62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
ESTUDO QUALITATIVO COM AS RESPONSÁVEIS PELO MEDICAMENTO NO LAR, CADASTRADAS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA, EM UM MUNICÍPIO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Thales Barbosa Moraes de Oliveira 2, 3
Josiane dos Reis Sarra 2, 3
Ana Carolina Guerta Salinas 2, 3
Bárbara Scoralick Villela 2, 3
João Aristeu da Rosa 2, 1, 3
Juliana Malagutti Darini 2, 3
1. Departamento de Ciências Biológicas
2. Faculdade de Ciências Farmacêuticas
3. UNESP/Araraquara
INTRODUÇÃO:

A Organização Mundial da Saúde define uso racional de medicamento (URM) como: "situação na qual os pacientes recebem os medicamentos apropriados às suas necessidades clínicas na dose correta por um período de tempo adequado e um custo acessível". Porém, em média, 50% dos pacientes fazem o uso irracional, mostrando assim, a necessidade de estudos para propor novas soluções. Muitos estudos quantitativos têm sido realizados, mas a pesquisa qualitativa ainda é pouco explorada na área da saúde.

A problematização é uma técnica de construção ativa do conhecimento mediante situações-problemas que são resolvidas a partir da discussão. Aliada a essa técnica, o grupo focal pode ser utilizado como método de avaliação, pois oferece informações qualitativas, permitindo conhecer atitudes, comportamentos e percepções dos participantes do estudo. Para tanto, o grupo alvo deve conter de seis a doze pessoas com características semelhantes; um moderador, que permita a interação entre os participantes sem influenciá-los; e um relator, o qual anota as falas e reações dos participantes.

Diante disso, o estudo teve por objetivo conhecer as percepções de mulheres cadastradas na Estratégia Saúde da Família (ESF), em um município do estado de São Paulo, que eram responsáveis pelos medicamentos no lar.

METODOLOGIA:

Foram entrevistadas, aleatoriamente, noventa e quatro mulheres responsáveis pelos medicamentos no lar, nas duas unidades da ESF do município analisado. Por meio do formulário aplicado, selecionaram-se três grupos de mulheres com características semelhantes (faixa etária e nível de escolaridade inferior a quinta série) para a realização do grupo focal.

Posteriormente, agendou-se a data para a realização da pesquisa. Dois grupos focais ocorreram, simultaneamente, no período da manhã (mulheres acima de quarenta e cinco anos), um em cada unidade. No período da tarde, as mulheres entre dezoito e quarenta e cinco anos, compuseram o terceiro grupo focal.

Foram abordados temas relacionados ao uso racional de medicamentos, tais como: "Distinção entre remédio e medicamento"; "Automedicação e medicamento como bem de consumo"; "Posologia"; "Armazenamento" e "Descarte". Durante o debate, foram utilizados recursos áudio-visuais para instigar os participantes da pesquisa, e suas falas foram gravadas. Finalmente, a fim de se obter uma análise mais minuciosa de cada grupo, as falas foram transcritas e discutidas em reuniões pelos realizadores da pesquisa.

RESULTADOS:

De forma geral, algumas falas revelaram que as mulheres possuíam conhecimentos teóricos corretos quanto ao URM, porém quando indagadas pelas moderadoras sobre como procediam na prática ou após ouvirem outra participante, relatavam situações inadequadas, tais como: armazenamento e descarte de medicamentos incorretos; uso indiscriminado de chás; erros de administração; entre outros.

Houve um consenso de que é errado comprar medicamento sem a receita médica, no entanto, observou-se que muitas delas realizam a automedicação, tão comum no Brasil, exemplificado pela fala: "Comprei vitamina, porque geralmente no posto de saúde eles dão uma vitamina pra você que não resolve (...). Não deu nenhum resultado negativo, né".

Demonstraram, ainda, ter mais confiança na terapêutica indicada pelo farmacêutica que na indicada pelo médico, o que também é errado, pois não cabe ao farmacêutico descrever o medicamento; expresso a seguir: "Tem casos que é melhor passar no farmacêutico e pegar um remédio passado por ele, do que pelo próprio médico que você passa na Santa Casa"; "Aqui onde a gente mora, a gente acaba confiando mais no farmacêutico do que no próprio médico"; "Falta de competência. Falta de amor ao ser humano. Aqui a gente passa por cada coisa, cada situação que dá medo!"

CONCLUSÃO:
Percebeu-se que o uso da problematização engrandece a pesquisa qualitativa e o ser humano, uma vez que as situações-problema e a solução para as mesmas partiram das próprias integrantes da pesquisa, as quais se sentiram valorizadas, pois o conhecimento não foi imposto, mas sim construído ativamente durante a discussão. As mulheres que participaram dos grupos focais relataram vários erros que podem comprometer a farmacoterapia. Portanto, faz-se necessários estudos aprofundados nessa área, a fim de propor formas de se concretizar o uso racional de medicamentos.
Instituição de Fomento: Faculdade de Ciências Farmacêuticas - UNESP/Araraquara; MEC/SESu/CAPES
Palavras-chave: Uso de medicamentos, Pesquisa qualtitativa, Programa Saúde da Família.