62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
A INDÚSTRIA CULTURAL E A FUNÇÃO DA MÍDIA: UMA BREVE ANÁLISE A PARTIR DO CONTEÚDO PARCIAL DA PUBLICAÇÃO DA EDITORA ABRIL
Bárbara Duarte de Souza 1
1. Universidade Federal do Pará/UFPA
INTRODUÇÃO:
Segundo Max Horkheimer a razão subjetiva é importante sintoma de uma mudança profunda de concepção verificada no pensamento ocidental no curso dos últimos séculos. A formalização ou subjetivação da razão não considera a plausibilidade dos ideais, os critérios que norteiam as ações e crenças e nem os princípios orientadores de ética e política. Walter Benjamim adverte que, com a modernidade, o crescimento maciço de expectadores implicou em uma nova forma de ver a arte, uma nova forma de participação. Uma das conseqüências da modernidade é a padronização das engenhosidades produzidas, sobretudo neste campo que passa a ser controlado, visto que sua produção se dá por uma dependência com a economia e, sob o monopólio da indústria, as ditas "culturas de massa" tornam-se idênticas. Conforme Adorno e Horkheimer, a indústria cultural é única, uma articulação política direcionada ao consumidor, e dispõe de poderosos artifícios para classificá-los, organizá-los e quantificá-los, a fim de controlar suas vontades suprindo-lhes as necessidades que a própria lógica da indústria produz. Segundo Guy Debord, o termo "espetáculo" designaria a relação social atual, mediada por imagens e, desse modo, as indústrias do espetáculo seriam a televisão, o cinema e as atividades editoriais.
METODOLOGIA:
Com o intuito de analisar a função da mídia na sociedade atual, seus propósitos, mecanismos deliberados na difusão de mensagens e as implicações dos recursos utilizados para o fim em que se propõem, o presente trabalho demandou a análise de publicações impressas e virtuais, a partir das bibliografias pertinentes à temática, especialmente as da Escola de Frankfurt. Foram selecionados parte do conteúdo da publicação impressa e virtual da editora Abril. Foram consultados os acervos digitais das edições de 1997 a julho de 2009 da revista Veja e das edições de 2006 a julho de 2009 da revista Caras, disponíveis no site da editora. As revistas apresentam grande circulação no mercado nacional, e têm o potencial de elucidar o conceito de indústria cultural tratado pela Escola de Frankfurt, no que se refere à escolha de "capa" ou matéria principal, bem como de exemplificar a maneira de como é veiculada algumas informações na indústria editorial atual.
RESULTADOS:
A partir da análise do material selecionado, pôde-se perceber a tendência da técnica no meio publicitário em produzir a necessidade de diversão, sendo possível notar a tentativa de impingir mercadorias. No site da editora, o conteúdo destinado às mulheres se restringe a amor e sexo, beleza, horóscopo, moda e notícias sobre atualidades do "mundo dos famosos", com apelo constante a bens de consumo que parecem ser o interesse exclusivo deste perfil de consumidor. Na análise das publicações impressas, notou-se que o conteúdo tende a apontar a riqueza como algo fundamental para a atração do consumidor, que parece se interessar com a usura de que dispõe uma parcela ínfima de pessoas no Brasil. A veiculação de imagens de pessoas supostamente "bem-sucedidas" é muito comum na programação midiática, e ocupa boa parte do conteúdo da edição da maioria das revistas consultadas. É conveniente salientar a maneira complacente de como é colocada a "qualidade" destes indivíduos. Segundo Guy Debord, quando se difunde a reverência por quem fala no espetáculo, que é supostamente importante, rico, de prestígio, que é a própria autoridade, também se difunde entre os espectadores a tendência de serem tão ilógicos quanto o espetáculo, para ostentar um reflexo individual dessa autoridade.
CONCLUSÃO:
A aparente diversificação mecânica dos produtos provenientes desta indústria esconde um esquema miraculoso de uniformização, de modo que as ilusórias qualidades variadas são apenas estratégias previstas para a quantificação mais completa do público, constituído por grupos, cada qual em conformidade com um comportamento específico, cuja dimensão é estudada. O conteúdo específico do espetáculo produzido pela indústria é fruto de um planejamento que dispõem as informações em clichês, tirando da obra a função de veículo de uma idéia que agora é liquidada. Seja pelo planejamento, seja pelo acaso, a indústria cultural simboliza uma liberdade com a representação da média, destacando a importância de todos. Assim sendo, os interesses deste sistema de dominação são instrumentalizados, o que finda na elisão de possibilidade de reflexão, a partir da crença no discurso espetacular em face de uma submissão e adesão. Portanto, a "sociedade espetacular" está assentada na contemplação passiva, em indivíduos que apreciam a vida dos outros, sem relação direta com o mundo, mas mediada por imagens que perpassam por todas as classes. Assim como as técnicas na indústria cultural são um fim em si mesmas, o espetáculo também o é, no sentido de que ele é a própria produção da sociedade atual.
Palavras-chave: Indústria cultural, Mídia, Indústria editorial.