62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRODUÇÃO DE ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS ESPECIALIZADOS NO CAMPO DA PSICOLOGIA E DA EDUCAÇÃO
Eloy San Carlo Maximo Sampaio 1
Anita Cristina Azevedo Rezende 1
1. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Educação/ UFG-FE-NEPPEC
INTRODUÇÃO:
Questionar acerca dos limites e possibilidades da proposta hegemônica de formação desenvolvida no contexto da sociedade capitalista implica uma ação ético-política de enfrentamento e recusa ao avanço da barbárie, em todas as suas formas e, especialmente, na crescente radicalização da irracionalidade. Amparando-se nas contribuições da Teoria Crítica da Sociedade, compreende-se que os espaços e projetos formativos que se atualizam no mundo contemporâneo são predominantemente pautados na racionalidade instrumental. Esta se estabelece com a reprodutibilidade do existente e com a impossibilidade da emancipação humana, constituindo-se não como formação, mas sim como seu avesso, ou seja, semiformação (Halbbildung). É necessário, portanto um movimento reflexivo sobre este cenário, uma vez que, nesta realidade histórica, a possibilidade de formação ocorre pela crítica a semiformação. Considerando estes determinantes teóricos a presente pesquisa objetiva a investigação da formação, tomando, para tanto, a formação do psicólogo como um emblema fértil de tal processo. Para tanto se propôs realizar o mapeamento e a análise crítica da produção acerca da temática da formação do psicólogo e presente em artigos publicados em periódicos científicos da área de psicologia.
METODOLOGIA:
Partindo do conceito de formação, considerando sua complexidade e tomando a formação do psicólogo como emblema de processos mais amplos, foram analisados os artigos publicados entre 2003 e 2007 nos periódicos com a qualificação QUALIS "A" e "B" da área de psicologia, disponíveis no site da Capes (www.capes.gov.br). Os procedimentos iniciais mapearam a produção e resultou em uma lista de 67 periódicos. Criou-se então um banco de dados que contava com os resumos referentes aos artigos publicados nestes periódicos. O banco de dados consistia em 5515 resumos, que foram organizados por periódico, volume e ano de publicação. Diante desse quantitativo, optou-se por trabalhar com os periódicos com a qualificação QUALIS "A". Nesta etapa, o número de periódicos foi reduzido de 67 para 28 e os resumos passaram de 5515 para 2619. Partindo destes 2619 resumos foi realizada uma busca por palavras chaves, utilizando como descritores os termos "formação" e "curso de psicologia", sendo selecionados 188 resumos. Tais resumos foram lidos, com o intuito de localizar os artigos que tomavam a formação do psicólogo como objeto de discussão. O resultado consistiu em 31 artigos, que foram lidos e analisados a partir de uma planilha. Visava-se apreender o conceito de formação adotado e suas implicações.
RESULTADOS:
É possível constatar que existe uma grande produção de artigos científicos na área de Psicologia no Brasil que totalizam 5515, distribuídos em 67 periódicos. Nota-se um aumento anual na quantidade de material publicado e isto aponta para a crescente importância conferida a esse tipo de produção científica. Tomando-se os artigos com a avaliação "QUALIS" A e B, é visível a concentração em determinadas regiões do Brasil, uma vez que o sudeste detêm 52,3% da produção. Esses dados apontam para uma vinculação entre a quantidade de produção e a possibilidades de investimento em pesquisas. No cenário global nota-se que apenas 28 artigos de psicologia, com a qualificação QUALIS 'A' contemplam a temática da formação em psicologia. Nestes artigos nota-se ainda que a noção de formação não é claramente definida, uma vez que apenas 4 dentre os 28 artigos explicitam a compreensão sobre o conceito. Em 26 dos 28 artigos se constata que mesmo sem uma clara definição do que seja formação, ocorre a vinculação deste conceito com a noção de profissionalização. Este quadro aponta, já pela indicação numérica, uma reduzida reflexão sobre a formação. Tal condição é solidária com a materialização da semiformação, condição esta expressa pela valorização quase que exclusiva da dimensão profissionalizante.
CONCLUSÃO:
A importância da reflexão se estabelece porque somente através do exercício racional, do esclarecimento conquistado, desloca-se o homem do estado de menoridade para a maioridade. Urge, portanto, um permanente sentimento de estranhamento perante a realidade, que deve ser continuamente pensada. Seria este um dos movimentos ligados a um projeto de formação; contudo ele é obstacularizado por esta sociedade. A análise da produção brasileira de artigos de psicologia materializada nos últimos cinco anos enfrenta e atesta esta obstacularização, uma vez que existe a tendência de não promover reflexões sobre este fenômeno. A restrição da formação à profissionalização, tal como aparece na maioria dos artigos, pode ser tomada como semiformação. É um projeto que visa garantir a adesão imediata às conformações sociais, especialmente à formação para o mercado, não abrindo espaço para a crítica e a reflexão. O exercício da razão, fundamental para o processo de esclarecimento do homem, é eclipsado pela imposição de uma racionalidade instrumentalizada e operacional, reduzida aos exclusivos termos da técnica para o trabalho.
Instituição de Fomento: CNPQ
Palavras-chave: Formação do psicólogo, Profissionalização, Semiformação.