62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
COMPORTAMENTO AFILIATIVO DE PROXIMIDADE EM ANIMAIS REPRODUTORES DE SAGUIS, Callithrix jacchus, EM UM GRUPO COM SISTEMA DE ACASALAMENTO POLIÂNDRICO, DURANTE A GESTAÇÃO E PÓS-PARTO DA FÊMEA DOMINANTE    
Maisie Mitchele Barbosa 1
Joselena Mendonça Ferreira 1
Josilene Soares Carvalho Santos 1
Noeide da Silva Ferreira 1
Ana Cláudia Sales Rocha Albuquerque 1, 2
1. Depto.de Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN
2. Profª. Dra.
INTRODUÇÃO:
 

Os comportamentos afiliativos em primatas têm sido descritos como uma forma de manter e estabelecer a relação social. Dentre as atividades importantes em termos de sociabilidade, a proximidade evidencia uma das relações preferenciais de interação dentro do grupo. Em calitríquideos, este comportamento pode estar relacionado ao repertório de corte, de uma forma indireta, atuando como redutor de tensão e também como sinalização de interesse pelo parceiro. Entretanto, o padrão desse comportamento pode variar com o sistema social de acasalamento, com as condições ecológicas do ambiente e com o estado reprodutivo da fêmea. Diante dessas considerações objetivamos nesse trabalho investigar o padrão do comportamento de proximidade dos animais reprodutores em um grupo selvagem de sagui, Callithrix jacchus, vivendo na caatinga e com sistema de acasalamento poliândrico durante o período pré-gestação e pós-parto da fêmea dominante. Nosso trabalho poderá contribuir com dados comportamentais em ambiente pouco explorado na literatura e acrescentar mais informações esclarecedoras da biologia desses animais.

METODOLOGIA:
 

O presente trabalho foi realizado na Floresta Nacional de Açu, FLONA-Açu, no Rio Grande do Norte. Esta área é coberta por vegetação hiperxerófila, incluindo formações florestais de caatinga arbóreos arbustivos e carnaubais (IDEMA, 2003). Nosso grupo de estudo foi o grupo Bosque, o qual era formado inicialmente por 6 indivíduos, sendo 3 fêmeas adultas: a reprodutora CAT e as não-reprodutoras BNL e a BRT e 3 machos adultos, BET, BON e BRD. O monitoramento ocorreu de outubro de 2008 a março de 2009 abrangendo os períodos de pré-gestação (os três meses que antecederam o nascimento da prole) e o pós-gestação (três meses após o parto). O nascimento da prole ocorreu em janeiro de 2009. Observamos os machos adultos BON e BET e a fêmea reprodutora. O método de amostragem utilizado foi o do focal instantâneo, com sessões de observação de 10 minutos para cada animal, uma vez por semana, totalizando mais ou menos 12 horas de observações diárias.

RESULTADOS:
 

Em relação ao período de pré-gestação, os índices de proximidade no mês de outubro de BON com a fêmea reprodutora foram de 71,4%. Em novembro BET obteve 60%, enquanto que em dezembro ambos obtiveram 50% deste comportamento com a fêmea. No geral, durante todo o período de pré-parto, a maior frequência desse comportamento foi do macho BET em relação à fêmea reprodutora CAT, 52,2%. No período de pós-gestação BON obteve as maiores frequências em janeiro e fevereiro, respectivamente com 64,5% e 61,8%. Notamos uma diferença bastante significativa em março entre as frequências de BON e BET, este último obteve 70,8%, enquanto BON obteve 29,2%. No geral, no período de pós-gestação, a maior proximidade foi do macho BON, com 60,7%. Notamos uma oscilação nos dois períodos entre a frequência de proximidade dos machos. Para Yamamoto e Araújo (1991), em Callithrix jacchus a frequência de agonismo apresenta-se mais reduzida em grupos estabelecidos ou havendo certo grau de parentesco entre os indivíduos. Como é o caso do presente estudo, uma vez que além da incerteza da paternidade BET e BON são pai e filho, respectivamente.

CONCLUSÃO:
 

Apesar de fazerem parte de um grupo poliândrico, a maior frequência de interação do macho BON nos meses iniciais dos períodos pré e pós-parto, os quais são considerados de maior demanda energética para a fêmea reprodutora, pode ser um indicativo da tentativa do referido macho assumir o posto de dominante. A característica hostil do ambiente de caatinga pode ter influenciado na execução do comportamento de proximidade à fêmea reprodutora, uma vez que ambos os machos tentam dar assistência à mesma para que cada indivíduo obtenha sucesso reprodutivo. Concluímos ainda que o comportamento de tolerância entre os dois machos BET e BON permitiu o acesso de ambos à fêmea CAT no período pré e pós-parto com intensas formas afiliativas que provavelmente foram ocasionados pelo grau de parentesco.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq e Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Norte- FAPERN
Palavras-chave: Callithrix jacchus, Grupo poliândrico, Comportamento afiliativo de proximidade.