62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS ALCALÓIDES QUATERNÁRIOS MAGNOFLORINA E N,N-DIMETIL-LINDCARPINA DE Croton cajucara E AVALIAÇÃO DO SEU EFEITO ANALGÉSICO
Ciro José Ferreira Rodrigues 1
Luan Silveira Alves de Moura 1
Gilvani Gomes de Carvalho 1
Frederico Argollo Vanderlinde 2
Maria Aparecida Medeiros Maciel 1
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
2. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INTRODUÇÃO:
Croton cajucara, conhecida na medicina tradicional por "sacaca", é uma espécie medicinal nativa da região amazônica e tem sido bastante utilizada por comunidades locais no combate e cura de diversas doenças (Maciel et al., 2002). Estudos fitoquímicos realizados previamente comprovaram que as cascas desta planta contém um óleo rico em sesquiterpenos, bem como possui uma variedade de diterpenos do tipo clerodano (SOUZA et al., 2006; Maciel et al., 2002). Várias atividades foram confirmadas para o clerodano trans-desidrocrotonina (Maciel et al., 2002, 2000). A atividade antinociceptiva foi confirmada para os extratos hexânico, clorofórmico e metanólico e terpenoides isolados desta espécie (Khan et al., 2009; Perazzo et al. 2007; Campos et al., 2002). Neste trabalho reportamos a ocorrência dos alcalóides quaternários magnoflorina e N,N-dimetil-lindicarpina, presentes nas cascas de Croton cajucara.
METODOLOGIA:
O extrato metanólico (202g) das cascas do caule da espécie medicinal Croton cajucara forneceu após cromatografia em coluna (CC), uma fração polar (FP) que mostrou perfil químico semelhante a uma outra FP proveniente de extrato aquoso (EA) também obtido das cascas deste Croton. Estas duas frações FP-EM e FP-EA foram reunidas (65g) e submetidas a um procedimento cromatográfico com uso de Sephadex, que forneceu 30mg de uma mistura alcaloídica do tipo isoquinolínica [eluida com MeOH/H2O (9:1); CCF: positivo no reagente de Dragendorff (Rf 0,5; sistema de eluição CHCl3:MeOH:H2O (6,5:5,0:1,0); PF acima de 280ºC; IV: 3451, 2922, 1655, 1154 cm-1].
RESULTADOS:
Os dados de RMN da mistura alcaloídica revelaram a presença dos alcalóides magnoflorina [H8[6,94 d (J=8,0 Hz)]; H9[6,83 d (J=9,0 Hz)]; H3[6,58 s]; H6a[3,77 t largo (J=9,8 Hz)], H5(2,29- 3,33 m); H7e(2,82 m); H4e(2,55 d largo); H7a(2,41 t largo); OH (9,34 s); OCH3- C2 (3,90 s); OCH3- C10 (3,89 s); N+-CH3 B (3,44 s); N+-CH3 A (3,08 s)] e N,N,dimetil-lindicarpina [H8(7,31 d); H9(7,24 d); H3(6,83 s); H5e(4,10 m); H7(3,66 m); H6a(3,68 m); H5a(2,85-2,83 m); H4(2,85-2,83 m); OH (9,51 s); OCH3 (3,90 s); OCH3 (3,89 s); N+-CH3 A (3,26 s); N+-CH3 B (3,44 s)]. Camudongos foram pré-tratados (v.o) [veículo, EA(0,1, 0,3 e 1g/kg), F3(3, 10 30mg/kg) e indometacina(10mg/kg)] e injetados com ácido acético (1,2%;100mL/10g,i.p.). EA reduziu as contorções [34% (40,2±3,9), 46% (33,3±5,3), 69%(19,1±6,8) (veículo 61±5,8)] com DI50 de 305,9mg/kg. F3 produziu inibições [31%(30,7±3,7), 49%(22,8±6,5), 62%(16,8±5,4)] (veículo 44,5±6,3, DI50 13,9mg/kg). As contorções foram reduzidas [4,5±1,4 (controle 42,3±5,1)] com o opióide fentanil (100g/kg). Administração de naloxona, bloqueou o efeito antinociceptivo deste agonista opióide (42,8±4,3). Resultado semelhante foi evidenciado com F3 (30mg/kg, p.o.) cuja efetividade (22,9±3,4) foi inibida através do tratamento prévio com naloxona (42,7±4,8).
CONCLUSÃO:
A ocorrência dos alcalóides quaternários magnoflorina e N,N-dimetil-lindicarpina, presentes nas cascas de Croton cajucara, pode sugerir a correlação de certas propriedades farmacológicas desta espécie com tais compostos. Estes alcalóides isoquinolínicos foram isolados da fração polar [eluída com MeOH/H2O (9:1)] denominada de F3, obtida de um extrato hidroalcoólico das cascas deste Croton. A co-ocorrência do aminoácido N-metil-tirosina (também isolado desta reunião de frações polares) e dos alcalóides quaternários magnoflorina e N,N-dimetil-lindcarpina, presentes nas cascas do Croton cajucara indica que, nesta espécie, o aminoácido deve estar no ínicio da rota biossintética que leva ao alcalóide. Estes alcalóides foram também, obtidos da fração polar [eluída com MeOH/H2O (9:1)] denominada de F3 obtida de um extrato hidroalcoólico das cascas deste Croton. EA e F3 no teste das contorções abdominais revelaram potente atividade antinociceptiva. Os resultados farmacológicos eficazes sugerem a presença dos alcalóides magnoflorina e N,N-dimetil-lindcarpina no extrato EA, bem como na fração F3. A potente atividade antinociceptiva, evidenciada no teste das contorções abdominais, podem envolver a participação do sistema opióidérgico.
Palavras-chave: Croton cajucara, Alcalóides, Atividade antinociceptiva.