62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 2. Analise Toxicológica
Avaliação da toxicidade ambiental de resíduos de medicamentos: Efeito hepatotóxico de ibuprofeno como contaminante em água potável.
Camila Maria Batista da Cruz 1
Allan Fernando Giovanini 2
Graziela Sponchiado 3
André Alex Antunes 4
Cíntia Mara Ribas de Oliveira 5
1. Depto. de Ciências Biológicas e Saúde (NCBS), Graduação em Farmácia, UP
2. Prof. Dr./Co-Orientador, NCBS, Docente dos cursos de Graduação e Mestrado, UP
3. NCBS, Universidade Positivo/UP
4. NCBS, Universidade Positivo/UP
5. Profª Drª/Orientadora, NBCS, Docente dos cursos de Graduação e Mestrado, UP
INTRODUÇÃO:

Em meio a diversos temas, a consequência da exposição ambiental a medicamentos ganha destaque no cenário científico, e tais substâncias tem sido consideradas como poluentes emergentes.

A classe terapêutica dos antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) é largamente consumida devido às suas propriedades analgésicas, anti-piréticas e antiinflamatórias. Seu amplo emprego no tratamento terapêutico pode resultar na presença de resíduos desses compostos e de seus metabólitos no ambiente.(1) São escassas as informações sobre o risco de exposição ambiental a estes fármacos em baixas concentrações.(1,2)  Alguns estudos com peixes e cnidários indicam potencial para toxicidade em concentrações da ordem de µg/L, visto que AINEs, como ibuprofeno, não possuem ação seletiva para cicloxigenase especificas.(1,2,3) Pouco se sabe sobre a indução de possíveis efeitos hepatotóxicos em mamíferos por exposição ambiental a esta classe terapêutica.

Nesse contexto, é crescente a preocupação com a exposição prolongada destes organismos a esses resíduos na faixa de µg/L a ng/L(1,2).

O presente trabalho visou à avaliação histopatológica hepática em Rattus norvegicus frente à exposição crônica a Ibuprofeno (100 ng/L e 300 ng/L).

METODOLOGIA:

2.1. Animais

Foram utilizados 30 ratos machos, Rattus norvegicus variedade Wistar, com 120 dias de vida, criados no biotério da Universidade Positivo (UP), alimentados com ração comercial e mantidos individualmente em caixas de polipropileno sob condições controladas de temperatura (22 ± 2oC), umidade (50 ± 20%) e luminosidade (ciclo claro/escuro de 12 h), aprovado pelo Comitê de Ética, protocolo n° 206/2007, UP.

2.2 Tratamento, Histopatologia e Análise Estatística

O ibuprofeno dissolvido em água (veículo) foi ofertado via ad libitum por 29 dias, conforme as concentrações: 0 (controle), 100 e 300 ng/L, sendo registrado diariamente consumo de ração e peso.

Após eutanásia do animal em câmera de gás, o fígado foi retirado e fixado em solução de formalina tamponada 10%. Em seguida, foi desidratado com álcool, formalina a 4%, xilol PA, emblocado em parafina, cortado em micrótomo e corado com Hematoxilina/Eosina.

As lâminas foram analisadas em microscópio óptico Zeiss modelo Axiostar, acoplado a sistema de captura de imagem com câmera JVC modelo TK-C720U.

Os dados foram analisados quanto à normalidade (Kolmozoeov-Smirnov) e diferenças estatísticas (teste T), através do software SPSS Windows versão 12, considerando-se alterações valores de p ≤ 0,05 em relação ao grupo controle.

RESULTADOS:

Os animais tratados com ibuprofeno 100 ng/L apresentaram maior ingestão de alimento em relação ao controle (p = 0,012), sem influenciar, no entanto, na massa corpórea quando comparado ao controle (p = 0,051), resultado não observado para o grupo tratado com ibuprofeno 300 ng/L.

Ao comparar com relato de redução do apetite induzida por AINE, mas em espécie, concentração e tempo de exposição diferente, há indicios de influência das condições de exposição1.

A respeito de lesões encontradas neste trabalho, destacam-se a lesão degenerativa leve no grupo 300 ng/L (p = 0,008) e moderada nos grupos tratados com 100 e 300 ng/L em relação ao controle (p = 0,037 e p = 0,003; respectivamente), demonstrando possível situação de efeito acumulativo da droga.

Foram detectadas necroses de nível leve (p = 0,001 e p = 0,037) a intenso (p = 0,037) em ambos os grupos tratados em relação ao controle, alterações estas já relatadas para outra espécie(2).

Foi encontrada intensa vasculite hemorrágica no grupo 100 ng/L (p = 0,003) e perivasculite não hemorrágica leve no grupo 300 ng/L (p = 0,001) em relação ao grupo controle.

Essas lesões podem estar relacionadas a diferentes mecanismos, entre eles o estresse celular ou falha na bomba Na+/K+ATPase, já descritas em literatura (2,3).

CONCLUSÃO:

Evidenciou-se, pelo presente estudo, a potencialidade de efeitos hepatotóxicos do ibuprofeno a 100 e 300 ng/L sobre o modelo animal testado, manifestados em alterações relativas à vascularização do tecido.

.

REFERÊNCIAS

1.   Pascoe D, Karntanut W, Muuller CT. Chemosphere. 2003; 51: 521-8

2.   Triebskorn R, Casper H, Heyd A, Eikemper R, Köhler H-R, Schwaiger J. Aquatic Toxicology. 2004; 68: 151-66

3.   Gravel A, Wilson JM. Comparative Biochemistry And Physiology. 2009; 149 (C): 481-90.

Instituição de Fomento: Universidade Positivo
Palavras-chave: Ibuprofeno, Fígado, Meio ambiente.