62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 3. Projeto de Arquitetura e Urbanismo
CONSTRUINDO NOSSO ESPAÇO: PESQUISA PARTICIPANTE E PROJETO DE UM ESPAÇO CULTURAL NO BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO - NATAL RN
Cíntia Camila Liberalino 1
Gleice Azambuja Elali 2
1. Mestranda em Psicologia Ambiental / UFRN
2. Profa. Dra. / Orientadora - Depto. de Arquitetura / UFRN
INTRODUÇÃO:
Este trabalho corresponde a uma parte do meu Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, no qual desenvolvi uma pesquisa participante com jovens da comunidade de Felipe Camarão, bairro da Zona Oeste de Natal RN, seguida de projeto arquitetônico de um Espaço Cultural, baseado nos dados obtidos. Desta maneira, o Espaço Kurumí configura-se como a idealização de um espaço físico e simbólico, representante de uma das estratégias de combate aos problemas enfrentados pelos jovens de periferia por meio de um trabalho de inclusão social. A idealização deste trabalho partiu da minha afinidade com o tema, aliada ao desejo de finalizar a trajetória da minha graduação realizando um trabalho de relevância social. Além disso, o trabalho se justifica pela carência cultural que a cidade ainda apresenta, contrapondo-se a demanda de jovens existentes na Zona Oeste de Natal com grande potencial artístico. A construção coletiva de um ideal comum foi uma experiência enriquecedora. Nela trocamos nossas idéias e afetos, contribuindo para a busca constante da realização dos nossos sonhos com perseverança e respeito entre as diversidades.
METODOLOGIA:
A primeira etapa de pesquisa correspondeu à busca de referências sobre juventude, cultura e inclusão social, ao mesmo tempo em que mobilizei a comunidade para a realização do trabalho. Em seguida realizei oficinas com os jovens envolvidos em grupos de cultura, no caso crianças e adolescentes participantes do projeto Conexão Felipe Camarão, seguindo orientações da metodologia de Sanoff, que alia o design e o planejamento à participação comunitária. Nesta etapa os jovens trabalharam com brinquedos, revistas, barbantes, fotografias, canetas hidrográficas, entre outros materiais que estimularam a participação nas atividades em questão. As oficinas aconteceram em três manhãs, no ponto de cultura do projeto, elaborando junto a mim o projeto arquitetônico do Espaço Kurumí, desde o programa de necessidades até à aparência estética desejada para a edificação. A terceira etapa correspondeu ao levantamento do terreno escolhido pelos jovens, seguido da sistematização de todos os dados obtidos nos estudos de referência sobre projetos de espaços culturais, nas oficinas e no estudo sobre os condicionantes projetuais, para que fosse dado início a quarta e última etapa de elaboração da proposta arquitetônica, cujo processo conceptivo seguiu indicações de autores como Mahfuz, Silva e Neves.
RESULTADOS:
Esta pesquisa participante deu subsídios para a elaboração de uma proposta arquitetônica de um espaço dedicado à expressão e desenvolvimento da cultura dos jovens da Zona Oeste de Natal RN. Durante três manhãs pude traçar o perfil dos usuários do projeto, e com eles construímos o programa de necessidades, definimos o terreno e trabalhamos a setorização dos ambientes (organogramas funcionais). Por fim, eles apontaram as preferências visuais que o Espaço Kurumí deveria assumir. Todos esses resultados foram obtidos por meio de diversas dinâmicas retiradas da metodologia de Henry Sanoff, de maneira que o projeto do espaço cultural resume os sonhos e ideais das crianças e adolescentes de Felipe Camarão aliados à técnica aprendida no Curso de Arquitetura e Urbanismo. O equipamento de 4.368 m² de área construída foi implantado em um terreno de 12.028 m², de formato em "L" e topografia acidentada. O conjunto é formado por três blocos unificados pelas cores, formas, pórticos e elementos como esquadrias e coberturas, comuns aos três edifícios, definindo uma proposta de caráter lúdico e partido contemporâneo.
CONCLUSÃO:
O Espaço Kurumí se apresenta como uma proposta arquitetônica e simbólica que congrega as manifestações populares da comunidade, levando em consideração suas necessidades, anseios e preocupações estéticas. Os estudos de referência foram essenciais para a contribuição estética e funcional do Espaço Kurumí, por meio de exemplos de propostas de arquitetura significativas para áreas periféricas e muitas vezes marginalizadas da nossa sociedade, permitindo, por outro lado, a reflexão sobre o preconceito de que na periferia só deve existir "arquitetura pobre". Mostra, ao mesmo tempo, que esse tipo de equipamento pode se transformar em referência arquitetônica e urbana, sendo incorporada à identidade da comunidade. As oficinas se tornaram uma experiência inesquecível, da qual recolhi bons frutos, materializados na proposta arquitetônica propriamente dita. A proposta arquitetônica além de traduzir a idealização de um espaço construído coletivamente, aliando-se aos condicionantes legais e ambientais, destaca-se pela integração de, no mínimo, três aspectos: com a paisagem do entorno, entre os setores e ambientes, e na acomodação dos volumes à topografia.
Palavras-chave: Espaço Cultural, Inclusão Social, Pesquisa Participante.