62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
SEM TEMPO DE SER CRIANÇA: IMPLICAÇÕES SOBRE O TEMPO NA FORMAÇÃO DE CRIANÇAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃ FÍSICA
Andrize Ramires Costa 1
Soraya Corrêa Domingues 1
Elenor Kunz 1
1. Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC
INTRODUÇÃO:
Os estudos, que de alguma forma se relacionam à criança, muitas vezes se tornam limitados por primeiramente não considerar a criança como ponto de partida de suas investigações. Compreender o que é uma criança é fundamental para posteriormente pensar o que ela precisa. Com base neste princípio, é possível pensar uma educação que venha atender aos desejos e necessidades da criança e ao mesmo tempo considerar as características atuais da nossa sociedade. Observa-se que não estaria principalmente na criança a função de se adaptar às características da escola e a seus contornos, pelo contrário, seria justamente toda a conjuntura educacional que se organizaria em benefício primeiro dela. Considerando a forma peculiar como a criança se percebe e percebe o mundo, um dos assuntos que suscita ser refletido no âmbito do ensino, principalmente no que diz respeito às crianças pequenas, quando vemos um desejo de pais e professores cada vez maior de potencializar capacidades na criança para que esta possa ser futuramente um adulto bem sucedido no mercado de trabalho, é justamente o Tempo. Querer tornar a criança um adulto de maneira cada vez mais precoce, é diminuir o seu tempo de ser criança.
METODOLOGIA:
A metodologia adotada por esta pesquisa é qualitativa e social. Através da comparação, avaliação e análise dos dados coletados na prática pedagógica. É uma pesquisa bibliográfica, onde organizamos a pesquisa para compreender a realidade evidenciando os aspectos do desenvolvimento humano, especialmente da criança. Com isso essa pesquisa identifica-se com as chamadas fenomenológicas, pois buscam a compreensão da "coisa em si" percebendo a aparência e a essência pela percepção imediata (Kunz, 2007). O conhecimento sensível que valoriza a intenção e interpretação dos dados como possibilidades do ato de pesquisar. Ao entrar no campo da Educação Infantil, isso significa compreender que a vida infantil se constrói no mundo e compartilha com toda a sua complexidade social. Assim, afirmamos que entender o mundo da criança é também perceber que o fascínio dos homens por poder, tornou-se algo automático, incontrolável e até cego como diz Ferry (2007). As vontades individuais são subjugadas as coletivas e fomentadas pela Ciência e pela ideologia de um Capitalismo Globalizado.
RESULTADOS:
Em algumas perspectivas, tempo e espaço caminham lado a lado, dentro das creches ou instituições equivalentes, esta relação de complementaridade se torna mais evidente. Neste sentido, além do espaço não ser suficiente para cada criança poder se desenvolver plenamente, o tempo também é um elemento que precisa ser repensado. Quando não se tem mais tempo para brincar, junto com a ausência de tempo, perde-se a essência do que é ser criança, pois na ação de brincar, criança e brincadeira se entrelaçam mutuamente. Semelhante com o que acontece com a diminuição dos espaços nas ruas ou nas próprias instituições de ensino, o tempo também parece diminuir e tornar-se escasso, um produto de constante controle. Impera-se a velocidade no tempo, tudo deve ser feito na mais alta velocidade para que o tempo seja suficiente. Com tudo, mesmo com um "apressamento" em tudo o que se faz, ou seja, tudo precisa ser feito com muita rapidez, o tempo ainda continua a faltar. Neste sentido, se já não existe mais os espaços nas ruas para as crianças brincarem de bola, de taco, de esconde-esconde, em função das transformações no trânsito e nas estruturas arquitetônicas, também já não existe mais o tempo para que estas vivências possam se concretizar. Tempo e espaço parecem desaparecer.
CONCLUSÃO:
Ao falar das relações do tempo e escola, não poderia deixar de mencionar que a escola deve ser percebida pela criança como um ambiente agradável e prazeroso, uma vez que passam considerável tempo de suas vidas envolvidas em atividades dentro de seus contornos. Para Oaklander (1980, pg. 228) parece que temos necessidade de forçar o desenvolvimento das aptidões de leitura, escrita e aritmética, mas prestamos pouca atenção ao fato de que, a menos que passemos a atender as necessidades psicológicas e emocionais das crianças, estamos ajudando a criar e manter uma sociedade que não valoriza as pessoas enquanto seres humanos emancipados. Uma educação que se preocupa demasiadamente com o produto das atividades e com futuro é uma educação que não enxerga os medos, anseios e desejos manifestados pelo ser humano e nem reconhece que este é, o presente de todo o conjunto de suas vivências e experiências. Neste sentido, a educação física não valoriza as pessoas num agir descomprometido pedagogicamente, que enfraquece e dessensibiliza o emocional-afetivo e que está seriamente sujeito a formar cidadãos que apresentam dificuldades para conhecer os outros, o mundo e, principalmente, a si próprio.
Palavras-chave: tempo, criança, Educação Física.