62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
OS EFEITOS DA AMPLIAÇÃO DO ACESSO A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA TRANSMISSÃO DA CULTURA AKWẼ-XERENTE E SEUS REFLEXOS NOS RAPAZES QUE CURSAM O ENSINO SUPERIOR NA UFT
EDILBERTO WAIKAIRO MARINHO XERENTE 1
ODAIR GIRALDIN 1
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
INTRODUÇÃO:
Nos anos oitenta o movimento indígena e indigenista no Brasil lutou para a criação de um sistema de educação para os povos indígenas que respeitasse suas histórias e culturas. Essas reivindicações foram contempladas na constituição de 1988: "O ensino fundamental será ministrado em língua portuguesa, assegurada ás comunidades indígena. Também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem." (art.210). Porém, o que encontramos é uma escola onde o ensino e as práticas pedagógicas são de brancos, interferindo na transmissão dos valores simbólicos que estão associados às culturas indígenas. Um exemplo é o povo Xerente que teve afetado seu processo próprio de transmissão dos conhecimentos, que estava associado ao terreiro das casas (Warĩsdaré), onde predominava a participação familiar e ao pátio (Warã), onde predominavam os anciãos. O objetivo deste trabalho é estudar os jovens estudantes Xerente que ingressam na Universidade Federal do Tocantins e seus conhecimentos Akwẽ que eram transmitidos no Warã (Casa dos Homens) e no Warĩnsdaré (ambiente doméstico) e observar como o acesso ao ensino superior está influenciando nas relações com a cultura tradicional Xerente.
METODOLOGIA:
Num primeiro momento, o trabalho foi realizado através da leitura e fichamento das bibliografias referente ao assunto. Ao mesmo tempo, foi realizado levantamento de dados no campo, através das visitas realizadas nas aldeias do PI Xerente, principalmente nas aldeias Salto, Porteira e Krite, distantes entre si em menos de cinco quilômetros. Meus pais (José Sizapi Marinho Xerente e Iraci Krukwanẽ Xerente) moram na aldeia Salto e nas minhas visitas quinzenais à minha família tenho feito destas, momentos de pesquisa com os anciãos sobre nossa cultura tradicional e também com os estudantes universitários destas aldeias. Estou gravando em áudio as entrevistas que estou realizando com os anciãos sobre como era transmitida a cultura no Warã e no Warĩnsdaré. As observações estão sendo registradas em cadernos de anotações e diários de campo. Também faço registro fotográfico dessas atividades. Até o momento estou consultando bibliografia sobre o processo de escolarização entre os Xerente e sobre aspectos da cultura tradicional.
RESULTADOS:
Os resultados iniciais estão baseados em leituras bibliográficas, atividades de pesquisa no campo e entrevistas com os anciãos para o esclarecimento de alguns detalhes dos livros publicados em relação à cultura tradicional Xerente. Um exemplo é Curt Nimuendajú, que visitou os povos Xerente em 1930 e aborda a divisão de suas metades clânicas (Doi e Wahire), patrilineares, exogâmicas e patrilocais. Uma é "Siptato" (Doi), o círculo. A outra "Sdakrã" (Wahire) o traço. Os nomes pessoais masculinos e femininos são transmitidos patrilinearmente de avós para netos e sobrinhos/netos. Já Maybury Lewis (que também visitou os Xerente em 1956 e 1963) aborda uma regra de residência que seria uxorilocal e não patrilocal. À partir das metades dos clãs constroem a base de sua sociedade. Essas informações estão me servindo no ponto de debate e esclarecimentos de alguns casos juntos aos anciãos. As entrevistas com os estudantes Xerente, da Universidade Federal do Tocantins, mostram-me o fragmento do conhecimento deles de nossa cultura tradicional em relação às obras de autores citados acima e das entrevistas com anciãos. Alguns demonstraram seus conhecimentos tradicionais, principalmente sobre cantigas de rituais que ainda resiste até aos dias atuais.
CONCLUSÃO:
Esta pesquisa de iniciação científica foi desenvolvida em viagens no campo e através das bibliografias dos principais autores que publicaram suas obras a respeito da cultura tradicional Xerente. Apesar da existência de algumas contradições entre esses autores pude observar e notar, em alguns detalhes, assuntos que colaboraram para o debate com os anciãos para que possamos entender assuntos desconhecidos. Esses assuntos encontrados em obras dos autores eram exatamente sobre as organizações sociais, narrativas e as pinturas corporais. Para levar essa questão à definição fui às aldeias Xerente entrevistar os anciãos para debater e esclarecer. Mas encontrei certas divergências entre eles. Apesar de não viverem nas mesmas aldeias historicamente, isso trouxe-me um pouco de dificuldade ao concluir alguns assuntos relacionados em obras de autores. Mas com diversas análises e debates freqüentes com os anciãos de diferentes aldeias, pude notar algumas ligações deles em relação ao texto discutido acima. Isso trouxe a mim a facilidade em pesquisar os jovens estudantes Xerentes da Universidade Federal do Tocantins, apesar de eu pesquisar primeiramente os conhecimentos ligados a nossa cultura tradicional Xerente.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Akwẽ-Xerente, Educação, Cultura.