62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
A ABORDAGEM DO GÊNERO CARTA PESSOAL NO LIVRO DIDÁTICO: um problema de adequação
Vanessa da Conceição 1
Juliete Guedes da Silva 1
Leandro Marcelo Cassimiro das Chagas 1
Valdison Ribeiro da Silva 1
William Brenno dos Santos Oliveira 1
Maria da Penha Casado Alves 2
1. Depto. de Letras - UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Letras - UFRN
INTRODUÇÃO:

Apresentamos, neste trabalho, as principais dificuldades e os maiores entraves que os alunos enfrentam, quando em situação de produção textual, proposta pelo professor em sala de aula, pretendendo reforçar a importância e a necessidade da escrita e reescrita nas vidas dos discentes, norteando ações e orientando propostas que expandam seus domínios de leitura e escrita, ampliando suas competências linguístico-textuais, sabendo que o processo de escrita e reescrita é um continuado complexo que exige muito esforço e empenho por parte dos envolvidos, haja vista que para ser um escritor e um leitor proficiente são necessárias as práticas de escrita/reescrita e leitura/releitura.

Partindo dessas orientações, na condição de bolsistas PIBID do subprojeto de Língua Portuguesa, focamos nossa análise na produção e elaboração de cartas pessoais, a partir de duas propostas diferentes, voltadas a alunos do Ensino Médio, das quais, uma apontava para uma cena enunciativa criada e a outra não, o que exigia dos discentes uma postura diferenciada diante das duas elaborações.

Essa pesquisa se enquadra na área de Linguística Aplicada, sobretudo naquela de fundamentação sócio-histórica.
METODOLOGIA:

O trabalho com o gênero carta pessoal foi desenvolvido em sala de aula com alunos da 1ª série do Ensino Médio da Escola Estadual Prof. José Fernandes Machado, situada no bairro de Ponta Negra, na cidade de Natal/RN, sob orientação dos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e do professor supervisor.

 O gênero em discussão constava como sugestão do livro didático, Português: Linguagem (2005) de Cereja e Magalhães, adotado pela escola e foi exposto, a princípio pelo professor, que solicitou a produção de uma carta pessoal, a partir de uma proposta apresentada nesse mesmo livro, a qual consistia em uma carta-resposta a ser enviada por um estudante brasileiro que se encontrava em Londres, realizando intercâmbio, a sua mãe que estava no Brasil. O mesmo professor, em outra turma, também solicitou a produção de uma carta pessoal, entretanto, dessa vez, com uma temática livre, a qual poderia ser destinada a qualquer pessoa real ou imaginária.

Num momento posterior, passamos à fase de análises e orientações do processo de reescrita, feitas tanto individualmente quanto em grupo. No processo de reescrita, muitos alunos chegavam a produzir até quatro versões para alcançar um nível satisfatório.
RESULTADOS:

No que diz respeito à produção do gênero carta pessoal que partiu da proposta apresentada pelo livro didático, percebemos que os alunos não conseguiram atender as expectativas desta, pois estava distante de seus contextos sociais, já que não conseguiram se colocar na situação de um aluno brasileiro, realizando um intercâmbio em Londres.  Esse distanciamento pôde ser constatado a partir da recorrência de poucas informações descritivas, ou, até mesmo, o desvio da intenção comunicativa, como casos em que a ação do intercâmbio era trocada por atividades de cunho artístico, por exemplo, a música.

Já quanto às cartas pessoais que tiveram a temática livre, notamos um maior desempenho no que tange à produção de tal gênero, uma vez que os alunos tinham condições de criar qualquer situação, escolher temáticas sobre as quais tivessem mais domínio, bem como eleger seu(s) interlocutor(es). Isso pôde ser verificado, por exemplo, nas cartas em que abordavam questões amorosas, destinadas a seus amantes, ou cartas que tratavam de assuntos cotidianos, como games, festas e família, destinadas a amigos e familiares.
CONCLUSÃO:

O trabalho com o gênero carta pessoal foi, no geral, de grande relevância no nosso processo de iniciação à docência. Passar por um momento de dificuldade diante da limitação da proposta do livro didático nos fez refletir sobre a nossa prática docente. Essas reflexões giravam principalmente em torno da utilização dessa ferramenta de trabalho do professor que é o livro didático, uma vez que sentimos a necessidade de saber empregar melhor suas propostas em sala de aula, atentando para uma adaptação ao contexto sociocultural de nossos alunos às questões que o livro propõe antes de simplesmente aplicá-las sem nenhuma preocupação.

O fato de os alunos desenvolverem melhor sua escrita em uma carta pessoal com o tema livre vem comprovar, dessa forma, que uma produção que se aproxima da realidade do autor do texto facilita o desenvolvimento do tema em questão.

Repensar a nossa atuação nesse momento nos fez refletir também com relação à rotina, encontrada geralmente nas escolas públicas, que diz respeito a trabalhar somente com o livro didático.

Instituição de Fomento: MEC/CAPES/REUNI
Palavras-chave: Ensino , Gênero, Carta pessoal.