Tendo em vista a proposta do presente projeto de estudo sobre a percepção do desemprego no Município de Cristais Paulista, optamos por uma abordagem se pauta em autores do Serviço Social e áreas afins que discutem a "Questão Social" com abordagem no materialismo histórico dialético, para que possamos ter elementos que visem a totalidade e nos auxiliem na compreensão dos fatores que colaboram para as condições vivenciadas cotidianamente pela população cristalense. A pesquisa foi realizada através de um questionário do tipo qualitativo, a abordagem permitirá uma maior aproximação da realidade local e maior liberdade para trabalhar a opinião dos usuários, é do tipo exploratória como parte fundamental com universo de 30 famílias, sendo que a amostragem é das três famílias mais significativas em situação de maior vulnerabilidade e que solicitaram com maior freqüência o fornecimento de cesta básica na instituição. Para captar os dados utilizamos um gravador e uma filmadora para melhor visualização das expressões da "Questão Social".

A realização da pesquisa trouxe informações importantes em relação ao que vem sendo discutido pelos autores do Serviço Social em relação a "Questão Social", que a descrevem enquanto inerente ao sistema capitalista, que tem como mecanismo de manutenção a criação de uma massa de desempregados, que servem para congelar os salários e retrair os direitos trabalhistas, colaborando assim para um alto nível de vulnerabilidade social e péssimas condições de vida da população rural, que ainda está em desvantagem se comparada a população urbana. No contato com a população durante as entrevistas podemos confirmar os dados do alto nível de vulnerabilidade social com condições precárias de moradia, insuficiência alimentar, baixa escolaridade e condições de trabalho informal e totalmente precário, além de um cotidiano que demonstra a negação dos direitos sociais, políticos e principalmente a participação da população na produção social, porém uma apropriação privada das riquezas socialmente construídas, o que resulta numa perspectiva empobrecida na vida desses cidadãos, pois ao longo de suas vidas na sua relação com o trabalho não foram estimulados a estudar, refletir, a criar e tampouco se posicionarem politicamente.

A pesquisa possibilitou compreender as particularidades da população cristalense, mas também enxergar o quanto sua realidade socioeconômica, cultural e política estão mergulhadas num universo maior, numa dada sociedade e num dado sistema financeiro que trazem realidades diferentes de acordo com a classe social em que se investiga, pois o Município em estudo é cercado por fazendas, com propriedades que exportam café e somam riquezas, porém as condições de vida da população que trabalha na colheita do café, resulta em situações que geram dependência do CRAS para o fornecimento de benefícios emergenciais. A análise realizada traz elementos que levam a acreditar que os moldes de constituição da instituição não são favoráveis a um trabalho que vise a emancipação humana, pois em muitos casos nos deparamos com a realização de atividades que pendem mais para a manutenção do sistema do que para a busca de uma nova ordem societária, cabe ressaltar que é a população que sofre as conseqüências de como o poder institucionalizado enfrenta as refrações da questão social, pois sem o questionamento do que gerou a desigualdade e pobreza, não é possível vislumbrar uma sociedade em que a própria população participe ativamente dos seus interesses políticos e consequentemente da transformação social.