62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
DIACRONIA E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: A EXPRESSÃO DO PASSADO IMPERFECTIVO NA OBRA DE DUARTE GALVÃO
Eliana dos Santos Silva de Carvalho 1
Raquel Meister Ko. Freitag 1
1. COPES/UFS/PICVol
INTRODUÇÃO:

Essa pesquisa aborda a variação entre a forma de pretérito imperfeito do indicativo e a forma perifrástica na expressão do passado imperfectivo no período arcaico do português. No português falado atual, dispomos de duas formas verbais do português falado para expressar o valor de passado imperfectivo: a forma de pretérito imperfeito do indicativo (IMP) "... e mais seguro sua tenção, e fadiga, que onde se TRABALHAVÃO de entrar pelo muro..." (GALVÃO, p. 39) e a forma perifrástica, composta por estarIMP + Vndo (PPROG) "... e sobre esto vendo D. Eguas Moniz Ayo do Principe ho grande periguo em que seu Senhor (ESTAVA) VESTINDO sua capa pelo trajo..." ( p.11), aludem à mesma função semântico-discursiva, que é a de passado imperfectivo, caracterizando-se pelas seguintes propriedades: é precedente ao momento da enunciação; é concomitante a outra situação que se torna seu ponto de referência; e apresenta-se em curso em relação ao ponto de referência passado (FREITAG, 2007). Assim, temos como objetivo analisar a Chronica delrey D. Affonso Henriques (1726), de Duarte Galvão, em busca de contextos de ocorrência de passado imperfectivo, que é codificado por IMP e PPROG, assim como observar qual dessas formas é mais recorrente na função no português arcaico.

METODOLOGIA:
Para o estudo da variação linguística entre as formas IMP e PPROG na expressão de passado imperfectivo tomou-se como corpus de análise a "Crhônica DelRey D. Affonso Henriques", (1726) escrita por Duarte Galvão, retirada do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, corpus eletrônico anotado, composto de textos em português escritos por autores nascidos entre 1435 e 1845 e disponível em: http://www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/index.html. Após leitura minuciosa da crônica, procedeu-se à coleta e seleção dos dados relacionados à expressão do valor semântico-discursivo de passado imperfectivo. As formas verbais IMP e PPROG foram categorizadas de acordo com as variáveis linguísticas: tipo de verbo, extensão de situação, tipo de discurso e tipo de aspecto e submetemos os dados à análise estatística com o programa GOLDVARB X (2005).
RESULTADOS:
No estudo das formas IMP e PPROG expressando passado imperfectivo na Crhônica DelRey D. Affonso Henriques, observa-se que há um predomínio do uso da forma de IMP em todas as categorias linguísticas analisadas. As constatações da presente pesquisa, ratificam resultados delineados por estudos sincrônicos, tal qual o de Freitag (2007), que verificou que IMP é a forma mais recorrente , dada a variedade de funções que exerce. Das 224 ocorrências de passado imperfectivo expressas por IMP e PPROG, a forma IMP computa 76%. Quanto ao tipo semântico-cognitivo do verbo, a forma IMP é predominante em verbos que desempenham atividades cognitivas (difuso) e físicas (instância), com percentuais de ocorrência da ordem de 95%, 100%, respectivamente. O predomínio de IMP também aparece no tipo de discurso, sendo sua ocorrência da ordem de 74% no discurso direto, e de 93% no discurso indireto; na citação, sua ocorrência é categórica. Quanto ao tipo de aspecto, constatou-se que na expressão do aspecto contínuo as formas IMP e PPROG se encontram em patamares próximos, com leve predominância da forma IMP. No que concerne à extensão da situação, notou-se que a forma de IMP também predominou em relação à forma perifrástica em todas as possibilidades para extensão de intervalo de tempo.
CONCLUSÃO:
Com a análise quantitativa das formas (IMP e PPROG), na expressão do passado imperfectivo, constatou-se o predomínio da forma de pretérito imperfeito do indicativo para expressar passado imperfectivo no português arcaico. Entre o português arcaico e o português atual, há o predomínio da forma de pretérito imperfeito na expressão de passado imperfectivo. Essa constatação se dá mediante a observação de trabalhos sincrônicos, como por exemplo, o de Freitag (2007) a qual analisou as formas IMP e PPROG expressando passado imperfectivo no português na fala de Florianópolis. Portanto, mediante tais constatações observou-se que falantes do português sejam do período arcaico ou do período atual usam mais a forma de IMP para expressar passado imperfectivo, embora ambas as formas atuem como variantes de uma mesma variável. Isso significa que estamos diante de uma variação estável na língua portuguesa.
Instituição de Fomento: Universidade Federal de Sergipe - UFS
Palavras-chave: Variação, Mudança, Passado imperfectivo.