62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 3. Psicolingüística
DESCORTINANDO PENSAMENTOS: UMA PROPOSTA DE ACOMPANHAMENTO EM PRODUÇÃO TEXTUAL
Janaina Alves Brasil Corrêa 1
1. ESCOLA SESC DE ENSINO MÉDIO
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho buscou investigar estratégias para o desenvolvimento da escrita em ambiente escolar e, preferencialmente, em um espaço reservado a este fim. A investigação se deu em de uma oficina de recuperação paralela, que a priori se destinava àqueles que apresentavam dificuldades no processo de produção textual. Neste sentido, cabe salientar que tais questões envolviam, entre outros fatores, o recorrente "branco" diante de uma proposta, inadequações quanto ao registro padrão do idioma, problemas de coesão, coerência e articulação de argumentos. Muitas são as propostas que se dedicam a esta problemática na escola, porém, a maioria deles utiliza estratégias que já partem de uma atividade de produção textual, um fator que per si já pode intimidar os alunos, pois desde o início já sabem a que fim se destina aquilo que se propõe: escrever algo sobre um tema, por mais interessante que possa sê-lo. Assim, para o desenvolvimento desta pesquisa, foram fundamentais os estudos da psicolinguística, sobretudo os que se voltam para as investigações sobre pensamento e linguagem. Deste modo, as noções de competência e desempenho linguístico foram atreladas também aos processos cognitivos referentes à organização, à clareza e ao desenvolvimento do pensamento criativo.
METODOLOGIA:
A metodologia deste trabalho incluiu primeiramente uma avaliação diagnóstica para que se pudessem traçar estratégias de abordagem que atendessem às diferentes demandas. Na etapa seguinte, no início de cada aula, todos os alunos participavam de uma dinâmica cujo desafio era "descortinar o pensamento", ou seja, a cada encontro eram propostas atividades com foco no desenvolvimento criativo do pensamento e na escrita automática. Neste momento, não se censuravam as ideias, nem as formas de registro, pois se entende como fundamental desatar certas amarras construídas social e culturalmente, que acabam contribuindo para a dificuldade de expressão. Assim, foram criadas, especialmente para este trabalho, diferentes atividades e propostas que visavam, entre outras coisas, o uso metafórico da palavra, a solução criativa para problemas inusitados, a percepção do sensível em situações concretas, a exploração do campo semântico e o improviso coerente e continuativo em sequências narrativas. Cabe ressaltar que, também teve relevo nesta investigação o trabalho com argumentação discursiva, coesão e coerência, habilidades fundamentais, sobretudo, para o texto dissertativo, cuja natureza mais formal costuma trazer aos estudantes certos obstáculos, seja de ordem cognitiva ou linguística.
RESULTADOS:
Ao final da oficina, que totalizou três bimestres, os alunos demonstraram avanços consideráveis. Tal fato talvez se deva pela estratégia diferenciada de abordagem, que se iniciava sempre por meio de dinâmicas lúdicas - envolvendo, por exemplo, criatividade, sinestesia ou improviso - e que, no lugar de partir imediatamente para propostas dissertativas, recorreu inicialmente à estrutura narrativa, pelo caráter mais livre de progressão textual e linguística deste gênero. Nas produções narrativas, a maioria foi capaz de desenvolver estratégias de linguagem eficazes, resultando, algumas vezes, numa escrita sensível e estética. Alguns textos já revelavam indícios de estilo e criatividade, tanto sob o aspecto da forma, quanto do conteúdo. É importante ressaltar que, no início do ano letivo, alguns alunos se mostravam descontentes e ansiosos ao iniciar qualquer atividade que envolvesse produção textual. Tal postura se modificou radicalmente a partir do trabalho desenvolvido ao longo da oficina. Neste sentido, os recursos específicos da ficção têm se mostrado uma ferramenta didática eficaz e prazerosa, que muito tem a contribuir para a organização de ideias e para a construção de um texto dissertativo-argumentativo coeso e coerente.
CONCLUSÃO:
As exigências de um mercado cada vez mais competitivo tornam mais complexas as constantes avaliações às quais estudantes em formação e recém-formados são submetidos. Exemplos disso são os vestibulares, o Enem, os concursos públicos, que, a cada ano, requerem mais da capacidade expositivo-argumentativa do jovem. Sabemos que estes exames são parte de uma etapa da vida, não sendo aquilo de mais relevante que pode existir em termos de domínio de língua verbal. Ora, somos seres eminentemente linguísticos, vivemos submergidos na linguagem e, portanto, esta ferramenta do pensamento deve servir a muito mais do que a uma aprovação em um processo seletivo. Assim, a questão que deveria ser o foco do trabalho de professores e escolas - despertar no aluno o prazer pelas formas de expressão - acaba cedendo lugar a um formalismo de ensino que mais afasta do que seduz. Neste sentido, nossa proposta de acompanhamento das habilidades discursivas começa, antes, no prazer - na fruição, conforme Barthes - capaz de desencadear o verdadeiro gosto pelas letras, incluindo-se aí a leitura, parte fundamental deste processo. Cabe notar que as atividades lúdicas propostas não se distanciam do rigor acadêmico e formal do idioma, apenas buscaram-se novos começos, capazes de motivar o aluno a escrever.
Instituição de Fomento: Serviço Social do Comércio - Departamento Nacional
Palavras-chave: Pensamento, Linguagem, Escrita.