elaborar um instrumento de pesquisa que nos possibilitou o levantamento de dados através de entrevistas semi estruturadas direcionadas a professores em atividade em diferentes disciplinas e séries de escolas públicas de Ensino Fundamental no município de em que se realiza a pesquisa. Após a realização das entrevistas foi feita a análise das falas dos professores. Objetivamos, através desta análise, permitiu-nos compreender como os professores entendem a língua e seu uso em diferentes contextos.
RESULTADOS:
Consideramos que esta pesquisa nos ajuda a entender como o processo de formação da identidade nacional no Brasil influenciou e ainda influencia o ensino da língua oficial nas escolas e como os professores lidam com a necessidade do ensino de uma variedade padrão da língua e as diversas variedades linguísticas que os alunos utilizam. Procuramos investigar nas escolas públicas de Ensino Fundamental do município de Seropédica a legitimação da variedade oficial da língua na concepção dos professores e a possível marginalização das demais variedades lingüísticas na prática docente. Desta forma, esperamos contribuir com a promoção de reflexões dentro da perspectiva do ensino da língua, apoiados nas teorias de autores como, Bourdieu que afirma que a língua oficial mantém uma estreita relação com o Estado, já que é na formação do mesmo que se estabelece a obrigatoriedade do uso da língua oficial nas escolas (Bourdieu, 1998). Além disso, o mesmo autor contribuiu para entendermos as relações entre o sistema de ensino e a estrutura das relações de classe e frações de classes. Bourdieu ressalta que a escola cumpre simultaneamente a função de reprodução da cultura dominante e da legitimação das desigualdades sociais.
CONCLUSÃO:
De acordo com estudos correntes sobre esta problemática (Berenblum, 2003, Bourdieu, 1996; 1999, Bagno, 2002, Gnerre, 1987, Silva, 1999) há uma exclusiva valorização no sistema educacional da variedade oficial da língua, ao passo que as outras variedades linguisticas são deslegitimadas "naturalmente" (Bourdieu, 2001). Segundo as análises feitas ao decorrer da pesquisa podemos concordar com Gnerre (2001), quanto à existência de uma relação entre o domínio da variedade oficial da língua e o acesso ao poder na sociedade. Assim, torna-se necessário, considerarmos o desconhecimento dos professores dos processos histórico-políticos que legitimaram uma determinada variedade, tornando-a "a língua nacional", "a única correta" reproduzindo a compreensão de variedade padrão da língua como a única aceitável, negando o valor das demais variedades, ignorando a pluralidade linguística dos alunos e mantendo, através do ensino da língua a conservação de poder em determinados grupos. Este estudo concentra-se no âmbito da formação docente, pois este espaço exerce um papel relevante no processo de ensino aprendizagem da língua oficial que acreditamos ser importante em determinadas esferas sociais, porém em constante diálogo com as outras variedades lingüísticas.
Instituição de Fomento: CNPq/PROIC
Palavras-chave: Língua oficial, variação linguística, práticas educacionais.